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Artigos-->Artigos escondidos - uma resenha -- 14/08/2003 - 17:40 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"O abismo está perto



Marcelo Pimentel



Ex-ministro do Trabalho, ex-ministro do Tribunal Superior do Trabalho(TST), advogado



Artigo publicado no ‘ESTADO DE MINAS’ em 11.08.2003



Nos dias que vamos vivendo, a cada hora parece que mais nos aproximamos da borda do abismo. A repercussão da inquietação social não é privilégio dos menos favorecidos, mas atinge exatamente aqueles que mais responsabilidades têm com a sociedade, pois são os que empregam e produzem para sustentar a máquina do estado, isto é, aqueles que se responsabilizam pela normalidade institucional política. Vamos nos aproximando do percentual fatídico de uma invasão, obstaculização de estradas ou assalto a caminhões de carga por dia, pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), grupamento que se intitula rural nas que está incorporando gente oriunda das cidades e que não possuem emprego, longe de qualquer atividade agrícola, presente, passada ou futura.



Esse grupo de sem emprego está engrossando o movimento, que é também integrado por outros sem ocupação, mas aventureiros que não se fixam nos assentamentos quando recebem terras e passam adiante o que lhe foi destinado, até a próxima invasão, mediante qualquer vantagem que se lhes ofereça. Com isto chegaremos à conclusão de que, na falta de um cadastramento rigoroso dos verdadeiros trabalhadores rurais que merecem receber um quinhão de terra, que efetiva- mente trabalharão, nessa movimentação de aproveitadores, jamais se conseguirá normalizar ou realizar o que virá a ser uma reforma agrária.



Decorridos sete meses desde a posse, perguntar-se-á com inteira procedência o que fez este governo para resolver o gravíssimo assunto, que está nos levando para um abismo institucional, salvo um blablablá vazio e inconsistente a que se soma um bate cabeças entre os titulares desse ministério incipiente e vitaminado que sempre caminha para um assembleísmo: se há qualquer dificuldade, vamos criar uma comissão de representantes de todos os ramos que não entendem de nada para resolver um assunto de natureza eminente mente técnica?



Enquanto isto, as coisas vão empretecendo e o desequilíbrio social agora é mais grave, porque as leis não existem para rebitolar esse povo no caminho do respeito à Constituição. E o pior é que nele está metida a Pastoral da Terra, conivente com todas as violências que estão ocorrendo, principalmente no Nordeste, onde ela ainda tem influência, pois no Sul alguns milhares de pessoas já se somam aos quase 2 milhões de fiéis que a Igreja Católica perde, por ano. Religião não pode se misturar com política ou passeata.



Daí devem ser considerados, no momento, aspectos graves que estão caracterizando o MST: a) O movimento está infiltrado por gente que não tem qualquer vinculação rural; b) O grupo está tomando novos rumos, porque já está discriminando propriedades de políticos de oposição para invadi-las; c) Existe profusão de gente que recebeu lotes e já os transferiu e já estão participando de outras invasões, para usufruir de outras vantagens com a nova distribuição; d) Está aumentando progressivamente o número de violações à ordem 1egal e ao direito de propriedade, sem que haja correlação de continência por parte das autoridades constituídas; e) A inquietação da sociedade se agrava com a falta absoluta de autoridade do governo, que, neste ponto parece que não quer contrariar seu antigo e tradicional aliado; f) A categoria econômica contrária já co- meça a dar sinais de que pretende se defender, já que omissa a autoridade; e, finalmente, pergunta-se, até quando este governo vai deixar a ordem legal ao Deus dará e não reprimir as violações ao direito de propriedade, à tranqüilidade pública tão comum hoje, inclusive quanto ao direito de ir e vir da população, pelo bloqueio dos aliados.



Agora se diz que o MST pretende que o governo desaproprie tudo aquilo que, no Sul, vier a exceder a 700 hectares ou 3,5 mil na região amazônica. A vingar essa postulação esdrúxula para um país de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, a produção agrícola vai para o buraco e os sem-terra vão engrossar os com fome e o Fome Zero vai ser a raiz quadrada de zero. Quem vai produzir em minifúndios as milhões de toneladas que precisamos para sustentar a nação? Os sem-terra na base da enxada?



O abismo está se aproximando e a nação apreensiva não vê nada de novo no horizonte, para conter as violações legais, salvo as afirmações redundantes de que o governo vai apressar os assentamentos, eco daquilo que estamos ouvindo há anos e, que aos poucos vai se tornando cada dia mais distante da realidade, em razão da crescente agressividade do MST, cujo troar está sendo ouvido pela sociedade, mas que parece ainda não foi suficiente para acordar o governo, seu antigo aliado e, como tal, devedor de reverências com ou sem boné!



