A constituição diz que garante a nossa liberdade de expressão, de ir e vir. Tudo bem, é verdade. Senão não estaria escrevendo o que penso.
Não lembramos do quanto fomos tolhidos pela ditadura, pois nosso tempo é curto e temos mais o que fazer.
Porém, em alguns setores, o espírito de controle ainda continua vivo. É o caso do mercado fonográfico. Vão dizer que é assim em todo o mundo. Mas, será que precisamos ser iguais a todo o mundo?
A música brasileira é igual à de todo o mundo?
Não. É por isso que Cannes, a capital dos festivais e da cultura mundial, dedicou um dia especial à nossa arte.
Músicos brasileiros de todos os gêneros migram para outros países para serem devidamente reconhecidos.
A Veja de 15 de janeiro retratou com muita propriedade o que acontece nos bastidores das gravadoras. Criam-se produções baratas, genéricos de artistas conceituados, para reduzir os custos e ter retorno imediato.
Acabam nivelando por baixo a qualidade musical, a cultura de uma nação.
É inconcebível um país que gerou Tom Jobim, ser representado, em um evento internacional, pelo É o Tcham.
Almodóvar, em Fale com Ela, sua mais recente obra prima, destacou a nossa música como ninguém. Ganhando ou não ganhando o Oscar, o filme está espalhando pelo mundo Elis Regina, Caetano Veloso e por conseqüência toda a cultura verdadeiramente brasileira. Não importa se Caetano está cantando Currucucu Paloma. Escolheram alguém do Brasil.
Quando falo em projeção internacional incluo todos os gêneros musicais. Não só a rotulada MPB. Centenas de artistas e bandas representariam melhor o nosso país do que as Sheilas e Cia. Nada pessoal quanto ao grupo. Cada um grava o que quer e ouve o que quer. Estamos em uma democracia. Ou, pelo menos, dizem.
Nos Estados Unidos, o artista do momento é um cara que adora xingar a própria mãe e tudo que ele não concorda. E vende muito. Até virou filme. A terra de Tio Sam também não é um país sério!
Acredito que se deixassem as rádios de todos os cantos deste continente chamado Brasil selecionarem, com seus ouvintes, o que há de melhor e mais vendável em cada região, tocaria e entraria no mercado o que o povo quer ouvir e não o que uma meia dúzia de três ou quatro decide.
Eu fico ROUGE de raiva com esta situação!
Silvio Alvarez, 36 anos, é assessor de imprensa da banda rock pop YSLAUSS, artista plástico de colagem e colunista.