— Amor, adivinha o que o Flavio nos deu de presente de casamento?
— Não tenho a mínima idéia — responde ele.
— Não quer arriscar?
— Sei la´, um som?
— Não.
— Então, o que?
— Chuta ai? O que Você pediu?
— Nada. Qualquer coisa.
— Bem, ele deu um dvd. E como nos já temos um vamos vendê-lo e comprar um som.
— Ei, perai, meu bem, as coisas não são assim; ele foi meu padrinho, quem decide sou eu.
— Não. Nos estamos precisando de dinheiro.
— Pra que?
— Ora, todo mundo precisa de dinheiro.
— Querida, as contas estão pagas, um som e´barato.
— Então manda trocar.
— Jamais. Não vou incomodar o sujeito de maneira nenhuma. Ele já fez muito.
— Ah, se eu encontrar eu vou falar, não tenha nem duvida, quero nem saber..
— Meu Bem, assim não da não estou te reconhecendo.
— Você pensa o que, gastei dinheiro nesse negocio.
— Eu, não, por acaso?
— Você quer botar no papel?
— Quero, vamos lá.
— Os moveis?
— A cômoda foi eu, meu bem. A estante tambem.
— Ta, e fogão, geladeira, sofá?
— Esqueceu a cama de casal, querida?
— Vamos contar então?
— Sacrifício por sacrifício?
— Quem trocou o conforto por essa espelunca?
— Espelunca? Isso aqui e´ espelunca? Va casar com o Onassis, minha filha?
— Dexei meus padres, fui me meter-me com um artistazinho sonhador, agora estou nessa atoleira.
— Meu bem, casaemnto não e´ negocio.
— Eu não vou ficar com dois dvs, ta ouvindo.
Bem, o fato e´ que duas horas depois o casal estava em prantos, sentindo-se miseráveis, ambos irreconhecíveis em lagrimas, pois o inesperado e valioso presente despertara ambições e sombras em ambos. Sentiam desejos suicidas, homicidas e fratricidas. Quase sangraram de sofrer...
A noite a angustia de morte espoucou nele num sonho libertador. Sonhou que amarrara o dvd ao estomago como se fosse um terrorista e atirou-se da janela. Lá embaixo encontrara entre fragmentos do presente, seu corpo inerte e sorridente, finalmente em paz e no nada que sempre pedira aos céus.