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Erotico-->AS AVENTURAS DO PADRE DEODORO EM CAMPOS ETÉREOS — XVI -- 01/08/2003 - 06:49 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Roberto quis uma explicação:

— Quer dizer que tudo, no âmbito do Universo em que habitam os encarnados, existe em função do movimento?

— Segundo a minha teoria, sim.

— Faz sentido, observou Deodoro, mas isso não é extremamente elementar?

— Não será elementar, querido Professor, se extrairmos uma conseqüência surpreendente, qual seja, a de que, existindo o movimento, o espaço e o tempo são decorrentes dele, de sorte que nem um nem outro existem como elementos constituintes da realidade carnal. Eu não disse que o que existia era uma convenção? Mas não quero esmiuçar os corolários de semelhante assertiva. Fique a observação gravada na memória para futuras especulações junto a espíritos mais evoluídos. O que me importa é fazer referência a esta dimensão em que nos encontramos. Se, na Terra, as pessoas envelhecem, como vimos (e experimentamos), aqui a sensação é de rejuvenescimento, pelo menos dentro dos quadros vibratórios em que nos situamos. Esta é uma constatação recente a partir da aparência de Deodoro.

Citado, o Monsenhor não perdeu a oportunidade:

— Quer dizer que o tempo aqui reflui?

— Em tese, é isso mesmo o que acontece do ponto de vista psíquico, porque, não existindo o sentido do envelhecimento e sendo a morte, como vimos, simples passagem de um plano existencial a outro, somos forçados a concluir que o movimento que imprimia o sentido da vida para a concepção dos encarnados agora oferece aos espíritos a facilidade do aperfeiçoamento. Vou dar um exemplo. Na carne, o fato de irmos de um ponto a outro, qualquer que seja a distância a ser vencida, nos faz desgastar alguma energia armazenada no organismo. Aqui, deslocamo-nos pela aplicação do pensamento, de sorte que não há desgaste sensível, mesmo porque, se as criaturas se esfalfarem por não terem o controle do trânsito segundo as novas leis, irão recompor as energias através de simples assimilação dos fluidos sempre à disposição, porque universais. E essa recomposição sempre se dá sem nenhuma seqüela para o organismo espiritual, ou, como chamou Deodoro, para o perispírito.

Deodoro, novamente citado, exerceu o direito de falar:

— Quer dizer que o perispírito, devo concluir, é indestrutível?

A pergunta surpreendeu Hermógenes, mas o antigo aluno saiu pela tangente:

— Esta é uma daquelas questões que deveremos apresentar aos irmãos mais sabidos, aqueles mensageiros do Senhor que nos disseram que vêm buscar as almas no Purgatório para conduzi-las ao Paraíso Celeste. A minha sapiência só chega até aqui, por isso proponho, em concordância com os que me precederam, que busquemos, sem ilusões de catequese, as almas reunidas em povoados, aldeias, cidadelas ou castelos e conventos, para buscar o aprendizado empírico de que necessitamos, à vista de nossa pouca experiência nesta zona umbrática. Eu não disse que os meus conhecimentos eram meramente teóricos?

Deodoro punha muita admiração no discernimento analítico do companheiro, sentindo-o, porém, inseguro, como que necessitado de confirmar o cunho científico que desejara atribuir aos raciocínios.

Não serei capaz de encontrar algum trecho bíblico de reconforto para as ânsias de nossas almas, à vista das considerações que fazemos na falta de freqüentar a glória do Senhor?

Foi então que se materializou em suas mãos uma bíblia. Não se espantou, porém, porque sabia que outros acontecimentos iriam colocar mais luz nas mentes predispostas a encontrar o melhor caminho para a salvação.

Afinal de contas, pensou, nenhum de nós está mal-intencionado nem desejando, egoisticamente, o seu próprio bem.

À vista da frase em que julgava o grupo, pôs-se prevenido para as observações dos demais, no sentido de lhe colocarem algum obstáculo às idéias, como vinha ocorrendo. Contudo, não forneceram nenhum indício de que estavam preocupados com as meditações dele.

Acho que a exposição de Hermógenes deve ter causado reviravoltas mentais em todos. Eu mesmo me teria abalado, se não tivesse a convicção de que Deus fez tudo perfeito. Se há alguma coisa que não me parece rigorosamente justa, evidentemente devo atribuir o fato à minha fraqueza intelectual. O que não posso admitir é que se enfraqueça a minha fé ou que morra a minha esperança.