A reforma agrária é necessária. A pretensão de se obter meios para se sustentar a família através da produção é legítima; o direito de partilhar da imensidão de terras deste Brasil para produzir, todos desejam, mas, pelo que se vê e pelo que se lê, será este o objetivo do MST? A política econômica restritiva do governo, pior do que o malsinado período interminável da dupla FHC-Malan, está lançando o País na recessão e no caminho seguro da falência, com aumento crescente e incontido do desemprego, que alimenta os sem-terra, sem-teto, sem meio de vida e toda escória dos sem-honra, ladrões, traficantes, proxenetas, maconheiros, contra-bandistas, especuladores etc., lixo social que é alimentado pelo estado carente, empobrecldo, sem governo e demagógico. Até quando a passividade vai nos desgovernar, vendo o caos se aproximando? Os que obedecem à ordem legal não têm direito à proteção aos seus direitos? Movimentos sociais radicais não são contidos com discursos e processos que repetem apenas um filme que já não é nem reprise. A grande esperança de mudança vai-se esvaindo no horizonte, enquanto nos céus aparecem ruídos que não são os dos aviões de carreira!"



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"A incrível omelete de Lênin

(ou sobre como um navio alemão matou cem milhões de pessoas)



Por Lindolpho Cademartori

12/08/2003



“Lênin costumava dizer que “não é possível fazer omelete sem quebrar ovos”, mas desconheço se o bolchevique sabia que o mais corriqueiro expediente utilizado para se livrar de uma responsabilidade histórica diz respeito à contradição, à exposição exaustiva do absurdo e à transferência dos fracassos para forças externas. Os cem milhões de ovos necessários à gloriosa omelete leninista foram simbolicamente transferidos ao Goeben. Ou seja: é como se refestelar em consciência e transferir a indigestão a outra pessoa. Maldita receita.”



Eu já vi pessoas sustentarem os argumentos mais absurdos para justificar fatos históricos e seus cursos por vezes abruptos. Me recordo de um acadêmico empedernido, desfiando seus argumentos pueris e dizendo que a razão pela qual o Japão foi esmagado pelos Estados Unidos da América na Segunda Guerra Mundial reside em uma suposta “mudança equivocada de padrões estratégicos no Alto Comando nipônico” e a uma improvável “má distribuição da frota japonesa ao longo dos pontos vitais do Pacífico”, como se o fato de que a produção siderúrgica japonesa em 1941 ter sido de 7,5 milhões de toneladas, ao passo que a norte-americana era da ordem de 78,3 milhões de toneladas, não tivesse nenhuma influência (!) sobre o curso dos fatos que culminou na (óbvia) desgraça nipônica. Outro acadêmico, mui provavelmente o mais tosco wannabe de historiador militar vivo, saiu-se com a asneira de que o fator precípuo para o fracasso-relâmpago da França em 1940 derivava do “complexo de inferioridade e da consciência coletiva defensiva da sociedade francesa às vésperas da II Guerra Mundial”, e eu me perguntei se o infeliz já tinha sequer se dado ao trabalho de analisar um único mapa que seja daquele elefante branco patético que era a Linha Maginot, ou se ele tinha alguma idéia de que a França ensaiou uma emulação mal-feita de combate em 1940 usando as mesmas táticas e armas que havia usado em 1915. Da última vez que me recordo, um garoto embriagado e grande admirador de grupos musicais britânicos dos anos 80 afirmou que a banda The Smiths havia composto a canção “William, it was really nothing” com o propósito de consolar postumamente o Kaiser Guilherme II, em virtude da humilhação pública à qual o destemperado imperador alemão foi submetido após seu fracasso diplomático na crise marroquina de 1905. Segundo Pedro, os músicos do The Smiths entoavam a canção e diziam ao Kaiser “Guilherme, Guilherme, não foi mesmo nada...” . Se o leitor perguntar qual o sentido disso, devo dizer que restarei em dívida. Penso que Pedro, não obstante estar embriagado, encontrava-se também sob a influência de lisérgicos. Mas isso não vem ao caso.



Estava eu a pesquisar algumas análises acerca da obra Canhões de Agosto, de Barbara Tuchman, cujo fundamento argumentativo diz respeito às causas que fizeram a crise de julho de 1914 evoluir para a catarse bélica da I Guerra Mundial, quando me deparei com o então suspeito artigo de Marcelo Menezes Reis, intitulado As sutilezas não tão sutis do destino, em que o autor coroa sua explanação dizendo que mais de cem milhões de vidas foram ceifadas em função de um único navio de guerra: o cruzador de batalha alemão Goeben. Que esteja o leitor se perguntando como uma única belonave pode matar cem milhões de pessoas; às linhas que se seguem, procurarei expor, de forma crítica, as razões de Menezes Reis, bem como intercalarei algumas opiniões e argumentos extras.



Não convém a este artigo se estender em explicações detalhadas, e, assim sendo, devemos partir dos fatos de que o Kaiser Guilherme II era de uma estupidez assombrosa, a Weltpolitik guilhermina foi provavelmente a mais mal-calculada estratégia hegemônica desde as trapalhadas egocêntricas de Luís XIV, a corrida naval anglo-alemã sepultou de vez a política da “potência saciada” construída por Bismarck ao longo de vinte anos e que o Estado-Maior alemão deveria ter tido a sutil percepção de que os ingleses não iriam, em hipótese alguma, assistir de braços cruzados à expansão da Marinha alemã. Sem, claro, negligenciar o fato de que, às vésperas da I Guerra Mundial, o Império Otomano estava à frente da Áustria-Hungria no ritmo da decadência e da fragmentação. E lá vamos nós.



