Estamos na iminência de um conflito bélico entre os Estados Unidos e o Iraque. O mundo, em grande parte, não concorda com essa decisão irracional do governo George W. Bush, que assume e decreta, assim, a proscrição da idéia de paz, tão almejada pelos povos, desde a extinção do nazismo da face da terra em 1945. Como se não bastasse a incompatibilidade de israelenses e palestinos, que se digladiam como feras famintas, que não se satisfazem com o pedaço de carne podre de suas presas, Bush, como Hitler, não sossega. E, agora, incita os seus aliados a formarem fileiras contra Saddam Hussein.
O embargo econômico ao Iraque, depois da guerra do Golfo, semeou o ódio não só no sentimento do povo iraquiano, mas entre os povos árabes, de modo geral, que nunca nutriram qualquer simpatia pelo imperialismo norte-americano. Compreende Bush, se derrubar Saddam do poder, o terrorismo contra a América acabará de uma vez por todas, porque o Iraque fomenta esse tipo de crime abominável. É a opinião do presidente. E o governante norte-americano esquece que a política dos EUA, com relação ao Oriente Médio, como à África Negra e a muitos outros países pobres da Ásia, nunca se investiu de sabor humanitário. A fome e as doenças dizimam todos os anos milhares de seres humanos na Somália, Tanzânia, Etiópia, Angola, Moçambique, Namíbia e outros. O índice de mortalidade infantil, naqueles países, apresenta um percentual acima de 50%. Enquanto isso, a demonstração do poderio norte-americano afronta a miséria pelo mundo, mandando para o espaço aparelhagens sofisticadas, de bilhões de dólares, para vasculhar, inutilmente, o universo em busca de formas de vida.
A interferência americana no Kuweit, em 1991, diante da invasão do Iraque, não teve o caráter de proteger aquele país, como que laços estreitos de amizade existissem entre a grande potência e aquela pequena nação. Absolutamente. Acima de tudo estava o interesse comercial e o bem-estar do povo americano. As reservas petrolíferas dos EUA têm que ser preservadas. O petróleo do Kuweit teria, como tem, que ser explorado e refinado para o consumo das limusines de luxo dos magnatas norte-americanos.
Se Saddam Hussein não dispõe de poderio atômico, talvez esteja se preparando mesmo com outros meios para enfrentar George W. Bush, na sua tresloucada decisão de invadir Bagdá, para tirar aquele governante do poder.
Bush está ressentido e se sentindo humilhado, como o homem mais poderoso do mundo, pelo desastre de 11 de setembro de 2001, em pleno coração financeira do mundo, que é Nova York, transformando em cinzas o símbolo do poderio norte-americano – os dois monumentais edifícios do World Trade Center. Tudo aquilo não se compara, e ele bem sabe, ao holocausto, ao verdadeiro apocalipse que experimentou o povo japonês em 1945, quando o então presidente dos EUA, Harry Truman, numa atitude também desvairada, decidiu jogar bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, para apressar a rendição do Japão. Nada foi tão cruel e desumano. Até hoje há vítimas, conseqüentes dessa monstruosidade, naquelas cidades.
Esse pensamento de Bush, que contraria boa parte da opinião dos americanos, que detestam a guerra e, também, desejam a paz, bem que podia tomar outra direção. O rumo do diálogo, por intermédio da própria ONU, que seria o foro competente. Ou que se escolhesse a neutralidade de algum país europeu como mediador. Mas, querer a guerra, o extermínio? É uma resolução irracional. Quem sabe, a reaproximação dessas nações não amenizasse a tensão mundial, diante das incertezas futuras? A queda de Saddam, se acontecer, não evitará outros atentados terroristas, como o das torres gêmeas do World Trade Center de Nova York e do Pentágono, em Washington. Creia nisso também o primeiro-ministro britânico Tony Blair, que se sentiu surpreso com os 52% dos seus compatriotas, contrários à pretendida invasão ao Iraque. Blair se diz ao lado do presidente norte-americano.
A idéia de Bush não tem encontrado ressonância na opinião de chefes-de-estado da Europa, como o primeiro-ministro alemão Gerhard Schröder e o presidente francês Jacques Chirac.
E Saddam Hussein não será o último iraquiano a odiar os Estados Unidos.