Mesmo antigamente, pessoas sensatas podiam demonstrar que a maioria das façanhas com demônios, espíritos, extraterrestres etc., se realizavam só na imaginação. O célebre caso de Loudun. A madre Jeanne des Anges, pelo seu físico, não inspirava muitas simpatias. Uma das grandes preocupações da sua mãe, baronesa, fora sempre esconder a filha defeituosa, tanto como procurava exibir suas outras filhas. Isto revoltou Jeanne, e explica em grande parte seu ulterior desejo doentio de chamar a atenção.
Quando por fim apareceu-lhe um pretendente, a mãe se opõe resolutamente. Jeanne ficou tão revoltada e tão frustrada que aceitou ser religiosa. Tinha 17 anos. Não fora ao convento por própria vontade. Foi sempre esse o desejo de seus pais. Compreende-se que preenchesse o tempo em fantasias de um amor frustrado. Sexo. Até que estourou o inconsciente. Durante a noite, a madre Jeanne de Anges via fantasmas deslizando pelo dormitório, descobrindo as freiras, acariciando-as, e depois as possuíam. Os “demônios” vestiam formas de homens!
O cientista moderno não duvida: nada de demônios. Repressão sexual e fascínio que provocavam o jovem capelão, padre Grandier, que nem sequer teve qualquer relacionamento particular com madre Jeanne. Mas não querendo reconhecê-lo, madre Jeanne des Anges reagia, sentindo que o homem com quem sonhava nas suas fantasias sexuais era fétido.
A pessoa aparentemente mais honesta e equilibrada pode ser profundamente mitômana. E agir em conseqüência, habilmente. A equanimidade e equilíbrio são atitudes conscientes, a mitomania surge do inconsciente. “Todas as virtudes morais rigorosamente constatadas não permitem excluir a fabulação histérica”, os truques irresponsáveis, as alucinações autocompensadoras.
Um sacerdote foi humildemente consultar sobre o fenômeno estranho de que se considerava vítima. Algumas noites, estando já deitado e ainda com a luz acesa, lhe aparecia o “demônio”. Em forma de terrível gato. Não havia gato naquela casa de jesuítas. O “demônio-gato” pulava em cima do padre, arranhava-o dolorosamente e depois, desaparecia misteriosamente, portas e janelas fechadas. A vigilância e observações posteriores demonstraram que era o padre mesmo que se arranhava, vítima da alucinação.
Uma camponesa, sempre que o marido estava fora de casa, se sentia atacada e mordida por um ser invisível. Mas as marcas das horríveis mordidas eram bem visíveis. Em pontos inacessíveis a seus próprios dentes. E as marcas correspondiam a uma dentadura bem maior que a dela. Não podia ser nenhuma de suas quatro meninas, pequenas, nem a babá, de 14 anos. Só algum tempo depois se descobriu uma ratoeira. As marcas das “dentadas” correspondiam exatamente às formas da ratoeira.
Era indiscutível a sinceridade das vítimas.
Por Luiz Roberto Turatti, aluno do Centro Latino-Americano de Parapsicologia, CLAP (www.clap.org.br), dirigido pelo Prof. Dr. Padre Oscar González-Quevedo, S.J.
Esse artigo já foi publicado em:
- “Tribuna do Povo”, Araras/SP (Brasil), sábado, 11/2/1995;
- “Jornal de Parapsicologia”, Braga (Portugal), setembro/1995;