Para nós brasileiros, democraticamente, não pode ter havido um fato mais extraordinário na nossa história republicana do que a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. Se, realmente, como se está prevendo, isso se concretize, até os nossos colonizadores haverão de se insurgir dos seus túmulos para protestar pela humilhação e incompetência das atuais elites dominantes.
No setor primário, passamos pelos ciclos do pau-brasil, da cana-de-açúcar, mineração, do café, algodão, sisal, borracha, entre outros; entramos no secundário com a instalação de um considerável parque industrial e do setor terciário com a dominação do sistema financeiro, e a cada alavancagem o povo brasileiro se sentiu mais sacrificado. Isso porque o Brasil foi governado, apenas, para o exterior e para uma restrita elite nacional.
Há, exatamente, quinhentos e dois anos que uma elite dominante vem governando o país com as ações voltadas à contemplação dos seus interesses. Massacrando revoltosos, se antecipando a movimentos que espelhavam os reais anseios de uma nação, enganando o povo com promessas eleitoreiras, corrompendo o parlamento para fazer prevalecer o seu poder e continuar extorquindo, essa tem sido a prática política dos que nos têm governado nesses quinhentos e dois anos de Brasil. Quando após 489 anos os trabalhadores tiveram chance de colocar no poder um seu representante, um arrogante capitalista do setor industrial, ameaçou com a debandada de milhares de traidores da pátria que deixariam o Brasil. Esse fato, somado à corrução eleitoral, entre outros, também significativos, inviabilizaram a eleição de Lula.
Hoje, porém, com o caos econômico estabelecido no setor produtivo, a pequena produção agrícola destroçada pelo processo histórico da troca desigual, a dívida externa, inegavelmente, impagável e uma população economicamente ativa, acuada pelo desemprego e baixa remuneração, a nação brasileira não vê outra alternativa que não seja a de colocar no poder o ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva. Isso devido à capacidade de articulação com os seguimentos sociais, o seu patriotismo, o seu compromisso de resolver problemas considerados tradicionais como a questão da reforma agrária, distribuição de renda e a subordinação do nosso país ante às imposições do imperialismo econômico internacional.
Não se pode negar que a eleição de Lula para presidente da república se constituirá no maior marco político da nossa história, sobretudo, republicana. Um país, tradicionalmente, governado por conservadores, sob o controle rígido de marechais, generais, industriais e banqueiros, sob o olhar atento do imperialismo, certamente, vivenciará uma elite atordoada pelo abalo causado com a ascensão de um torneiro mecânico, líder sindical e político de esquerda, nascido no interior do semi-árido nordestino.
Mas, o mais importante não é nada disso que foi ai citado. O mais importante é que a eleição de Lula representará uma esperança para milhões de brasileiros e, para outros, na pior das hipóteses, uma expectativa de que o Brasil estará no rumo certo. A verdade é que o Brasil precisa mudar. As vantagens, o “toma-lá-dá-cá”, os apadrinhamentos, o desperdício de recursos públicos, o acobertamento da corrução, a indiferença com o sentimento de um povo injustiçado precisam ter um fim. E Lula representa um instrumento de combate a esses vícios. Por isso, ele se transformou em esperança para uns e espectativa para outros. Vamos lutar juntos. Com a força coletiva um Brasil melhor é possível. De pingos dágua são formadas as enchentes dos rios.
