----- De tanto, naturalmente, se aprazentar e magoar à procura da expressãp coerente para seus prazeres e suas mágoas, face à selva literária do cinzento e inquietante tempo que viveu, a Pessoa terá surgido a espontânea necessidade de se multifacetar e interrogar-se profundamente.
----- Com as duas palavrinhas "poeta fingidor", e logo adiante com "finge a própria dor", condenou, talvez sem propósito, os futuros militantes da poesia à dúvida antecipada e que ele só descobriu depois. Os heterónimos que adoptou, provam que teve de esconder-se na inventada pele de outros para ser o mesmo, à procura de emendar-se e quiçá refugiar-se de si próprio.
----- Sim, o poeta finge, quamndo se lhe impõe a prova de demonstrar capacidade no domínio das liras e das harpas, mas também sofre imenso logo que se lhe depara a realidade dura da existência e o ego vero que experimenta, tendo de apascentar o rebanho dos sentimentos em campo verdejante ou daninho e levá-lo através da tortuosa monyanha, ora ascendente para o sublime, ora descendente para o que o deprime.
----- E vê-se, sente-se, entre a legião dos que hoje em dia fazem versos, que o diagonóstico sentimental das diversas tendências se revela nas facetas: fingida - fácil, estimulante, deliciosa - e sentida - difícil, sufocante, dolorosa - até que se estabeleça o enlace definitivo do bem e do mal até à luz.
----- E sabem? Prazenteira ou dolorosa a poesia é sempre um bálsamo com que se pode banhar e lavar a alma sempre esplêndidamente.
----- Agora, estou triste e à procura de suave alívio no lago das palavras. Nado deliciosamente ao luar envolvido em águas de fogo.
----------------- Torre da Guia ------------------