1. Doce é essa noite estranha que sai dos meus sonhos, sem nunca sair.
2. Suave passa, entre eles, esse mistério do amoramargo, que se renova, na taça de cada minuto, até se fazer doçura.
3. Nem sei se me perco nos aromas da sedução noturna, ou se é a noite que se perde dentro de mim.
4. Há uma vagueza no olhar do silêncio, quando o coração quer falar à mulher amada, mas se recolhe no santuário da prece, até emudecer nos segredos do mar.
5. Estranho é esse amor que re-nasce em cada prelúdio noturno, para se esconder no cálice da aurora, logo que a noite sobe para o último degrau do Infinito.
6. Lento e liso é esse tempo-sem-tempo, em que todos se perdem nas cogitações do ego acessório, que pretende ocultar as nobres aspirações do Eu Divino. Ergue-se o sol, no biorritmo inevitável de cada manhã, e as sombras se refugiam, impotentes, no subsolo da ausência, ainda que retornem, aos primeiros apelos do desvario noturno. Mas esse retorno inconseqüente só serve para homologar a eternidade do esplendor solar.
7. Quiséramos, juntos, anular a doce amargura do amorincerto, mas as flores do coração fenecem, quando os deuses decidem manter distantes os que se amam. Não há pontes duráveis entre as duas margens; e aquele imenso abismo detém até o vôo dos sonhos mais promissores.
8. Que faz o mar impassível; que cantam os ventos da Primavera; que promessas me trazem esses mistérios do espaço-órfão? Tudo parece vazio, na aridez do horizonte; até a ciranda dos astros se faz imóvel.
9. Que hei de fazer, se quem espero só me faz esperar, sem nada dizer, e nem começa a navegar rumo ao meu coração?