Nota do Editor – O ouvinte dos telejornais da Rede Globo bem como os leitores de publicações como O Globo e Jornal do Brasil, A Gazeta Mercantil e O Dia, deveriam saber que todas as reportagens, colunas e editoriais em defesa do desarmamento civil neles veiculados seguem uma norma editorial determinada por organismos como o Viva Rio e entidades como a IANSA - International Action Network on Small Arms. Os jornalistas da maior parte da grande imprensa brasileira estão apenas cumprindo esta orientação. É possível que uma parte deles o faça ingenuamente, por acreditar mesmo na causa. Os chefes, porém, sabem que estão trabalhando para estas entidades e que não há nada de espontâneo na publicação das matérias em favor da proibição da venda de armas. O que quero dizer é que a mídia é sim utilizada por estas organizações, daí a falta de isenção dos jornais quando este assunto é abordado. O texto abaixo, do pesquisador Raimundo Nicioli, esclarece a questão e o envolvimento dos nossos jornalistas com o lobby mundial do desarmamento (Prestem atenção no trecho do ensaio que grafei em vermelho). (S.G.)
Por Raimundo Nicioli
O projeto de desarmamento civil levado adiante pelo Viva Rio, ISER, Instituto Sou da Paz e determinadas lideranças políticas tem hoje penetração cada vez maior dentro do imaginário da sociedade. Mas será que tal quadro reflete a realidade das coisas? Será que as recentes campanhas dos campeões do desarmamento espelham uma luta destemida contra o "terrível" lobby das armas? Será prudente confiar nossa segurança em suas teorias, disseminadas aos quatro ventos por jornais,rádios e televisões? Este pequeno ensaio,que pretende explorar estas questões,manifesta perplexidades,e sem querer dar a palavra final,visa dar partida a um sadio embate de idéias.
Antes de ir adiante porem, uma explicação : não se trata aqui de converter outros ao gosto ou uso de armas, visto que muitos não tem por elas atração alguma,mas sim alertar para a presença de manipuladores profissionais que planejam fazer mudanças drásticas na sociedade sem o devido aval; e não menos importante,para a maneira subreptícia como age a imprensa em geral,alijando às sombras, e portanto para fora do quadro de referência,dados que contrariam as teses desarmamentistas,modus operandi notável também em outros tópicos freqüentemente ocupando as notícias,como por exemplo o ambientalismo,o tratado de Kyoto e o aquecimento global.
O plano para o controle de armas leves (revólveres, pistolas, espingardas e carabinas), small arms em inglês, que vem ganhando ímpeto desde 1995 é fruto de um esforço conjunto da ONU, do governo japonês e do governo canadense. A partir daí, organizações satélites como a UNESCO, o ILANUD e a específica IANSA sediada em Londres vem fazendo continuados esforços no sentido de promover o controle absoluto de armas leves no mundo. Em atividade no Brasil temos representando a UNESCO o Sr. Jorge Werthein e o ILANUD o Sr. Túlio Kahn. No Rio de Janeiro respondem pelo Viva Rio os Srs. Rubem Cesar Fernandes e Antonio Rangel Bandeira, e pelo ISER o Sr. Ignacio Cano. Em São Paulo pontifica o Instituto Sou da Paz do Sr. Denis Mizne. No Brasil este projeto vem sendo cumprido à risca por estas entidades, que com o concurso da mídia, tem conseguindo impor suas agendas e interpretações sem oposição ou questionamento. Praticamente estas pessoas respondem pela quase totalidade dos artigos escritos sobre o assunto na imprensa brasileira.
No campo político o Deputado Carlos Minc é um dos principais defensores da idéia, e o sociólogo Luis Eduardo Soares representa mais do que ninguém a mentalidade fortemente antiarmas presente no meio intelectual/universitário.
