Entre o portuga povinho, de quem brasileiro comum brada piorio, meia-dúzia de meses após a efectiva e palpável entrada do Euro em circulação, já se demonstra sem equívovo algum quanto bem queremos uns aos outros.
A avalanche dos cêntimos não cessa de acumular-se na cabecinha da desastrosa predação dos que não sabem, nem sequer ideia têm, para onde vão e arrastam os outros.
Um pratinho económico que andava por volta dos 350/400 escudinhos, subiu repentinamente para 600/650. Um pãozinho, um copinho, um cafézinho, coisas de 130, andam agora pelos 250/300. Em resumo, uma humilde e sóbria refeição que se obtinha por meio esmirrado continho, solicita doravante 4/5 Euros, ou sejam cerca de 800/1000 antigos Escudos. Um dinheirão, para aqueles a quem a sucessão dos dias não cessa de tombar-lhes cada vez mais avidamente em cima do pelo.
Com os respectivos acólitos, em negociações de altíssimo espasmo cerebral, Mário Soares, Cavaco Silva e António Guterres trouxeram-nos do 25 de Abril até aqui, sempre "cantando e rindo, levados sim pela voz do sentimento". Durão Barroso, com um nome adequadíssimo e que diz tudo, irá levar-nos até ali ou até acolá, só que ninguém sabe aonde.
E nós?! Nós pertencemos ao miserabilismo que nos mina o espírito e o corpo. A promiscuidade moral empurra-nos a cabeça para dentro do televisor e só daremos pelo erro quando tivermos a vida completamente electrocutada pela telenovela real que não tardará nada a bater-nos à porta. Então pertenceremos, sob as bençãos do arco-íris mediático, a nada e a muito menos do que os miseráveis figurantes de Vitor Hugo.