O processo de troca desigual que ao longo de décadas se observa entre os produtos agrícolas e os bens industrializados tem contribuido para o empobrecimento em que se encontram os que vivem da agricultura, notadamente, os pequenos produtores rurais proprietários e os trabalhadores sem terra. Cito esses dois porque são eles que desenvolvem a pequena produção de milho, feijão, mandioca, arroz, batata-doce, entre outros. No entanto, os seus produtos não têm um valor de troca capaz de viabilizar as suas atividades econômicas. Ou seja, a pequena produção rural é, economicamente, inviável. A desigualdade de troca levou-a à essa situação. Os pequenos produtores rurais, ano após ano, vêm produzindo sempre mais para poderem adquirir o mesmo volume de bens industrializados do ano que passou. A sáida que seria, é claro, a valorização dos seus produtos tornou-se impossível; até porque, os consumidores que na grande maioria são os trabalhadores assalariados, não teriam condições de pagar um preço melhor pelos seus produtos. Como se sabe, quando o salário mínimo foi instituído tinha ele um valor, ao preço de hoje, de aproximadamente, R$1.100,00. O que quer dizer, então, que o assalariado daquela época podia remunerar melhor os produtos agrícolas. Os pequenos produtores rurais sofreram dois grandes golpes do setor industrial, quais sejam, o da troca desigual e do achatamento salarial que se verificou em igual período. Faço essa colocação para chamar a atenção dos que fazem o programa do Governo do PT, no sentido de dar uma maior atenção a esse problema, bem como, encontrar uma saída, o que não é tão fácil. Há quem queira assegurar que o problema consiste na falta de tecnologia, de semente selecionada, de mecanização, assistência técnica, juros subsidiados, escoamento, comercialização eficiente. Mas, não é nada disso. Não quero dizer que não seja importante. O problema fundamental é a inexistência de um preço justo para os seus produtos. Se este fosse bem remunerado, certamente, os seus agentes teriam tudo isso que foi citado, e que considero importante. Tinham, inclusive, muito mais, que é a capacidade de contrair empréstimo sem a necessidade do ajuda do subsídio. Portanto, um programa de governo de dignidade, voltado à cidadania, não pode deixar de lado essa realidade cruel e injusta porque passam os pequenos produtores rurais. O governo poderia p. ex., estabelecer um sistema de compra desses produtos para matar a fome de milhões de brasileiros. Estabelecer uma política de preços mínimos que fosse evoluindo, simultaneamente, com a política de distribuição de renda, que esperamos seja feita. Acredito que haja outros mecanismos que possam, pelo menos a curto e médio prazos, atenuar essa dificuldade do homem do campo. Isso, sem forçar a mudança da sua cultura. Isso, sem esquecer a reforma agrária que o saudoso Patativa de Assaré há mais de meio século já defendia:
Essa terra é dismidida
E divia ser comum,
Divia ser repartida
Um taco pra cada um.
Mode morar sucegado.
Eu já tenho maginado
Qui a baixa, o sertão, a serra
Divia ser coisa nossa.
Quem não trabaia na roça
Qui diabo é qui qué cum terra?
Eu, que também gosto de fazer meus versos, digo sobre a situação difícil do homem do campo:
Já no campo a vida é dura,
A injustiça ali campeia,
Sofre o homem com a estiagem
Ou quando vem muita cheia,
E se um bom inverno dura
Pra produzir com fartura...
O preço do grão arreia.
Aliás, diga-se de passagem, a lei da oferta e procura só funciona sobre a pequena produção rural.