Mas uma contradição central se impõe: Um projeto desta magnitude,que visa extinguir a posse privada de armas de fogo por civis no País,não deveria ser efetuado sem que antes fosse debatido profundamente pela sociedade. E esta não tem condições para se posicionar com coerência sem antes ter sido informada dos pormenores da questão, seus desdobramentos e possíveis conseqüências. No Rio de Janeiro vigora já uma lei do Deputado Carlos Minc que coloca, alem dos entraves burocráticos de praxe, outros de natureza fiscal (taxas) e até social,como o insólito atestado de boa conduta do proponente à compra de armas firmado por três vizinhos, lei essa proposta, votada, aprovada e sancionada sem que nenhuma discussão mais ampla tivesse ocorrido.
Concorre para o sucesso da empreitada, a recorrente manifestação de "preocupação" com o bem estar das pessoas e a menção de determinadas "estatísticas",que os marqueteiros do desarmamento,rápidos qual um raio sacam do bolso assim que avistam um microfone e uma camera, transmutando-se no ato em "experts" a discorrer para incautos e crédulos ouvintes sobre o perigo das armas,e estimulando-os ao mesmo tempo a se desfazer delas, no que são providencialmente ajudados por um exército de formadores de opinião, presentes nos mais variados setores de atividade -- jornais, programas de rádio, cadernos culturais,novelas,talk shows, noticiários, programas de auditório e principalmente campanhas publicitárias específicas, como a relativamente recente "Arma - ou ela ou eu " da W Brasil, estrelada por Fernanda Torres e Malu Mader.
Para um observador atento, tal unanimidade nelsonrodrigueana deveria soar mal, motivar descrença ,indagações e criticas,mas tais manifestações aparentemente são raras, se comparadas à avalanche de editoriais,declarações e artigos pró-desarmamento. Por sua vez, a classe intelectual nas universidades e demais instituições de ensino ao invés de procurar analisar dados e fatos com isenção e objetividade científica, renega seu papel esclarecedor e parte para a mais descarada propaganda anti-armas.
O que se vê hoje portanto é uma militância antiarmas trabalhando sob orientação expressa de corporações burocráticas transnacionais,apoiada por uma imprensa que, com raras exceções parece ter se esquecido de seu papel,e um corpo intelectual que nada acrescenta de significativo. Completando o quadro, para o cidadão que decida contribuir no affaire, simplesmente não há canais de expressão disponíveis, à exceção de umas poucas e editadas cartas que os jornais,de vez em quando consentem em publicar.
O Viva Rio é uma das organizações integrantes do vasto cartel de ONGs denominado IANSA - International Action Network on Small Arms, que congrega mais de 150 organizações não governamentais trabalhando sob a batuta da ONU, todas voltadas ao mesmo propósito,o controle( proibição) de armas leves. É significante notar aqui a presença do admirável mundo novo, no qual burocracias não eleitas passam a interferir na vida de milhões de pessoas, sem que se possa responsabilizá-las pelas conseqüências de suas ações, pois que se colocam fora de alcance, ao largo de qualquer controle possível. Entrando na página da IANSA www.iansa.org pode-se verificar seus programas e intenções e também notícias sobre as campanhas levadas a cabo aqui pelo Viva Rio.
No trabalho de Rubem Cesar Fernandes "Urban Violence and Civic Action- The Experience of Viva Rio" disponível na Web em PDF (em inglês) lê-se à página 17 sob o título "Wide Visibility": --- "O Viva Rio seria impensável sem a mídia. De 1994 a 1997 foram publicados milhares de artigos, uma média de mais de três por dia. Diretores dos quatro maiores jornais do Rio de Janeiro - A Gazeta Mercantil, O Dia, O Jornal do Brasil e O Globo fazem parte do conselho administrativo da entidade. Um almoço mensal com os editores e colunistas de várias representações da imprensa nacional e estrangeira trabalhando no Rio de Janeiro, aproximadamente 25 pessoas, criaram o hábito de discutir o background para os artigos que são assuntos de imprensa na cidade (sic). Com este almoço, oferecido pelo dono de um restaurante que é membro do Conselho, importantes personalidades são colocadas em contato direto com os intermediários da imprensa, aqueles que escrevem as notícias diárias. Assim, através de um processo de repetição, é criado um circuito qualificado para o diálogo, o que, no final das contas estabelece uma certa familiaridade interpretativa com as editorias de notícia".
