Por que estudar filosofia? Esta pergunta certamente é e será ouvida inúmeras vezes, principalmente por aqueles que atrevem-se a habitar este temível mundo da sabedoria. Por que estudar filosofia se esta não tem uma utilidade imediata, não faz a previsão do tempo como a meteorologia nem ergue cidades como a arquitetura? Para que serve a filosofia se não me permite ganhar altos salários, nem me possibilita elevados cargos na sociedade? Estas são apenas algumas das muitas questões levantadas a cerca da importância do filosofar.
É de grande relevância a possibilidade de sabermos a previsão do tempo, os cálculos que nos permitem habitar com segurança sob várias camadas de concretos... Mas nos é lícito perguntar agora: de que valem os elevados cargos sociais, altos salários, prever o tempo, edificar arranha-céus... se permanecemos na ignorância ingênua, brutais na conduta, instáveis no caráter e cegamente infelizes?
Talvez já estejamos acostumados com um sedentarismo intelectual e a não percebermos o mundo que nos cerca em todas as dimensões que se nos apresentam como possíveis. Aqui se faz presente a emergência do filosofar, para que não permaneçamos inertes frente a realidade que passa. Mesmo após as ciências, filhas da filosofia, terem lhe voltado as costas, a sabedoria aguarda por ser redescoberta e que a ela voltemos nossa amizade.
O estudo da Filosofia nos proporciona um horizonte amplo de conhecimentos e cultura, nos incita a um espírito crítico sobre a realidade em que nos encontramos. Portanto, não trata-se um aceitar passivo da realidade, mas de agirmos livre e conscientemente sobre ela. Isto é, sabermos porque nela estamos e por que sobre ela devemos agir.
O processo de aprendizado da filosofia, tem seu resultado no próprio esforço reflexivo à que a atividade filosófica nos remete. Daí que, discutir a filosofia existente, com um olhar amplo e respeitoso sobre os diversos saberes, nos leva a progredir no pensar sobre ,o Homem o Mundo e Deus. É a partir da base formada pelas principais discussões filosóficas, que despertamos nosso amor pela sabedoria e conquistamos nossa autonomia sobre o próprio pensar.
O que podemos destacar com maior grau de importância no curso filosófica, não é apenas o simples conhecer da tradição da filosofia, mas a admiração, o espanto com o desconhecido e, através dele buscarmos a produção de novas reflexões que visam contribuir para o crescimento do próprio sujeito cognoscente.
A vantagem da filosofia é não permitir que o medo domine nossa capacidade de pensar. Aqui encontra-se a necessidade da filosofia e sua intervenção social. Para que possamos nos convencer a parar um pouco e pensar no que está acontecendo? Qual a nossa situação e nossa ação no mundo como sujeitos agentes e transformadores da história?
O por quê do filosofar é uma pergunta que não pode deixar de ser feita. Nela ainda resta-nos um pouco de otimismo, a esperança de que se persista na busca de uma resposta. E de que sejam levantadas novas questões sobre a resposta dada e se prossiga então, na incessante porém inefável busca pelo saber. Talvez assim possamos aceitar correr o risco do “conhece-te a ti mesmo”, ao invés de prosseguirmos na errônea suposição de que nos é possível deter o todo em apenas uma de suas partes. Somente homens de coragem, com equilibrada ousadia e prudência serão capazes de pensar com um olhar amplo e demorado sobre o misterioso universo que os encanta.
*Sidinei Cruz Sobrinho é graduado em Filosofia pelo Instituto Superior de Filosofia Berthier - IFIBE, de Passo Fundo; Bacharelando em Filosofia pela Universidade Integrada do Alto Uruguai e Missões - Campus de Erechim - URI, Poeta; Sócio da Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo - RS.