Para um Império de alicerces podres e em fragmentação acelerada, a defesa da integridade territorial contra inimigos externos é de importância fundamental. Almejando desestimular as aventuras russas no Mar Negro, os turcos encomendaram à Grã-Bretanha a construção de dois couraçados Dreadnought, a mais poderosa classe de belonaves então existente. Um dos couraçados já havia sido construído pelos britânicos para a Marinha do Brasil, mas em 1913 os brasileiros, já dispondo de dois couraçados de fabricação britânica Dreadnought, desistiram do terceiro navio – o mais poderoso Dreadnought até então construído, capaz de deslocar 27.500 toneladas e dispondo de catorze canhões de doze polegadas. Os britânicos então disponibilizaram a venda do colosso, que foi arrebatado pelos turcos, batizando-o de Sultan Osman I. Tendo já pago por dois couraçados Dreadnought, os turcos aguardavam a entrega das belonaves, quando, em julho de 1914, eclodiu a crise balcânica na Sérvia. Em uma manobra diplomática tacanha e vil, Londres suspendeu a entrega dos navios e enviou um cínico telegrama a Constantinopla (Istambul), dizendo “lamentar profundamente” as circunstâncias. Observe-se que os turcos já haviam pago pelos navios, sendo o governo do sultão obrigado a fazer subscrição popular para o levantamento de fundos destinados a pagar os couraçados. Os britânicos sequer mencionaram o reembolso da quantia paga pelos turcos, o que encerrou por lançar os turcos nas graças dos alemães.



Em contrapartida, os turcos se aliaram aos alemães, mas, em desacordo com o exigido por Berlim, não declararam guerra aos russos. Com um Plano Schlieffen pelo ralo e observando a bisonha incompetência militar dos austríacos, os alemães se engalfinhavam em uma guerra de duas frentes e se frustravam com a relativamente surpreendente capacidade de mobilização russa nos primeiros meses do conflito. Foi quando as belonaves alemãs Breslau e Goeben – esta última capaz de travar combate em pé de igualdade contra os Dreadnought britânicos – zarparam rumo a Constantinopla para intimidar os turcos. Às voltas com um impasse em que a irredutibilidade de posições acometia ambos os lados, os turcos propuseram aos alemães que cedessem os dois navios em troca da hostilidade turca para com a Rússia. Não dispondo de alternativas, os alemães assentiram e transferiram, nominalmente, o controle das belonaves ao governo turco. As tripulações passaram a usar uniformes turcos e tanto o Breslau quanto o Goeben hastearam a bandeira do Império Otomano. De facto, porém, Berlim mantinha a autoridade e o comando sobre a tripulação de ambos os navios. Como mesmo após a cessão dos navios os turcos hesitavam em declarar guerra aos russos, os alemães perderam a paciência: em 28 de outubro de 1914, Berlim deu ordens para que o Goeben e o Breslau bombardeassem portos russos no Mar Negro. Esvaídos sete dias, os russos declararam guerra aos turcos.



O que se seguiu é de amplo conhecimento: os russos, que já haviam sido bloqueados pelos alemães no Báltico, foram estrangulados pelos turcos no Mar Negro, e as importações sofreram uma redução da ordem de 95%. Tendo como dois únicos portos Arcangel (que durante o inverno era inoperante devido ao congelamento) e Vladivostok (a treze mil quilômetros de distância do front), o esforço de guerra russo foi esmagado, as linhas de suprimento navais foram completamente bloqueadas, o auxílio material britânico não alcançava as linhas de combate e o exército convulsionou, se convertendo em saco de pancadas para os alemães em Tannenberg e outras batalhas. As derrotas russas, somadas à inabilidade estratégica de Nicolau II – que não tinha um Ludendorff para conduzi-lo a alguns êxitos de escape – e à canalização militar dos parcos recursos materiais que o Império dos czares era capaz de produzir, engendrou parte do contexto propício à insurreição de fevereiro de 1917, à qual se seguiu a Revolução de Outubro e a ascensão da mais bárbara e rota forma de totalitarismo jamais contemplada. O Goeben havia sido bem-sucedido em suas missões de contenção de “furo de bloqueio” russo no Mar Negro, e isolou a Rússia de tal forma que proporcionou o “pano de fundo” contextual e a penúria material que desencadearam a Revolução.