Foi então que leu, para todos tomarem conhecimento, o trecho do livro aberto em seu colo:

— Eis o que encontrei em São Lucas, capítulo XIV, versículos 12 a 14, para nos confortar e pôr um sentido evangélico em nossa peregrinação: “Ele disse também a quem o havia convidado: Quando você receber para jantar ou para cear, não convide nem seus amigos, nem seus irmãos, nem seus parentes, nem seus vizinhos ricos, no receio de que eles o convidem em seguida, por seu turno, e assim lhe compensem o que haviam recebido de você. — Mas, quando você oferecer uma festa, convide os pobres, os estropiados, os coxos e os cegos.; — e você ficará feliz, porque eles não terão condição de lhe compensar.; pois isso lhe será compensado na ressurreição dos justos.”

Hermógenes, parecendo descrente de que Deodoro houvesse entendido as suas restrições quanto à pregação religiosa, inquiriu dele uma definição a respeito de sua interpretação do texto.

— Meu caro Hermó, não fique preocupado em relação aos sentimentos que adquiri à vista de suas francas e decisivas observações. Considero-as muitíssimo judiciosas, tanto que o consolo que encontro no texto do evangelista grego recolho, não da prestação de serviços que pretendíamos oferecer aos pobres de espírito, mas do banquete de luz que nos será propiciado por aqueles irmãos que conhecem os nossos aleijões, os nossos pecados, as nossas fraquezas e que nada poderão esperar de nós, já que nada possuímos com que retribuir. E como sei que seremos agraciados pela boa vontade dos anjos? Porque Jesus prometeu, em nome do Senhor, que serão bem-aventurados os que derem o pão da vida espiritual a nós, os ignorantes, quando da ressurreição dos justos.

O grupo todo entendeu que o momento tinha tonalidades sublimes e se viu coagido a recitar um padre-nosso, em regozijo pelos nobres sentimentos que foram capazes de gozar na intimidade dos corações. Deodoro, sobretudo, congratulava-se por ter buscado saciar a sede de justiça dos parceiros.

A relativa tranqüilidade ambiental que se seguiu parecia dizer aos sete que se encontravam de bem com as forças da espiritualidade superior. Todos se irmanaram em sentimento de muito amor e compreensão para com as leis de Deus, tanto que não houve nenhum que titubeasse em aceitar o fato de serem eles os necessitados de apoio, tantas haviam sido as dúvidas de que se lhes encheram os corações e as mentes. Como corria o mesmo sentimento, não precisaram conversar a respeito. Contudo, Deodoro acabou não entendendo o fato de que as dúvidas pareciam ser emotivas, quando o mais que fizeram até então foi buscar discutir os assuntos de um ponto de vista intelectualizado:

— Amigos, tenho a sensação exata de que não estamos sozinhos, porque as vibrações que recebo não sou capaz de caracterizar como de seres menos dotados do que a gente quanto ao poder dos raciocínios. Dentro de mim — encarnado, diria “no fundo da alma” — sinto que os fatos se desenrolam por padrões subjetivos, como se fossem produzidos por nossas necessidades de adaptação ao ambiente, através, porém, do temor de ferirmos susceptibilidades, quer de cada um de nós, quer de espíritos passíveis de serem atingidos por nossas emissões de pensamentos em desarmonia com o bem. Se me permitirem ligeira divagação provocativa, irei mais longe, porque me parece que estamos sob estreita vigilância dos protetores, justamente aquelas entidades a que denominávamos de anjos da guarda, os quais sabem perfeitamente reconhecer as nossas atitudes como fruto da personalidade, segundo a formação terrena e também como proveniente de anterior peregrinação pelo etéreo. O que me faculta esta colocação muito pouco católica, vamos dizer assim, é o fato de estar tentado a abandonar o objetivo catequético ou missionário, de acordo com a impressão que me restou de que precisaríamos freqüentar algum seminário nestas zonas tão...