Não é de admirar portanto a evidência freqüente , para não dizer permanente do Viva Rio na mídia.
Este relato, vindo de dentro da organização, deveria por si só fornecer motivo mais do que suficiente para abalar a credibilidade do movimento, que através uma facilitada e constante presença nos meios de comunicação é capaz de bloquear criticas e arrefecer desconfianças. O processo natural de expressão na imprensa livre, que é proporcionar à diferentes pessoas a chance de manifestar diversos pontos de vista é substituído por outro,unanimista e artificial, o que por sua vez cria perfeitas condições para o completo domínio daqueles mesmos que a imprensa professa informar. Vez por outra aparece uma carta ou artigo divergente, mas isto é estrategicamente calculado para dar aparência de pluralismo ao processo, que na realidade se distingue por ser de um dirigismo atroz. Poucas são as notas destoantes na sinfonia do desarmamento e os exemplos podem ser encontrados em profusão.
Quinta feira, 9 de Julho de 2002 aproximadamente 22:15 h. A CBN realizava uma entrevista com uma certa Sra. Jessica,do Viva Rio. Falava-se sobre a cerimonia de destruição de armas que tinha tido lugar horas antes no Palácio Guanabara.Um ancora extremamente gentil e solicito, que segundo suas próprias palavras, fazia o papel de advogado do diabo, colocava a entrevistada no melhor dos mundos,fazendo as perguntas certas para o seu melhor desempenho.Evidentemente o que era para lhe ser perguntado não foi, numa entrevista de quase 15 minutos de duração.
Sexta feira, 10 de Julho, dia seguinte ao exorcismo programado pela ONU - O GLOBO funcionando com a precisão de uma máquina bem regulada faz publicar o artigo "Destruindo Armas",do Sr. Antônio Rangel Bandeira, também do Viva Rio,discorrendo sobre o citado evento e procurando substancia-lo com argumentações variadas. Em um dado momento porem,eis que o articulista cai do cavalo ao comandar em seu auxílio ninguém menos do que o Dr. Arthur Kellermann, autor de um dos trabalhos mais criticados sobre o assunto nos Estados Unidos.
Os membros da classe acadêmica sabem que todo o trabalho científico para ser considerado válido para publicação num jornal ou revista especializada, tem de passar pelo processo de "peer review", no qual outros membros da comunidade científica avaliam a metodologia,as fontes e estatísticas utilizadas.Neste caso, o Dr. Kellermann se recusou a fornecer as credenciais solicitadas, mas seu trabalho, não revisto por seus pares da comunidade científica foi mesmo assim publicado no New England Journal of Medicine.Verificou-se depois, que era uma peça de propaganda anti-armas travestida de monografia científica, o que deixou o CDC - Centers for Disease Control, órgão governamental financiador do trabalho em maus lençóis, em virtude do que a cessão de "grants" para trabalhos de engenharia social e comportamental disfarçados de literatura médica foram suspensos pelo congresso. Mas o Sr. Rangel vai alem -- usa o citado trabalho como exemplo para convencer o leigo a adotar a "sábia" decisão de não ter armas em casa.
Sua idéia exposta a seguir, da confiança irrestrita na polícia como substituta da auto suficiência armada e responsável é risível,carreando tanta credibilidade quanto o trabalho do Dr. Kellermann. Dois ditados que são muito comuns por lá ajudam a entender melhor a questão, e com uma pitada de humor : – Ligue para uma pizzaria , uma ambulancia e para a polícia e veja quem aparece primeiro... Ou: Ligue para 911 e... morra !.
A Rádio CBN parece ter participação na questão desde longa data. Me lembro de ter ouvido há uns anos atrás, uma entrevista com o Betinho, um dos fundadores do Viva Rio segundo o texto do Sr. Rubem Fernandes, dar seu parecer anti-armas.Era o início da campanha que se anunciava.