Não tivesse o Goeben feito as vezes de guardião dos estreitos de Bósforos e Dardanelos, é bem provável que não tivéssemos condições favoráveis à sanha revolucionária na Rússia em 1917, que por seu turno não daria mote à ascensão de Hitler como o “Messias anti-bolchevique” na Alemanha de 1933; por conseguinte, não teríamos o recrudescimento da rivalidade eslavo-germânica, tributária dos nacionalismos, e, assim sendo, a II Guera Mundial não teria se demonstrado plausível. Tampouco teríamos a configuração de uma ordem bipolar após 1945 ou a Revolução Chinesa em 1949, a Guerra da Coréia em 1950-53, os processos de descolonização afro-asiáticos seriam ao menos retardados e a ascensão dos Estados Unidos como superpotência, caso se demonstrasse viável sem um conflito com as proporções do de 1939-1945, dar-se-ia de forma distinta e quiçá mais ponderada.



Mas a História, qual bem sabe-se, não tem Moral, e, se goza de um ethos, o mesmo é constituído por uma mescla dos caráteres de diversos povos e civilizações. Trata-se de uma heterogenia ética malévola, um relativismo torpe e flexível às manipulações oportunistas. Em dias correntes afigura-se cômodo instrumentalizar a barbárie alemã do III Reich – que provavelmente não teria existido sem a Revolução de 1917 – e emoldurá-la como o estado acabado do caráter nacional alemão, ocultando o fato de que a barbárie perpetrada por Stálin foi vastamente superior à lograda por Hitler e que o comunismo deu o ar de sua graça ao século XX como a mais pestilenta e odiosa ideologia de toda a História, responsável pela morte de mais de cem milhões de pessoas. Esquecemos, ainda, que a arrogância britânica em 1914 entregou o Império Otomano ao belprazer alemão, e que, caso Londres tivesse procedido de forma distinta, a guerra iniciada em agosto de 1914 não precisaria ter se extendido até 1918. E o mundo não teria o infortúnio genocida iniciado pelo bolchevismo e emulado pelo nacional-socialismo alemão. Quanto ao Brasil, não teríamos fleumas e seculares bolhas intelectuais esquerdistas pregando a sovietização do país, movimentos camponeses potencializados por postulados da guerrilha comunista, e, por fim, não teríamos o MST perpetrando deboches e escarrando na seriedade institucional do País. Mas esta é uma outra História. Por hora, irei engrossar o coro das massas medíocres, ignorar os pormenores históricos e as possibilidades distintas e me juntar à versão deturpada da História: a culpa é dos alemães, sempre dos malditos alemães! Pois, meus caros, que fazia Stálin para justificar suas insanidades?! Incriminava os alemães! Escamotear um fato histórico através de sutilezas e minúcias é de uma habilidade cabal, e, assim sendo, nada melhor do que um obscuro navio alemão para isentar Tio Josef & amigos da responsabilidade de cem milhões de vidas.



Ao termo, um espasmo: Lênin costumava dizer que “não é possível fazer omelete sem quebrar ovos”, mas desconheço se o bolchevique sabia que o mais corriqueiro expediente utilizado para se livrar de uma responsabilidade histórica diz respeito à contradição, à exposição exaustiva do absurdo e à transferência dos fracassos para forças externas. Os cem milhões de ovos necessários à gloriosa omelete leninista foram simbolicamente transferidos ao Goeben. Ou seja: é como se refestelar em consciência e transferir a indigestão a outra pessoa. Maldita receita."



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"Boletim Pastoral da Terra



Jul/Ago/Set/2002

Ano XXII – Nº 168



Dez conselhos para os militantes de esquerda



1. Mantenha viva a indignação



Verifique periodicamente se você é mesmo de esquerda. Adote o critério de Norberto Bobbio: a direita considera a desigualdade social tão natural quanto a diferença entre o dia e a noite. A esquerda encara-a como uma aberração a ser erradicada.



Cuidado: você pode estar contaminado pelo vírus social-democrata, cujos principais sintomas são usar métodos de direita para obter conquistas de esquerda e, em caso de conflito, desagradar aos pequenos para não ficar mal com os grandes.



2. A cabeça pensa onde os pés pisam



Não dá para ser de esquerda sem "sujar" os sapatos lá onde o povo vive, luta, sofre, alegra-se e celebra suas crenças e vitórias. Teoria sem prática é fazer o jogo da direita.



3. Não se envergonhe de acreditar no socialismo.



O escândalo da Inquisição não faz os cristãos abandonarem os valores e as propostas do Evangelho de Jesus Cristo. Do mesmo modo, o fracasso do socialismo no Leste europeu não deve induzi-lo a descartar o socialismo democrático e popular do horizonte da história humana.



O capitalismo, vigente há 200 anos, fracassou para a maioria da população mundial. Hoje, somos 6 bilhões de habitantes. Segundo o Banco Mundial, 2,8 bilhões sobrevivem com menos de US$ 2 por dia. E 1,2 bilhão, com menos de US$ 1 por dia. A globalização da miséria só não é maior graças ao socialismo chinês que, malgrado seus erros, assegura alimentação, saúde e educação a 1,2 bilhão de pessoas.



