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Artigos-->Algumas questões embaraçosas -- 19/03/2003 - 11:13 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"Algumas questões embaraçosas



J. O. de Meira Penna

(Jornal daTarde - 17.03.2003)



Para se entender a situação internacional é necessário um conhecimento suficiente de eventos passados e da complexidade dos relacionamentos entre as potências ativas no jogo de poder. Em 1939, por exemplo, a Alemanha nazista e a Rússia stalinista assinaram o acordo Molotov-Ribbentrop que lhes facultou a partilha da Polônia, a forçada integração dos países bálticos à URSS, o ataque à Finlândia e a possibilidade de a Wehrmacht, oito meses depois, conquistar a França e erguer contra a Inglaterra, último bastião de liberdade na Europa, uma ameaça mortal. Entretanto, quando foi a URSS invadida em 1941, Churchill, o mais tenaz líder conservador britânico, imediatamente proporcionou apoio integral a Stalin que Roosevelt reiterou.



Desencadeada para defender a Polônia, a guerra terminou com a integração desse mesmo país ao império comunista, enquanto a Europa ocidental era libertada pelos americanos que, em 1945, dispunham da arma nuclear absoluta, 50% do PIB mundial e 12 milhões de soldados. No entanto, diante da passividade isolacionista do rival e em extraordinária demonstração maquiavélica, Stalin, responsável por um maior número de vítimas do que Hitler, se apossou da metade do continente - a qual só 45 anos mais tarde se libertaria graças, novamente, ao poder americano vitorioso na guerra fria.



Se há, por conseguinte, uma nação à qual deve o mundo a liberdade e a democracia, essa nação, paradigma global, é a América. O declínio do império soviético começou com a invasão do Afeganistão em 1979 e terminou, após 10 anos de fracasso, com o abandono da aventura que causou 1 milhão de vítimas. Durante todo esse tempo, jamais ouvi falar em manifestações pacifistas de protesto em qualquer cidade do mundo livre; nem mesmo o papa, notório inimigo do comunismo, fez qualquer declaração sobre o episódio. Os afegãos haviam resistido com o armamento fornecido pelos americanos. Muitos "resistentes" foram armados pelos EUA - Osama bin Laden, por exemplo. No jogo complexo de equilíbrio de poder há esses paradoxos que muita gente, ignorante, ou ingênua, ou tendenciosa, não consegue perceber.



Saddam Hussein não foi derrubado após a Guerra do Golfo porque contrabalançava os fanáticos aiatolás iranianos. No poder há mais de 30 anos, esse verdadeiro protótipo do gângster internacional é responsável por quatro guerras. A repressão da minoria curda com gases venenosos, a invasão do Kuwait e o conflito com o Irã (1980/88) teriam causado mais de 1 milhão de mortes. Nessa luta, para resistir a Saddam e à superioridade de seu armamento soviético, os aiatolás, que haviam desmontado seu próprio exército, recorreram a meios heróicos como o de mandar batalhões de crianças para estourar com os pés os campos de minas - admirável de ingenuidade, não acham? E não só Israel alega haver destruído um reator nuclear iraquiano em 1981, como leio em obras de físicos americanos publicadas da década passada, sobre seus esforços para desenvolver a arma atômica.



O propósito de Saddam é recriar um sultanato árabe naquela que foi a antiga metrópole do Islã, Bagdá. Incidentalmente, o último grande herói da Jihad islâmica às Cruzadas não foi um árabe, mas um curdo, o nobre e cavalheiresco Saladino (+1193) que reconquistou Jerusalém e venceu Ricardo Coração de Leão, rei da Inglaterra. Estas recordações históricas parecem irrelevantes, mas são até hoje influentes na mente dos que sonham com uma Guerra Santa contra o Ocidente moderno. Curiosamente, repito que em todos os recentes episódios sangrentos de terrorismo nunca li sobre manifestações pacifistas na Europa e na América, nem tampouco sobre qualquer alto funcionário da ONU que houvesse reclamado pela violação dos direitos humanos ou morte de civis inocentes.



Quando 3 mil pereceram em Nova York a 11 de setembro 2001, não houve arruaças ou bandeiras árabes queimadas em qualquer cidade francesa, alemã ou brasileira - nem pacifistas saíram às ruas para gritar "façam amor, não façam guerra!" E quando 100 australianos foram explodidos em Bali há alguns meses, não ouvi falar, salvo na Austrália, de qualquer expressão de indignação justiceira ou expressão de ímpetos pacifistas para os cultores da receita de paz-e-amor. Nem o presidente do Brasil deu um pio sequer. A Realpolitik do poder é cega - e vê-se que a memória histórica, em parte da Europa ocidental, é tão curta quanto aquela de que somos, os brasileiros, acusados de sofrer. Os sentimentos de compaixão e justiça distributiva do povaréu esquerdizóide são igualmente muito discriminatórios e sua cegueira é bastante diferente da que cobre os olhos da estátua de Dikê, em frente aos tribunais. Quanto à bandeira que desfraldam não é branca, é vermelha - não se iludam.



J.O. de Meira Penna é embaixador, escritor e presidente do Instituto Liberal de Brasília.

e-mail: meirapen@zaz.com.br"



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