· e senti tanta fome que só não mais pela digestão de meu próprio intestino, mas que diminuiu quando me alimentei de desesperanças .
· Nesse dia, notei meu escarro , e estava tão fedido e seco. Assim mesmo via-se mais dignidade em suas bolhas transparentes, do que já vi em muitos bem aquinhoados seres que passam a minha frente. Seres de barriga, com sorrisos de dentes brancos e mãos limpas.
· Nesse hoje estava só. Sei pela falta do calor do toque, do alívio do olhar-nos-olhos, do confiar em quem nem vê, mas existe.
· Que dia! Este que não me vale a pena suicídio. Talvez por na hora que pensei, passou outro que me sentiu a maior pena, mesmo que não tenha feito nada, só sentido.
· Mas que frio fez hoje, era tanto, e o mesmo que faz a tantos, todos os dias.
· Neste feio dia, já cansei. Já não levantei a ele uma só vez. Já não podia.
· Não estava surdo, pois ainda ouso o som do fim, o som do choro e o mais alto, o som do nada.
· Mas, nesse dia, só e apenas tive medo de tudo, mas não corria da doença, da polícia, da sabedoria, do perigo, do amor, do resto.
· Nesse dia entendi “isso”. O que sempre via nas calçadas de qualquer lugar, e que não tinha nome para “isso”. “Isso” tem meu nome hoje.
· Num belo dia, desse hoje acordei uma segunda vez. Mas agora tinha barriga, sorriso de dentes brancos e mãos limpas.
· Duma macia cama, com dois cobertores, quando parou a chuva, levantei.
· Peguei meu agasalho e tôca, mas sem as luvas, fui lá fora. Não vi ninguém na calçada, só uma criança embaixo de um papelão, em frente a padaria. Inútil papelão contra a chuva. Mas estava frio e a padaria fica tão longe...