4. Seja crítico sem perder a autocrítica. Seja criativo também.



Muitos militantes de esquerda mudam de lado quando começam a catar piolho em cabeça de alfinete. Preteridos do poder, tornam-se amargos (azedos) e acusam os seus companheiros(as) de erros e vacilações. Como diz Jesus, vêem o cisco do olho do outro, mas não a trave no próprio olho (Mt 7,3). Nem se engajam para melhorar as coisas. Ficam como meros espectadores e juízes e, aos poucos, são cooptados pelo sistema.



Autocrítica não é só admitir os próprios erros. É admitir ser criticado pelos(as) companheiros(as).



5. Saiba a diferença entre militante e "militonto".



"Militonto" é aquele que se gaba de estar em tudo, participar de todos os eventos e movimentos, atuar em todas as frentes. Sua linguagem é repleta de chavões e os efeitos de sua ação são superficiais.

O militante aprofunda seus vínculos com o povo, estuda, reflete, medita; qualifica-se numa determinada forma e área de atuação ou atividade, valoriza os vínculos orgânicos e os projetos comunitários.



6. Seja rigoroso na ética da militância.



A esquerda age por princípios. A direita, por interesses. Um militante de esquerda pode perder tudo – a liberdade, o emprego, a vida. Menos a moral/ética. (Dizia o papai: uma pessoa vale pelo seu caráter de integridade). Ao desmoralizar-se, desmoraliza a causa que defende e encarna. Presta um inestimável serviço à direita.



Há pelegos disfarçados de militante de esquerda. É o sujeito que se engaja visando, em primeiro lugar, sua ascensão ao poder. Em nome de uma causa coletiva, busca primeiro seu interesse pessoal.



O verdadeiro militante – como Jesus, Gandhi, Che Guevara, Luther King ­ é um servidor, disposto a dar a própria vida para que outros tenham vida e liberdade efetiva. Não se sente humilhado por não estar no poder, ou orgulhoso ao estar. Ele não se confunde com a função que ocupa. Reconhece-se sempre "humus" – humilde.



7. Alimente-se na tradição da esquerda.



É preciso oração para cultivar a fé, carinho para nutrir o amor do casal, "voltar às fontes" para manter acesa a mística da militância. Conheça a história da esquerda, leia (auto)biografias, como o "Diário do Che na Bolívia", e romances como "A Mãe", de Gorki, ou "As Vinhas de Ira", de Steinbeck.



8. Prefira o risco de errar com os pobres a ter a pretensão de acertar sem eles.



Conviver com os pobres não é fácil. Primeiro, há a tendência de idealizá-los. Depois, descobre-se que entre eles há os mesmos vícios encontrados nas demais classes sociais. Eles não são melhores nem piores que os demais seres humanos. A diferença é que são pobres, ou seja, pessoas privadas injusta e involuntariamente dos bens essenciais à vida digna. Por isso, estamos ao lado deles. Por uma questão de justiça.



Um militante de esquerda jamais negocia os direitos dos pobres e sabe aprender com eles. Feliz de quem é bom aprendiz dos empobrecidos e excluídos.



9. Defenda sempre o oprimido, ainda que aparentemente ele não tenha razão.



São tantos os sofrimentos dos pobres do mundo que não se pode esperar deles atitudes que nem sempre aparecem na vida daqueles que tiveram uma educação refinada.



Em todos os setores da sociedade há corruptos/corruptores e bandidos. A diferença é que, na elite, a corrupção se faz com a proteção da lei e os bandidos são defendidos por mecanismos econômicos sofisticados, que permitem que um especulador leve uma nação inteira à penúria.



A vida de todos e de tudo é o dom maior de Deus. A existência da pobreza clama aos céus. Não espere jamais ser compreendido por quem favorece a opressão dos pobres.



10. Faça da oração um antídoto contra a alienação.



Orar é deixar-se questionar pelo Espírito de Deus e envolver-se no ruah (álito, respiro) que nos coloca como um elo vivo de uma corrente vida que é a teia da vida. Muitas vezes deixamos de rezar para não ouvir o apelo divino que exige a nossa conversão, isto é, a mudança de rumo na vida. Falamos como militantes e vivemos como burgueses, acomodados ou na cômoda posição de juízes de quem luta.



Orar é permitir que Deus subverta a nossa existência, ensinando-nos a amar assim como Jesus amava, libertadoramente.



Texto de Frei Betto

Com adendos de Frei Gilvander"



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“ESTADO DE DIREITO OU ESTADO DE ESQUERDA?



Carlos Reis

13/08/2003



Para mim tornou-se um exercício salutar todos dias ler a minha Zero Hora. Para quem não é do RS, a “minha Zero Hora” refere-se ao jornal Zero Hora, o maior do RS, pertencente a RBS (Rede Brasil Sul de Comunicações), afiliada à Rede Globo. Mas também se tornou um desafio assistir calado, todos os dias, o desfile do absurdo e da inconseqüência.



