Ah não! Não se trata de um momento de saudosismo oitentista. Muito menos de uma apologia à figura de Renato Russo. O fato é que a letra dessa música - que eu cantava e dançava alucinadamente aos quinze anos - vem-à-minha-cabeça-de-vez-em-quando, ao observar certas coisas que, querendo ou não, passam pela minha frente.
O leitor pode perguntar-me: Então o que você quer?!
A resposta é, ao mesmo tempo simples e complexa, objetiva e subjetiva, clara e escura. Entendeu?! Não?! Bom, p´ra simplificar, sejamos objetivos, práticos: FUNK. Muito já se falou sobre essa nova moda e muito ainda vai se falar. Afinal, com a queda de popularidade do Axé e pagode, a mídia precisava encontrar outra bola-da-vez.
O problema é que a mídia anda "pegando pesado" cada vez mais. Convido você, leitor, a fazer unma pequena retrospectiva da música brasileira nos últimos dez anos...
A transformação da mulher em objeto de consumo, no nosso país (através da música - fique bem claro!) começou onde? Um estilo surge na minha cabeça - Lambada - que nada mais foi que uma superexposição de uma dança antiga, o forró, executada de forma mais provocativa e sensual em um ritmo diferente. Daí p´ra frente, abriu-se a caixa de Pandora e a coisa foi degringolando: Axé (meados de 90), Pagode (final de 90) até chegar na já mencionada bola da vez, o FUNK.
Quando lembro que Renato Russo escreveu "A Dança" no início dos anos oitenta e que o mesmo nem imaginava o que viria por ai, não posso furtar-me a especular, mesmo que mentalmente, como seria a letra de "A Dança" hoje em dia... Tente fazer esse exercício...
Na minha opinião, a letra fica a mesma, e a dura realidade do seu conteúdo está mais palpável ainda: "... tratando as meninas como se fosse lixo..."(sic). O funk conseguiu baixar ainda mais o nível de vulgarização da mulher. Antes que os "funkeiros-de-plantão" ponham-se aos berros e encham a minha caixa postal com e-mails revoltados com a minha postura anti-musical, quero ressaltar algo: nada, repito, NADA, contra o ritmo. P´ra ser bem honesto, nada contra o Axé e o pagode também - enquanto ritmos musicais (apesar de não gostar de nenhum dos três), afinal eles existem há muito mais tempo do que a mídia nos faz supor e também tem as suas turmas "do bem". Mas em relação às letras... ai, ai, ai. TUDO contra.
Domingo, andando num dos diversos "shoppings centers" de Brasília, fui surpreendido por uma mãe - com seus quarenta-anos-de-idade-na-cara - chamando sua filhina - com algo em torno de dois anos e meio: "Vem cá minha tchutchuca!". Aquilo doeu aos meus ouvidos e me encheu de vivo sentimento de asco. A meu ver, foi como chamar a filha de, ah... como poderia dizer?! prostituta.
Eu gostaria de que alguém me dissesse, pelarmordeDeus, o que faz uma mãe chamar a sua própria filha de ah... prostituta. Alguns vão tentar me dizer que "a maldade está na cabeça das pessoas" ao que respondo: Tá legal, vai contar outra! A denominação está lá, sendo usada da pior maneira possível e, o que é pior, as mulheres estão gostando e passando a usar, ou ser chamada, desses adjetivos de gosto no mínimo duvidosos.
Uma coisa tem que ficar clara: Quem tem obrigação de pisar no freio disso tudo é a mulher(pronto, comprei outra briga...) Explico: Qual o homem que vai querer parar com esta festa da carne?! O alvo de todas essas modas musicais tem como foco a mulher que, agindo de forma no mínimo omissa, aquiesce à tentação e deixa-se levar pela mídia. Resultado: Surgem as Tiazinhas, Feitiçeiras, Carlas Perez, Sheilas e demais siliconadas que, com um papo mais que furado, são apontadas como musas e referências para todas.
Eu, de antemão, concordo com todas aquelas que estão pensando: "Existem exceções, não é bem assim". P´ra vocês os meus sinceros aplausos e também um puxão de orelha: A exceção pode ser encarada como regra se não se manifestar! Outro dia, numa festa regada à muito uísque, vinho, cerveja e vodka, tendo como pano de fundo um bom rock´n´roll, aconteceu de alguém soltar a seguinte pérola - em tom de brincadeira: "Põe o tigrão ai!". P´ra meu espanto seguiu-se uma seqüência Funk do mais baixo nível e, pasmem, todo mundo dançou. "Ah, mas foi só de brincadeira..." podem me responder. À esses, pergunto: e a mãe que chamou a filha de "tchutchuca"? Falava sério?! Acredito que também era brincadeira. Saiu assim, sem mais nem menos, e com isso, a gente passa a acreditar que essas coisas são normais. E dessa forma nossa cabeça começa a ser embotada de várias mensagens e, quando menos notamos, estamos indiferentes, insensíveis àquelas coisas que nos agridem os sentidos. Isso me faz temer pelo que há de vir no futuro.