O candidato à presidência da república, o sr. Garotinho, anda com ares de sabichão, quando, vez por outra, denota desconhecimento de solução para problemas sérios do nosso país. Um deles é a questão da água no Nordeste. Disse Garotinho em um programa de rádio em João Pessoa que o problema da seca no semi-árido seria resolvido com perfuração de poços. Que para isso já teria mantido contatos com técnicos da Petrobrás e que os mesmos teriam afirmado que os equipamentos disponíveis dariam para fazer perfurações profundas.
Eu posso me considerar leigo no assunto, até porque a minha formação acadêmica não tem nada a ver com a área geológica. No entanto, como sou do Nordeste, nascido no sertão paraibano, preocupado com tal problema e, portanto, interessado em adquirir alguns conhecimentos sobre o assunto, discordo da proposta do candidato à presidência da república. Propor-se a resolver a questão da seca com perfuração de poço é querer subestimar a gravidade de um problema milenar surgido com a descoberta e invenção do fogo e suas queimadas, com os contrabandistas do pau-brasil, com os colonizadores, bandeirantes, e fazendeiros, entre outros.
Como se sabe, o nosso solo tem duas formações: o sedimento e o cristalino. O sedimento abrange mais o litoral nordestino; o cristalino constitui o solo das regiões do agreste, cariri, curimataú e sertão. Há insignificantes execessões. No estado da Paraíba, p.ex., o tipo sedimento se estende por todo litoral e uma pequeníssima área encravada no município de Souza(sertão da PB). O restante do estado é constituído de solo cristalino. A água apresentada nos solos sedimentares é, invariavelmente, de boa qualidade e de grande vasão; ao contrário, nos solos de formação cristalina, a água é, geralmente, de péssima qualidade e de pequena vasão. Há excessões na qualidade da água, pois, em alguns municípios do sertão há água de boa qualidade no subsolo.
No semi-árido, além da água ser de baixa vasão e péssima qualidade, pelo fato de ser captada de fendas das rochas, há o problema da recuperação, pois, como se sabe, em se tratando de renovação de recursos, a sua reposição se dá a uma velocidade menor que a do consumo. Daí que a tendência é chegar ao esgotamento total.
Qual é a saída, então? A saída, está a curto prazo(já que o problema é de falta dágua para o consumo humano) na transposição do São Francisco ainda que seja, se necessário for, com a canalização do Tocantins, e a médio prazo a revitalização das margens ribeirinhas e recuperação das matas, não apenas do semi-árido, mas, de todo Nordeste. Isso posto, certamente, não muito distante, talvez venha a se tornar desnecessária a transposição que hoje é tão importante, principalmente, para muita gente que dispõe de água, comprovadamente, imprópria ao consumo humano.
O sr. Garotinho devia baixar mais um pouco a bola e procurar se inteirar mais de assuntos que tratam da sobrevivência de milhões de pessoas. Mais cuidado com o que diz. Não custa nada seguir o ditado mineiro que assegura que "sabedoria de mais engole o dono."
