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Artigos-->O preconceito e a antropologia -- 08/08/2002 - 09:23 (rodrigo guedes coelho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Uma breve biografia minha: tenho 26 anos e sou deficiente físico desde que nasci, pois tenho paralisia cerebral. Ao contrário do que as pessoas pensam, a paralisia cerebral não é um cérebro paralisado e sim, um mal funcionamento da parte motora pela falta de oxigênio quando nasci. Na hora do parto não se teve o cuidado necessário. Mas como estava escrevendo, descobri que o deficiente faz parte da história da humanidade junto dos seres perfeitos. Eu li que desde o princípio o homem era nômade e não tinha idéia das coisas, largavam seus idosos e seus deficientes pelo caminho pois foram encontrados ossos de idosos com artrose que não podia mais caminhar junto aos sãos. Alguns antropólogos acreditam que não se tratava de maldade, mas de um ato de manter o ritmo do clã. Eles acreditam que também eram largados todos os que não podiam caminhar incluindo o deficiente, sendo que muitos morriam pelo caminho.



Bem, a humanidade por muito tempo foi nômade e viveu sobre a sombra pré-histórica e ao longo do processo se descobriu a agricultura. Assim tudo se reunia em volta de uma cabana simples, ou numa caverna. Um clã poderia ter muitos membros ou alguns poucos, conforme a criação e das condições. Assim, os clãs ficavam pertos uns dos outros e assim alguns se juntaram e cada vez mais foram se multiplicando os habitantes e assim teriam que escolher quem iria dirigir aqueles agrupamento de clãs e assim nasce a metrópole. Muito embora a evolução humana estava cheia de bizarros nascimentos (muitos acabavam por serem mortos), ou de crenças que dominavam aqueles povoados.



Umas das mais famosas metrópoles era a Grécia, aliás foi berço da civilização ocidental que floresceu nesse período. As mais importantes eram: Athenas, Esparta, Creta, Jônia e Tróia. Lógico que muitos ouviram dizer ou leram sobre a famosa guerra entre Tróia e Athenas quando nasceram os deuses gregos, em histórias contadas pelo poeta Homero. Homero, como mostra alguns estudos, era cego e só declamava os poemas não escrevendo nenhuma linha sequer, poemas que foram escritos muito tempo depois por aqueles que ouviram aquelas histórias. Um cego contando histórias e introduzindo deuses numa cultura que estava sendo firmada. A guerra começa quando Helena é seqüestrada pelos troianos. Menelau, rei ateniense, pede ajuda para Agamenon, seu irmão, que também tinha um reino. Aclama todos os reis gregos e saem rumo a Tróia onde iriam ficar por dez anos terminando a batalha com o cavalo gigante. Tendo êxito voltam, mas um rei fica perdido por muito tempo, Ulisses ou Odisseu, que enfrenta a fúria de Poisedon após ter dito ser maior que o deus dos mares.



Mas no meio desses deuses haviam um deus coxo chamado Hefesto. Sua história não é umas das mais bonitas, ao nascer, coxo e uniforme, com séria dificuldade de andar. Insatisfeita Hera joga-o do monte Olimpo para ser morto pelas feras da floresta, sendo encontrado por uma mulher e criado por ela até ficar adulto, quando é aceito novamente pela mãe. Desenvolvendo habilidades para a arte metalúrgica fazia armas para seus irmãos, tendo até feito um trono para seu pai e sua mãe. Mas numa briga entre eles toma partido da mãe e é jogado mais uma vez do monte Olimpo direto no monte Etna, para onde fora transferida sua metalúrgica. Lá se casa com Afrodite, mas quando pega Afrodite traindo-o, aprisiona-a em celas feitas por ele mesmo.