Adiante um exemplo mais ilustrativo da performance da emissora. Desta vez o ancora era o jornalista Sidney Rezende e havia dois entrevistados. Um policial do qual não me recordo o nome e um sociólogo de sobrenome Caligaris teciam a costumeira renda do perigo e indesejabilidade das armas.Dado o conteúdo tendencioso da matéria, chegando em casa remeti um e-mail à CBN, sem que houvesse até hoje qualquer resposta. E a rádio que toca a notícia ainda se gaba de ser um veiculo “imparcial” !
Resolvido a levar adiante meu questionamento enviei em seguida um e-mail ao Observatório da Imprensa , órgão coordenado por Alberto Dines e segundo consta no intróito do site, encarregado da precípua missão de acompanhar o desempenho da mídia.Relatei eu então a conduta da emissora nesta particular entrevista,e já que o Observatório se dizia o guardião da pureza midiática, indaguei o que poderia ser feito neste caso.Um ou dois dias depois recebi a resposta da Sra. Marinilda Carvalho me dizendo entre outras coisas que o ODI não publicava textos em defesa da pedofilia, violência, nazismo e racismo e que falar em "defesa" das armas era ser apologista da violência!?
A troca de correspondencias que se seguiu vai anexada como um mini dossiê, para que se tenha idéia de quem "observa" a imprensa...
Na verdade, temos configurado aqui um verdadeiro estelionato. Uma espécie de estelionato intelectual -- Insiste-se em oferecer algo que não pode ser garantido com certeza absoluta -- a proteção policial, em troca da desistência da auto defesa pela ausência forçada dos meios para concretiza-la, e da supressão de informações que a provam possível, e segundo atestam vários trabalhos de eminentes scholars americanos,eficaz em um grande numero de casos.
Trabalhos que, ao contrário do do Dr. Kellerman são devidamente "peer reviwed", mas infelizmente tornados indisponíveis ao publico pela omissão de nossa imprensa. Assim ,autores como Don Kates, John Lott, Daniel Polsby e outros quedam suprimidos do horizonte visível.
Um exemplo mais recente é o livro da professora americana de História do Bentley College, Massachussets, E. Unidos Joyce Lee Malcolm ,"Guns and Violence -- The English Experience " - Harvard University Press, onde é descrita e analisada a situação na Inglaterra após o desarmamento.
Em função do desconhecimento destas obras é praticamente impossível que o grande publico possa compreender o que se passa diante de seus olhos. Na medida em que um vasto e complexo conglomerado de fatos e números é substituído por outro de recorte simplificado,vemos então subir ao pódio aqueles que de súbito ganharam o privilegio de disseminar suas teorias,passando a representar a "verdade".
Mais ainda, alia-se a isto algo mais sutil -- a indução à baixa da guarda defensiva pela confusão de duas situações ou conceitos diferentes: o da não agressão,benéfico, salutar e em sintonia com valores civilizatorios mais elevados, e o da submissão,negativo e potencialmente letal, o que deixa inevitavelmente os proponentes do desarmamento civil completo bem perto da divisa do moralmente condenável.
Em função do fato notório que, desde o início do período de influencia dessas pessoas e organizações na segurança publica,a taxa de criminalidade e a sensação de insegurança só fizeram aumentar, pergunto se não seria plausível considera-las antes parte do problema do que da solução.
Para concluir, penso que a reversão deste quadro só será possível se os políticos, intelectuais e organizadores das entidades envolvidas derem passos objetivos no sentido de realmente dialogar com toda a sociedade num cenário de absoluta transparência, no qual todos esses segmentos em conjunto com a mídia em todas as suas expressões, fixem como meta a busca da verdade, e acima de tudo que, sondando seus corações verifiquem se, diante de tudo o que foi dito aqui, ainda se consideram moral e eticamente respaldados para propor à sociedade mudanças tão radicais, com conseqüências tão imprevisíveis quanto perigosas."