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Artigos-->Por onde anda Quixote de La Mancha? -- 11/08/2002 - 14:09 (OSAKA IANAYANIMI) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Será que voltou a lutar com os moinhos de ventos????





O ENGENHOSO FIDALGO DOM QUIXOTE DE LA MANCHA TAMBÉM ERA MANÍACO-DEPRESSIVO.



"Não tenho medo de nada nem de ninguém

e muito menos de dois leões que não passam de fracos gatinhos"

(Miguel de Cervantes - Dom Quixote).





Esta obra de Miguel de Cervantes foi o primeiro autêntico romance da literatura universal, defendem os doutos e, de fato, os moinhos de ventos que foram tomados como gigantes perversos, o rebanho de ovelhas considerado um imenso exército inimigo e a bacia do barbeiro que foi vista como o "fabuloso elmo de Mambrino", são passagens que já se incorporaram ao inconsciente da humanidade.



O pacato Dom Alonso Quixano, que de tanto ler livros de cavalaria, surtou e transformou-se no herói Dom Quixote De La Mancha, um herói de comportamento irretorquível, se observado pela natural disposição de sua alma, por sua coragem inabalável, seu amor irrestrito, sua pureza de consciência e sua fidalguia.



Há quem diga que D. Quixote era esquizofrênico. Não quero aqui tecer confutações científicas a esse diagnóstico, mas o fato de, ao final, D. Alonso Quixano recobrar o juízo e se deprimir com tudo o que fez, é um indício forte de que D. Quixote e também D. Alonso, pois são um só, sofriam de transtorno bipolar do humor.



Em verdade, nós perdemos muito por, na época, não existir medicação de controle, com certeza, ainda hoje, teríamos descendentes reais do nobre cavaleiro. Entretanto, o herói alvorotado apenas podia contar com o seu "imbatível bálsamo de Ferrabrás ", composto de ervas daninhas e outras coisas semelhantes, que sempre derivava em diarréias lancinantes e que, com certeza, não continha nenhuma gota de carbonato de lítio. Fosse o bálsamo milagroso uma simples caixa de carbolitium, teríamos, então, um inaudito criador de estórias, talvez histórias, um visionário cineasta, ou, quem sabe, o Presidente do Poder Constituinte Brasileiro, quando da promulgação da Constituição Federal a 05 de outubro de 1988.



D. Quixote, tratado com a atenção merecida, poderia enfrentar "Darth Vader" e poria termo à famigerada "Guerra nas Estrelas", seria parceiro essencial de todos os "fabulosos e contemporâneos" heróis do cinema americano e, sem esforço algum, ministraria lições de "como ser menos megalomaníaco" a Fernando Henrique, Bill Clinton e Saddam Hussein.



Ah! Que falta nos faz o velho fidalgo. Seu espírito excêntrico, controlado pelo o uso do lítio, iria se manifestar maravilhosamente. Entretanto, a verdade é que o perdemos para uma crise de depressão fulminante e para os ciclos de uma doença perversa.



Pudéssemos entrar na fabulosa máquina do tempo, descrita em "Operação Cavalo de Tróia", de J. J. Benitez, e levaríamos até o nobre cavaleiro alguns comprimidos antidepressivos e algumas gotinhas de haloperidol (medicamento para conter crises eufóricas)para tudo ficar prontamente reestabelecido. Teresa Pança acompanharia o folgado Sancho na administração de sua ilha, "a bela" Dulcinéia Del Toboso, de amor platônico derivaria para efetivo matrimônio e até o "virtuoso" Rocinante, o cavalo anêmico, poderia fortalecer-se.



Certamente o inaudito Quixote, se medicado, auxiliaria até nós, os profissionais do direito, aconselhando: "Nunca interpretes arbitrariamente a lei, como costumam fazer os ignorantes que têm presunção de agudos"(Miguel Cervantes). Sem dúvida, colocaria-se ao lado de Nietzshe e, em coro, repetiriam: "Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre, também, alguma razão na loucura"(Nietzshe). Acredito mesmo que alertaria Joseph K., o personagem principal de Kafka em "O Processo", sobre a lenda "diante da lei" e pregaria espalhafatosamente que devemos desobedecer às autoridades ilegítimas. Condenaria, veementemente, acompanhando Dante, os que se dizem neutros: "Os lugares mais quentes do inferno são destinados aos que, em tempo de graves crises, mantêm-se neutros"(Dante Alighieri).



Com um pouco mais de tempo, Dom Quixote atravessaria o atlântico e chegaria ao Brasil para dar continuidade a seus feitos magnânimos. Aqui, sem titubear, iria ao Rio de Janeiro em busca do Major Policarpo Quaresma, outro sonhador e nacionalista, ambos sairiam ao encontro de outro herói, desta vez um anti-herói, o cínico e, talvez, vidente, Macunaíma. Digo vidente porque Macunaíma é acusado de ser incoerente por ter nascido preto e de repente ter virado branco. Ora, somente a esperteza quase mediúnica de Macunaíma para transformá-lo inclusive na inspiração de Michael Jackson.



Dom Quixote De La Macha, agora no Brasil, certamente colaboraria na Campanha do Major Policarpo à Presidência da República e, eleito o Major, aprovariam o tupi-guarani como língua oficial do Brasil. Em seguida, certamente entraria em "Os Sertões", de Euclides da Cunha, para acrescentar suas elucubrações às constatações do renomado engenheiro.



Aliás, penso que os sertanejos tinham algo do espírito de D. Quixote, pois o próprio Euclides da Cunha afirmou: "Os sertanejos invertiam toda a psicologia da guerra: enrijavam-nos os reveses, robustecia-os a fome, empedernia-os a derrota".



Sabe, às vezes acho que estou falando de vivos e não de mortos ou personagens. São tão fortes as razões que emergem desse uníssono contestar.

Entretanto, nenhum sábio, louco ou nigromante, afinal, foi capaz de salvar o velho Quixote. Parece que se o tivéssemos amparado, teríamos salvo uma mente brilhante, como muitas das que temos aqui na nossa realidade, a padecer de inúmeros males, ao mais absoluto descaso das autoridades e da sociedade, ou seja, de uma forma ou de outra, de nós.



Michel Foucault, Apud Otto Maria Carpeaux, in "Cervantes e o Dom Quixote", inserto na edição de Dom Quixote De La Mancha, Ed. Civilização Brasileira, refere-se em Les Mots Et Les Choses, "a Dom Quixote como exemplo de louco que tem razão, sua própria razão. Talvez não com sua loucura, mas certamente com o seu protesto".



Viva, pois, o eterno protesto da louca razão do fidalgo D. Quixote!





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