De acordo com a metáfora neoplatônica e joanina,no começo era o verbo;no entanto,se esse logos,esse ato e essência de Deus,for,em ultima análise,comunicação total,a palavra criadora de seu próprio conteúdo e de sua própria verdade de ser,então o que dizer do zoon phonanta,o homen como animal falante?Também ele cria palavras e cria com palavras.Poderá existir uma outra coexistência que não seja carregada de tormento mútuo e rebelião entre totalidade e logos e os fragmentos vivos e criadores de mundos de nossa própria fala?o ato da fala que define o homem,também não vai além dele ao rivalizar com deus? Essa ambiguidade é mais acentuada no poeta.É ele quem conserva e multiplica a força vital da fala.Graças a ele,mantém-se a ressonância das palavras antigas, e elevam-se as novas a partir das trevas ativas da consciência individual,a luz comum.O poeta cria a perigosa semelhança dos deuses.Seu canto constroi cidades,suas palavras têm aquele poder,que acima de todos,os deuses negariam ao homem,o poder de conferir vida duradoura. O poeta é criador de novos deuses e preservador de homens.Ele fala de uma barragem contra o esquecimento,e a morte gasta o frio de seus dentes em sua palavra.E porque nossas linguas possuem o tempo verbal futuro,cujo fato por si só é um radiante escândalo,uma subversão da mortalidade,o visionário,o profeta,homens nos quais a lingua encontra-se em um estado de extrema vitalidae,podem olhar para além,podem fazer da palavra uma projeção para além da morte.