Hesitou quanto a designar o local em que se encontravam. Os outros não desejaram completar a frase, de sorte que o pensamento permaneceu truncado, a provocar o ensimesmamento de todos, pela força dos pensamentos e intenções novas das palavras do Monsenhor, a quem haviam decidido seguir. Indiferente ao que os demais poderiam estar pensando, Deodoro prosseguiu intimamente no exame das razões que o fizeram suspender a frase em meio:

Se estou neste local ermo, apenas com os reflexos longínquos de expressões que interpreto como de dor, de acusação, de raiva, de ódio, porque me parecem gritos e pedidos de socorro, maldições e execrações, como é que somos capazes de nos integrar numa equipe de debates de temas filosóficos, sem o interesse de sair em busca daqueles seres que nos dão a nítida impressão de estarem precisando de apoio moral e religioso? Se estiver o meu anjo aqui por perto, não seria de todo conveniente que nos pusesse a par dos desígnios do Senhor para pessoas que buscam ser sensatas, na ânsia — que digo? — na expectativa — é melhor — de cumprir uma obrigação evangélica, tanto que os textos se reproduzem com fidelidade, o que esta Bíblia que me apareceu poderá confirmar sempre?

Interrompeu a linha de pensamentos a ver se algo extraordinário, como a aparição do anjo, pusesse fim às tais ânsias ou expectativas. O mais que alcançou foi chamar a atenção dos outros, que lhe enviaram, sem muita sutileza desta vez, poderosa carga de vibrações interrogativas.

— Estive pensando, disse o Professor, que já está na hora de sermos visitados por nossos anjos ou protetores. Eis o texto em que tal feito se deu para Maria, a Virgem Santíssima: “No sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado da parte de Deus, para uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, — a uma virgem desposada com certo homem da casa de Davi, cujo nome era José.; a virgem chamava-se Maria. — E, entrando o anjo aonde ela estava, disse: Salve!, agraciada.; o Senhor é consigo.”

Joaquim, que se aprestava para falar por ser o próximo da lista, desejou intervir desde logo:

— Bem sei que o trecho se encontra em São Lucas, capítulo 1, versículos 26 a 28. Mas sei também que só aí se encontra o episódio da anunciação a Maria da vinda do Messias. São Mateus narra, no Capítulo 1, versículos 19, 20 e 21, outro acontecimento: “José, seu esposo, sendo justo e não a querendo infamar, resolveu deixá-la secretamente. — Enquanto ponderava nestas cousas, eis que lhe apareceu em sonho, um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não tema receber Maria, sua mulher, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo. — Ela dará à luz um filho e você lhe porá o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles.”

Intuindo que Joaquim iria discordar de sua colocação, Deodoro foi logo perguntando:

— A que conclusão deseja chegar o versátil companheiro?

Arnaldo não gostou do adjetivo:

— Por que “versátil”, se o amigo é o que menos participa?

Alfredo reforçou:

— Cuidado, Professorzinho, que as velhas manias costumam transparecer ao influxo das vibrações emocionais.

Hermógenes foi taxativo:

— Vamos deixar que cada um se expresse com pleno direito de discordar. Cada um terá a sua vez de falar.

Roberto demonstrou que não estava entendendo tudo o que se passava:

— Desconfio que o caso esteja a gerar desmesuradas reações. Aceitemos o versátil, provisoriamente, e constatemos, em seguida, se está de acordo com a personalidade de Joaquim, através do que terá para dizer.

Everaldo, para não se isentar, acrescentou:

— Se a cada participação de alguém, todos tivermos de dar a nossa opinião, não sairemos daqui tão cedo.

Deodoro sentiu comichões na língua, mas fez um gesto compreensivo, dando a entender que se calaria.

— Quanto a não sair tão cedo, sem desviar-me do assunto, creio que não importa, porque ninguém está a perder nenhuma oportunidade de realização. Neste meio em que existimos agora, nada se degenera, pelo que já constatamos. Ao contrário, a impressão que temos é a de que o tempo, como disse Deodoro, reflui. Com o que não concordo. Mas a expressão é válida no que respeita ao desenvolvimento de certas qualidades imanentes a esta zona vibratória, de forma que a melhoria de cada um estará necessariamente engatada à locomotiva do amor que vai crescendo em nossos corações uns pelos outros.

Deodoro aplaudiu o parceiro silenciosamente.

— Obrigado, Monsenhor. Mas o que eu queria dizer quanto ao anseio de se anunciar um anjo para o grupo irá justificar plenamente o “versátil” que me atribuiu. Vejamos. Desde tempos anteriores ao seminário, o episódio bíblico da anunciação me provocava engulhos. Um dia, discuti com um sujeito espírita afirmando-lhe que a virgindade de Maria — bem como a aparição do anjo — eram pontos de crença dogmática.

