Não costumo provar meus conhecimentos lingüísticos. Sei bem o que sei e nisto sou “inconteste”. Doa a quem doer!
E que “berrem" todos os cabritos, ou cabrões, do mundo...
Este artigo teve origem num e-mail que me chegou pelo famoso “webpoint38”. Sem nenhuma intenção, a pessoa que o enviou pelo “Fale com o autor” certamente esqueceu-se de preencher o campo
de e-mail, que me chegou “anônimo”.
Mas, veio bem a propósito e tenho gosto de responder, visto referir-se a questões polêmicas, aqui levantadas, no que se refere à construção impecável da língua portuguesa, tão contraditória em seus diversos níveis lingüísticos.
O referido anônimo(a) pergunta-me:
Professora Milene, por que é incorreto escrever, por exemplo,
“Haviam pessoas” e em uma outra frase: “As crianças hão saber das coisas”, o plural é aceito.
Bem... No primeiro exemplo, não há um sujeito com o qual o verbo seja obrigado a concordar. É o caso de “haver = existir”, na forma impessoal, isto é, o verbo só será usado na terceira pessoa do singular, em qualquer tempo ou modo.
Já, no segundo exemplo, temos uma oração de sujeito expresso “as crianças” e o verbo haver forma conjugação perifrástica (locução verbal).
São regras... Regrinhas de nossa Língua-Mãe.
Evidentemente, há erros que transformam dramaticamente a mensagem do texto. Outros, não tanto.
Você me indaga, ainda, sobre a colocação pronominal na frase.
Não me atenho muito, ou quase nada, a regrinhas da língua. Talvez por essa razão eu tenha optado pelo ensino avançado. Nunca passei pelo estágio de ensinar criancinhas a se alfabetizarem. Sei que é um trabalho árduo e eu dou-lhe o merecido valor.
No entanto, eu trabalho com alunos que já vem para mim (ou deveriam vir) com todas essas regrinhas na cabeça.
Seria, eu, uma docente frustrada se tivesse que ensinar, aos meus pentelhos, já grandes, algo que qualquer “semi-alfabetizado” pode consultar num livro ou num dicionário.
O meu trabalho é com a literatura, análise e comentário de textos, ou seja, a língua “já construída”...
Dizer ao aluno se o “x” de “exímio” tem o som de / z / é, para mim, secundário, pois, como muitos, sou a favor da “unificação fonética”, que não tardará a acontecer.
E a Nova Proposta do Ensino Médio prioriza, mais, o funcionamento da língua:
“A principal razão de qualquer ato de linguagem é a produção de sentido”
(Programa Nova Escola – Bases legais).
Algo sobre nossa “colocação pronominal”, no Brasil, claro.
“Como é natural, o português falado no Brasil guarda algumas diferenças de ordem fonética em relação ao português falado em Portugal e em outras partes do mundo que lhe recebem a influência. Assim é que entre nós, brasileiros, a próclise tem nítida preferência, tanto na língua falada quanto na escrita, mesmo que em início de período. Tal preferência se explica pelos padrões por nós utilizados.
No Brasil se prefere a próclise com alguma razão. Em Portugal, a preferência pela ênclise faz os lusitanos construir com visível duplo sentido uma frase como esta: “Os jornais chamam-NOS de animais”.
Aqui, para se evitar essa ambigüidade preferimos: “Os jornais OS chamam de animais”.
Para encerrar, que brasileiro proferiria: “Dei-ME mal”... “Dá-ME um dinheiro aí”... Sem sentir-se um pouco agoniado?”
(trecho reproduzido da gramática de Sacconi, Teoria e Prática)