Esse jornal brinda-nos todos os dias com a diversidade e a pluralidade das opiniões. Nele circulam comunistas, neocomunistas, paleocomunistas, neoliberais, socialistas enrustidos, socialistas “voyeurs”, esquerdistas, neoesquerdistas, e muito poucos liberais e direitistas. Poucos não, quase nenhum! Isso não é culpa do jornal, é claro. Porque, que jornal ocuparia suas páginas com um ideário possuidor de uma linguagem já inacessível ao seu público leitor? Nenhum! Seria um tiro no pé! Ora, se a linguagem com a qual se expressa a direita não é mais entendida por 99% da população, é porque a direita, ela mesma, se reduziu a esse número e mais eu mesmo. Não há então direita, e muito menos extrema-direita.



Peraí, extrema-direita existe! Assim afirma a esquerda dominante. Assim afirma, por exemplo, Tarso Genro, em artigo de 13/08/2003, pg. 14, no mesmo jornal: Direita e Esquerda nas Reformas. Se o Secretário de Desenvolvimento Social e Econômico, um dos responsáveis pelo atual “espetáculo do crescimento”, diz que existe uma direita é porque ela deve existir.



Quem ela é, esse sim é o problema! O Brasil está tão à esquerda no espectro ideológico que qualquer coisa que se mova à direita de sua consciência socialista é da “direita” – e se incomodar muito, é porque é da “extrema-direita”, como o Enéas, o Bolsonaro, e os fazendeiros que ora lutam por suas propriedades. Vão levar chumbo!



E assim vamos nós, de editorial em editorial, viajando na maionese do “espetáculo do crescimento” do socialismo! Esse sim um espetáculo real, dolorosamente real.



Mas Zero Hora nos brindou hoje com outra pérola: a crença que ainda vivemos em um Estado de Direito. À mesma página, o editorialista, referindo-se ao confronto entre fazendeiros gaúchos e os comunistas do MST, advertiu que “aproxima-se o momento em que o império da lei e do direito será testado”. Como isso é possível? Então ele já não foi testado e perdeu, inúmeras vezes? João (quebra-quebra) Stédile está sendo processado, não por delito de opinião, mas por incitamento contra o próprio Estado de Direito? Quando integrantes do MST castram, furam os olhos e degolam fazendeiros e capatazes, queimam propriedades e matam animais, isso é um caso de polícia. Mas o Ministro da Justiça e o Secretário da Segurança e da Justiça do Rio Grande do Sul insistem em dizer que não. Então, se autoridades como essas não admitem enquadrar no Código Penal (nem falo da recente Constituição Federal em vigor) crimes bárbaros como esses, é porque o momento em que será testado o império da lei e do direito já passou, e esse Brasil imperial perdeu.



Não há nenhuma voz de bom senso (o título do Editorial)! O bom senso no Brasil foi falsificado e substituído pelo “espetáculo do crescimento” das invasões, do crime de homicídio qualificado, pelo desrespeito mais flagrante às leis e à Constituição Federal. Acreditar que a mediação da Justiça fez retornar o “bom senso” a um ambiente onde o Incra, crivado de MSTs, está investido da autoridade suspeitíssima de “vistoriar” a propriedade privada, beira à loucura e insulta a nossa inteligência. Isso assim seria mesmo que a questão fosse a “reforma agrária”, a solução do “conflito agrário”. Qual nada! Trata-se da ameaça à propriedade privada dos outros. Além disso, a Justiça desse país passou a dever demais ao executivo desde a questão da Reforma da Previdência; alguém pagará a conta, e não será o MST!



Esse Editorial e a “direita” imaginária do Tarso nasceram da mesma usina de ideologia que criou o “espetáculo do crescimento”! Depositar esperanças em fantasias perigosas como essas só não é mais temerário do que apostar no Grêmio para campeão brasileiro desse ano!



E, por fim, para quem acha que a dicotomia esquerda/direita ficou ultrapassada, que tal examinar uma outra: estado de direito/estado de esquerda? Eu garanto que em toda a História elas nunca estiveram juntas. Aqui não seria diferente.”



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“Pesquisadora ‘trans’ ataca sexo tradicional



Folha de São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 2003



RICARDO BONALUME NETO

DA REPORTAGEM LOCAL



As idéias sobre sexo da teoria da evolução de Charles Darwin são cada

vez mais contestadas. O título de um livro a ser publicado no ano que

vem pela Universidade da Califórnia resume a nova interpretação: "O

Arco-Íris da Evolução: Diversidade, Gênero e Sexualidade na Natureza e

em Pessoas", de Joan Roughgarden (ex-Jonathan pois mudou de sexo) .



O arco-iris é o símbolo internacional da comunidade homossexual. Cada

vez mais se descobre comportamento homossexual entre animais -a conta

está em pelo menos 300 vertebrados que o praticam de alguma forma. Mas a diversidade vai além disso.



A autora é uma prestigiada pesquisadora na área de ecologia e evolução

biológica, desde 1972 na Universidade Stanford, que se define como uma

‘transgênera’. Nasceu em 1946 e recebeu o nome Jonathan. Em 1998, mudou de gênero e de nome.