Vemos como Hefesto é apenas um reflexo da cultura que assolava o mundo grego. Um dos estudos mostra que os gregos deixavam ao relento as crianças nascidas imperfeitas. Assim como a mãe do deus joga-o do monte Olimpo, pela cultura que foi feita a lenda, em Esparta, as crianças que não eram aptas para lutar nos exércitos, não viviam, ou seja, eram jogadas também em um abismo. Um conselho resolvia se viveriam ou morreriam. No oriente se tinha uma cultura de resolver matando. Se nasce deficiente a criança era executada, pois acreditavam ser mal presságio dos deuses. Em algumas etnias asiáticas os deficientes eram divinizados, talvez por isso que os gregos fizeram um deus coxo, Hefesto. Encontramos na bíblia vários personagens que em algum momento mostram algum tipo de deficiência. Moisés por exemplo, por um problema na fala, se comunicava através do seu irmão com os outros. Zacarias por negar o nome que foi designando para ser dado a João o batista, fica mudo. Quando Jesus sai em sua missão vários aleijados saíram a sua procura por uma cura, o mesmo sempre curava, sempre fazendo milagres.



Posso dar inúmeros exemplos de aleijados na história. Nos países germânicos também tinham um deus coxo, ou seja, deficiente; o deus germânico Wayland, um ferreiro famoso que confeccionou peças famosas como a espada de Siegfriend (Nothung) e a do rei Arthur (Excalibur). Sempre aparecendo nas histórias e em lendas da Europa. A principal foi a vingança do rei que o aprisionou e quebrou seus joelhos. Ele manejou um plano que matando os filhos do rei e deflorando a filha fugindo logo após com as asas que ele mesmo fabricou.



Na Idade Média todos os deficientes eram cuidados por casas assistenciais pelos senhores feudais, alguns, no entanto eram condenados pela Santa Inquisição sendo queimados vivos. Estudos indicam que povos como os celtas faziam dos coxos, druidas, muito embora, eles achavam os deficientes como mal presságio dos deuses. Mas a maioria era jogada nas ruas e precisava pedir esmolas e mendigar. Muitos até faziam quadrilhas que ao se juntar dividiam o que arrecadavam. Ainda na Antiguidade, já se enfrentava esse problema, por isso vários pensadores como Platão e Aristóteles já pensavam de uma maneira de resolver. Em A República, Platão defendia a eliminação dos deficientes. Aristóteles defendia que todos que não fossem perfeitos não tinham alma e em umas das suas obras ele diz: "É mais fácil ensinar um ofício a aleijado do que sustentá-lo.



Na Renascença o problema foi levado a uma magnífica evolução tanto na área médica até na área de aparelhos. Durante a era moderna foi inventada a cadeira de rodas por um alemão, a muleta e outros aparelhos. Na revolução industrial, ou seja, no surgimento do capitalismo os deficientes deveriam ser incluídos na sociedade e até virar mão-de-obra. Com o surgimento do socialismo de Karl Marx surge um paradoxo importante para o deficiente que se transforma em mais uma classe excluída. Uma deficiente física conhecida foi Rosa Luxemburgo. Ela era acometida de má formação, ou seja, uma perna maior que a outra. Foi assassinada com um dos seus companheiros.



Na segunda grande guerra os nazistas matavam os deficientes aos montes, sempre dizendo que eles tinham que ter uma morte digna pelos sofrimentos sobre sua deficiência. O próprio Hitler dizia que estava matando seres que só sofrem, imperfeitos e eternos sofredores. Aqui no Brasil desde a implantação de algumas leis, os deficientes são respeitados num ponto de vista judicial, mas, em outros apectos, infelizmente, não são não. Vivemos a história mundial como todo mundo, como se nós fossemos seres humanos incapazes de pensar e de sentir. Seja lá no Egito antigo até em São Paulo de hoje somos e seremos deficientes. Modo errôneo de chamar-nos de incapacitados, de portadores de deficiência ou de necessidades especiais, de eficientes para encobrir que somos simplesmente deficientes. Temos genes para afirmarmos que somos da mesma origem, viemos do mesmo ancestral, então temos que afirmar que somos seres humanos deficientes de movimentos motores e assim nos conformaremos em sermos meros corpos num imenso e maravilho universo. Um grão de areia num copinho d’água em um imenso e maravilhoso balé dos planetas que faz com que pensemos se isso tudo é por acaso, ou se em vez disso não existe uma grande e maravilhosa força que rege tudo.



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Amauri Nolasco Sanches Junior é poeta e escritor - portador de deficiência física.











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