Já é muito difícil escrever em português: poucos lêem, menos ainda entendem, quase ninguém gosta dos textos ou discute suas idéias.
Então porque cargas d água se deveria escrever em inglês? Ainda maiss sendo eu um autor que não tem pleno domínio pleno desta língua. tão difícil quanto qualquer outra?
A resposta está naquilo que, como diria, com felicidade e precisão, o comediante brasileiro Jô Soares: hoje o inglês é o esperanto que deu certo... Para aqueles que tenham nascido depois do declínio do esperanto, é preciso dizer que esta é uma língua artificial criada por um poliglota húngaro para se tornar universal. Sendo um conhecedor de várias línguas, Dr. Zamenhoff procurou nelas os elementos comuns ou fáceis de entender pelos falantes de quase todas ou da maioria delas.
Infelizmente, questões políticas, comerciais e culturais atrapalharam a adoção desta bela idéia por partes expressivas da população mundial.
Na esteira do sucesso do império britânico e, depois dele, do americano, o inglês se tornou muito falado e lido por grande parte do mundo. Principalmente depois que os americanos, povo pragmático e pouco dado à erudição, passou a usar o chamado Basic English, ou Inglês Básico, um vocabulário limitado, contendo apenas as palavras mais faladas do inglês, menos de 1.000 delas.
Esse vocabulário -- quase que uma ideologia de simplicidade e contenção --, foi aplaudido por poetas como Ezra Pound, que eram donos de vocabulários dezenas de vezes maiores. E em várias línguas.
O sucesso do inglês se tornou tão amplo e universal, que usar o inglês deixou de ter um significado de anglofilia, ou favorecimento do modo de vida e cultura de americanos ou ingleses. Ao contrário, usar inglês é principalmente um desejo de se comunicar com mais pessoas.
Falando francamente, os ingleses já eram bairristas, como a maioria dos europeus. Seus sucessores, os americanos são absolutamente cegos para qualquer outra coisa que não tenha sido produzida por sua própria indústria cultural. Eles mesmos fazem uma piada: uma pessoa que fale três línguas é trilingüe, uma pessoa que fale duas línguas é bilingüe, uma pessoa que fale apenas uma é... americana.
Assim, quem não faça parte do establishment americano não deve sonhar em ser lido por eles.
Por outro lado, existem muitas nacionalidades cuja língua é bastante inacessível. Pense, por exemplo, nos húngaros, nos finlandeses, nos israelitas, japoneses e até mesmo nos holandeses. Todos esses povos terminam por adotar o inglês como uma segunda língua. Sem falar, é claro, em povos até mesmo mais próximos de nós, em condições econômicas, como os hindus, nigerianos e até os chineses.
Assim, escrever em inglês é buscar um contacto com o mundo. Exitem idéias novas, modos de pensar diferentes que todos nós brasileiros, lusitanos e todos lusófonos desenvolvemos e que ficam conosco, pois se mal nos lemos uns aos outros, os hispanos menos ainda. Escrevendo em inglês estaremos ofertando nossas contribuições únicas ao mundo.