As pesquisas têm demonstrado uma grande área cinzenta entre os "gêneros"

- definidos como uma combinação entre o corpo e o comportamento sexual de um indivíduo. Roughgarden, 57, cujos estudos incluem a ecologia de

lagartos e de peixes de recife de coral, ressalta que mudar de sexo é

comum em certas espécies.



Macho vira fêmea



Um pequeno cardume do peixe-palhaço inclui um par macho-fêmea que faz

sexo e outros peixes não-reprodutores, em geral quatro. Se a fêmea

reprodutora for retirada do cardume, o segundo maior peixe em tamanho, o

macho reprodutor, muda de sexo. Fica maior e toma o papel da companheira como reprodutora.



Essa pesquisa foi publicada na revista científica britânica ‘Nature’ no

mês passado por Peter Buston, da Universidade Cornell (EUA), e é um bom

exemplo da argumentação de Roughgarden.



Desde a década de 70 já se sabia que peixes podiam mudar de sexo. O

próprio Darwin reconhecia que entre cavalos-marinhos os papéis sexuais

estavam trocados - é o macho quem cuida dos ovos fertilizados numa bolsa

no seu corpo. Mas Darwin achava que isso era uma exceção rara.



‘As exceções são tão numerosas que imploram por uma explicação’, diz

hoje a bióloga.



O naturalista britânico Charles Robert Darwin (1809-1882) criou a teoria

da seleção natural para explicar a evolução das espécies. Trata-se do

processo pelo qual os organismos mais adaptados ao ambiente tendem a

sobreviver e a transmitir suas características genéticas aos

descendentes -a chamada "sobrevivência dos mais aptos". Afora fanáticos

religiosos, há consenso entre os biólogos de que a seleção natural

darwiniana é a base da evolução.



Já o conceito de seleção sexual é polêmico -ainda mais agora. Segundo

Darwin, seria a maneira pela qual a seleção natural perpetuaria certas

características de um sexo que seriam atraentes para o outro. O caso

clássico é a cauda do pavão, que, apesar de colocar a vida do macho em

risco se ele precisar fugir de um predador, seria um atrativo

espetacular para as fêmeas. Os resultados em termos de sexo compensariam eventuais desvantagens de outro tipo.



Novos estudos com animais bem variados, de peixes a lagartos e macacos,

têm mostrado que a noção de machos combatentes competindo por fêmeas

submissas está longe de ser a norma no reino animal. Na guerra, no amor

e no sexo, vale tudo. Porque longe de serem passivas, as fêmeas também

ditam as regras.



Alvo de preconceito



Além de procurar entender o papel do sexo na natureza, Roughgarden

procura defender a diversidade entre os seres humanos - lembrando que ela

própria costuma ser alvo de preconceito. Ficou particularmente irritada

com um livro recente do pesquisador Michael Bailey sobre o comportamento

de transexuais, repleto de preconceitos e estereótipos, segundo ela.



No livro de Bailey sobrou até para os brasileiros e os que os americanos

em geral chamam de ‘latinos’, que seriam mais propensos à transexualidade.



‘Eu acredito que os comentários de Bailey sobre latinas transgêneras são

racistas e o tenho criticado publicamente por essa conduta ultrajante",

diz. "Pessoas transgêneras estão presentes em todos os grupos étnicos e,

pelo que se sabe, em frequência igual em toda parte e através da

história. Um dado de 1 em 1.000 parece apropriado. Em grandes países,

isso soma um bocado de gente’."



Observação:



E você aí, machão, por que ainda não agendou em algum hospital o corte dos seus bagos e de sua estrovenga? Afinal, mamilos você já tem, com hormônios e algum silicone poderão ser transformados em belos seios, como os da Roberta Close. Com silicone você também poderá modelar uma bundinha à la Sheila Melo. Depois, com muito orgulho (gay pride!), é só sentir as delícias do sexo gay, que, dizem, é a mesma sensação de estar cagando pra dentro... (F.M.)



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Lula-laite: república dos aspones



“Da coluna de Gilberto Simões Pires:



AVALANCHE DE CONSULTORES - O governo Lula está gastando R$ 26 milhões do Programa Fome Zero com a contratação de consultores com salários de até R$ 10.000,00 por mês para fazer trabalhos de necessidade questionável, para dizer o mínimo. Essa denúncia foi realizada pelo Jornal Folha de São Paulo na edição de 3 de agosto, e não foi negada pelo Ministro Graziano. O Deputado Sebastião Madeira (PSDB-MA) também denunciou esse contrato milionário no plenário da Câmara. Desse total, e com uma agilidade que não se observa na distribuição de benefícios aos mais pobres, o Governo já liberou R$ 24 milhões para os cofres da UNESCO.”



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“Tensão no Campo Minado



Aumenta,em Goiás, a reação contra a violência do MST e congêneres



A verdadeira face do governo do PT



A escala crescente de violência verificada no campo e nas cidades nos últimos dias tem colocado sob risco a estabilidade institucional do País e comprometido os vigamentos do próprio Estado democrático de direito, que ajudei a erigir em 1988, na mais recente Constituinte, e sob cujas bases o presente governo veio a ser eleitoralmente legitimado.



