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Artigos-->Desinformação -- 16/09/2003 - 11:39 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"Desinformação



José Osvaldo de Meira Penna (*)



O controle da opinião pública através da desinformação está atingindo níveis insuportáveis neste últimos tempos. Sem partilhar da tese de meu amigo Olavo de Carvalho sobre a existência de uma "conspiração", com um centro diretor em Moscou, tal como existia antes de 1989, confesso mais acreditar numa espécie de vírus da Síndrome da Deficiência Imunológica Adquirida que acorrenta as mentes suscetíveis, ignorantes ou ingênuas. Pode-se hoje falar num Carandiru encarcerando uma parcela considerável da opinião botocuda.



A transmissão da dezinformatsyia se faz de três maneiras diferentes:

1) de modo direto ou pela mentira;

2) pela ocultação da relevante notícia verdadeira; e

3) pela ambigüidade, a duplicidade ou o doubletalk.



Exemplo clássico da ocultação da verdade é o "esquecimento" do fuzilamento, em Barcelona, de milhares de anarquistas do Poum pelos comunistas, assim como de milhões de cidadãos soviéticos pela paranóia de Stalin, em 1937 - tudo afastado da atenção histórica graças a uma pintura que Picasso, oportunisticamente, denominou Guernica e foi solenemente pendurada no Museu do Prado para nos horrorizar com a morte de algumas centenas de bascos na guerra civil espanhola.



Silêncio com relação a fatos importantes é a celebração barulhenta do 11 de setembro, o aniversário da morte de Allende e o centenário do nascimento de Adorno, dois marxistas, pelo qual se procura ofuscar a lembrança do ataque terrorista a Nova York. Deixa-se ainda de mencionar que durante os 68 anos de existência da ONU só duas vezes o Conselho de Segurança (CS) determinou uma intervenção armada - a primeira em 1950, quando foi a Coréia do Sul invadida, não tendo ocorrido veto soviético pela ausência do delegado da URSS, o que tornou a decisão polêmica em termos da Carta; e a segunda na Guerra do Golfo de 1991.



Na crise de Kosovo em 1999, ao contrário, a intervenção da Otan contra a Sérvia se realizou não obstante o veto russo no CS. A ambigüidade ou doubletalk onusiano, de teor realmente genial, é ilustrada pelo texto do embaixador Sardenberg no Estadão de 24/8. Num parágrafo de lógica pesada, em 20 linhas, consegue nosso representante permanente em Nova York transmitir a suspeita de que a responsabilidade pela morte de Sergio Vieira de Mello cabe realmente aos americanos. "As trágicas conseqüências do atentado terrorista constituem inequívoco alerta para a precariedade da situação criada pela intervenção, realizada à margem do arcabouço legal e para o risco de envolver a organização em atividades associadas a uma situação de legitimidade questionável..."



Não havendo qualquer resolução do CS que proíba a intervenção no Iraque, a gente se pergunta qual o verdadeiro propósito de um diplomata de tão reconhecida inteligência e competência em agredir de forma quase caluniosa uma potência amiga da qual dependem nossas pretensões a um assento permanente no aludido conselho.



Outra amostra de pérfida ambigüidade é a página no Jornal do Brasil de 4 do corrente, tendo como título "Militares vão investigar bioterror". O nome do suspeito, Hossein El-Nashaar, deixa inicialmente a impressão de que se trata de um fundamentalista islâmico. O noticiário, porém, envolve a embaixadora americana Donna Hrinak, que teria sido "convocada" pela Câmara, como se culpada de algum crime. Desde quando podem os deputados brasileiros "convocar" um embaixador estrangeiro?



Toda a matéria procura simplesmente atribuir aos americanos o desígnio perverso de arruinar a agricultura da soja, a fim de proteger ilicitamente seu próprio cultivo. O muçulmano se transforma em agente do imperialismo ianque, empenhado em impor sobre todo o globo sua fórmula "neoliberal"...



Evidentemente, a acusação que foram os americanos que fizeram explodir o foguete na base da Alcântara - exemplo do primeiro tipo de desinformação - é demasiadamente crua e primária para ser aceita. Não tem o refinamento da hipótese de que foi a própria CIA que montou o ataque às Torres Gêmeas para justificar a conquista do petróleo do Iraque, em prejuízo das ambições da Braspetro no mesmo sentido.



Outra curiosa fonte de desinformação, destinada a dar a impressão de um permanente contencioso com os EUA, é de origem econômica e visa, de forma primitiva e quase infantil, a transformar a Alca numa conspiração "imperialista", visando a empobrecer o país.



Ora, se exportamos para os EUA, ano passado, US$ 15 bilhões, um quarto de nossas vendas, e importamos US$ 10 bilhões, com saldo de US$ 5 bilhões a nosso favor, resulta que os EUA são nosso principal freguês, o que convenceria mesmo o mais tapado carcamano do armazém da esquina do valor do livre comércio com a América. Mas os americanos, como afirmou o exmo. sr. presidente da República, defendem "seus interesses, seus interesses, seus interesses". É nós? Não defendemos os nossos interesses, os nossos interesses, os nossos interesses? Há algum mal nisso?



(*) J. O. de Meira Penna é embaixador, escritor e membro da Sociedade do Mont Pèlerin www.meirapenna.org



Obs.: Publicado no Jornal da Tarde, http://www.jt.estadao.com.br/editorias/03/09/15/artigos002.html







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