Ronaldo Caiado (*)



Temos vivido tempos de enorme perplexidade, de cunho quase psicótico. Estamos diante de uma estrutura governamental aparentemente esquizofrênica. O ponto de partida foi a ruptura ideológica interna do próprio partido do presidente da República, logo nos primeiros dias do novo governo, projetando o presidente e seus colaboradores numa vala de indefinições.



O “Lulinha paz e amor” da campanha eleitoral é o mesmo que, eleito, recebe em palácio o MST e rebaixa a liturgia do cargo, colocando na cabeça o boné do movimento, dando aos líderes dos sem-terra aval indireto às suas ações violentas. E o pior: Lula se recusa a reprimir, com a energia necessária, a onda de invasões rurais e urbanas. Há cerca de 15 dias o dirigente máximo do MST, João Pedro Stédile, fez declarações definindo sua organização como “um exército de 23 milhões de pessoas”, contra o qual nada poderiam os poucos mais que milhares de fazendeiros do País. “Não vamos dormir até acabarmos com os fazendeiros”, disse Stédile. E o que se seguiu a isso? O presidente da República apenas disse que as declarações de Stédile foram “absurdas”.



Já o recém-indicado procurador-geral da República, Cláudio Fontelles, praticamente promoveu uma legitimação indireta das invasões do MST, questionando: “Desde quando latifúndio cumpriu função social?” Certamente o procurador-geral se esqueceu de que “latifúndio” é uma palavra que significa simplesmente propriedade rural de grande extensão, e que hoje, no Brasil, pelo Relatório do Incra, são em número de 200 em todo o território nacional, o que em si nada tem de ilegal ou ilegítimo, uma vez que a Constituição Federal, no seu artigo 5, parágrafo XXII, garante o direito de propriedade, e, no capítulo III, do artigo 184 ao artigo 189, normatiza as desapropriações para fins de reforma agrária. E não dá a qualquer cidadão ou a nenhum movimento travestido de social o direito de invadir e muito menos de julgar por si próprios o que seja propriedade produtiva ou improdutiva.



Como reagiram o MST e outros movimentos assemelhados à postura governamental? Aparentemente, ela nada serviu para intimidá-los. O que mais preocupa não são as declarações de Stédile e outros líderes do MST. Elas não trazem nenhuma novidade, já que compõem mera repetição de bravatas, bem ao estilo da metodologia truculenta de ação revolucionária acima da lei que sempre caracterizaram Stédile e o MST.



A grande preocupação deriva do novo contexto em que tais afirmativas estão sendo repetidas e o diapasão mais alto de ameaças e atos concretos de violência em que têm sido proferidas. Deriva também do desassombro com que ações de violência explícita e com objetivo ilegal têm sido praticadas pelo MST e por grupos a ele assemelhados, diante das quais os órgãos públicos têm se omitido quase que em nível de conivência explícita.

Particularmente preocupante têm sido declarações de integrantes do governo de que o PT se tornou governo mas ainda não empalmou o poder. A conclusão que se pode tirar disso é que não basta a ascensão eleitoral democrática. Torna-se imprescindível, para essas pessoas, assumir o poder sobrepondo-se à Constituição e à lei.



A perspectiva de um golpe de Estado é assustadora. Gera receios bem fundados, porquanto ao que se tem assistido é ao governo Lula reagir aos arreganhos de explícita violência revolucionária de uma forma que, na melhor das avaliações, se poderia rotular de ingênua, e, na pior, de escancarado cinismo. Chega a ser curioso como as esquerdas brasileiras se deixaram seduzir tão intensa e profundamente pela pregação do mártir marxista Antonio Gramsci, algo que se revela com muito impacto na presente crise institucional em que estamos quase a mergulhar.



A geração esquerdista aprendeu, com Gramsci, que não poderia chegar ao poder pela luta armada explicitamente assumida. Deveria, para tanto, renunciar à pureza dos esquemas ideológicos rígidos para aplicar-se na arte de aliciar e comprometer psicologicamente. Com Gramsci, os Genoínos, Josés Dirceus, Rainhas e Stédiles descobriram que uma revolução de mentes deve preceder a revolução política, e que a “tomada do poder” deveria passar pelos métodos da estrutura liberal e burguesa, pela via eleitoral, para depois, de forma insidiosa e apenas pela violência e pela ruptura das regras, lograr-se a assunção do poder total. É importante lembrar que o governo Lula é formado por ex-guerrilheiros, que não se sabe se efetivamente deixaram de sê-lo.



Podem estar sempre a postos para intentar aquilo que a História lhes negou, 30 anos atrás. É preciso lembrar sempre que a História costuma se repetir. Só que, em vez de se repetir como farsa, pode vir a repetir-se como tragédia.”



(*) Ronaldo Caiado é médico e deputado federal (PFL) e

presidente da Frente Parlamentar de Apoio à Agropecuária (FPAA)













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