Deodoro impacientou-se:

— Não ficou claro se essa conversa foi antes ou depois do sacerdócio.

— Foi quando já estava sagrado.

— E quais eram as suas dúvidas anteriores, aquelas de jovenzinho?

— Antes eu pensava, inconseqüentemente, que a Virgem não anunciaria a sua condição de virgindade, apesar de casada, para não desfeitear o marido, principalmente porque naquela sociedade ninguém iria acreditar que se engravidara do Espírito Santo. Então, quem é que contaria ao grego São Lucas, senão ela mesma, mas muito depois, quando a história poderia passar como de profunda vaidade, tendo em vista a declaração de Gabriel de que ela recebera a graça de Deus. Quanto ao sonho de José, se acresce às razões anteriores o fato de ele ter falecido antes da crucificação do filho. Se tivesse dito às pessoas de seu círculo o que o anjo lhe anunciara, teria provocado a ira contra Jesus, porque só bem depois é que este se revelou o salvador da humanidade. Vejam que eu buscava critérios lógicos e psicológicos para justificar o fato de não crer nessas passagens. No seminário, mais velho, aceitei a necessidade dos dogmas e considerei os trechos como de superior inspiração dos evangelistas.

— Até que, mais tarde, apressava Everaldo, você se deparou com os argumentos do espírita que condenavam os dogmas.

— Isso mesmo. Mas o danado tinha uma explicação com a qual eu não podia concordar sem ferir os preceitos do catolicismo, que me amparava moral e religiosamente.

— Qual seja, insistia Everaldo.

— O sujeito, que se tornaria um bom amigo no decorrer da vida, para quem eu lamentava a perda do Paraíso, porque não freqüentava a missa, nem se confessava, nem comungava e expendia conceitos francamente desrespeitosos, uma vez que declarava que Maria não era virgem e que José não era casto, porque, segundo ele, gerara muitos filhos com Maria e com a esposa anterior, viúvo que era ao se casar com a mãe do Nazareno, saiu-se com a novidade da participação dos espíritos para a feitura dos Evangelhos, sugerindo que foi o próprio interessado, José, quem ditou mediunicamente os textos de São Lucas e de São Mateus, inventando José toda a história quando tomou conhecimento de que o filho poderia, verdadeiramente, ser o Cristo dos profetas. E citava São Mateus, na seqüência do capítulo 1: “Ora, tudo isto aconteceu, para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor por intermédio do profeta: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel (que quer dizer: Deus conosco).”

Deodoro aparteou:

— Se fosse assim, que bela idéia fazia ele da moral de São José!

— Foi o que eu disse a ele, observou Joaquim. Mas não se apertou, afirmando que José somente foi santificado muito depois e que era um espírito imperfeito, como todos nós, tanto que não foi capaz de, em vida, perceber o primor de filho que possuía, a considerar o meu argumento — vejam a astúcia do gajo — de que Jesus era o próprio Deus, como eu afirmava.

Deodoro, sorrindo, instigou o grupo:

— O bom amigo Joaquim, com muita versatilidade, ainda não justificou a não-presença dos anjos protetores para nos esclarecerem a respeito de nossas dúvidas, especialmente das emocionais, porque as do intelecto nós precisaríamos de mais do que palavras para nos convencermos, tantos são os titubeios dos raciocínios.

Alfredo obtemperou:

— Vejo que o empirismo que propugnei está fazendo prosélitos.

Mas Joaquim, desejoso de encerrar a argumentação, assumiu a palavra:

— A presença dos protetores não deve ser requerida porque, pelas próprias citações, qualquer que seja a fonte interpretativa, católica ou espírita, Deus não desampara as criaturas, de forma que, se tivermos merecido um ápice de graça, pela virgindade de nossas intenções quanto a ajudarmos os que sofrem ou os que vão nos oferecer o banquete da sabedoria, iremos sentir que os anjos estão à nossa volta. Nós é que não lhes damos condições, segundo o grau de nossa inferioridade, de se tornarem visíveis. Não é verdade que concordamos que nos reunimos neste mundo conforme uma faixa de progresso comum? Como é que seres cujas preocupações estão além de nossa capacidade de apreensão da verdade irão ditar-nos as regras a serem seguidas?

Deodoro não esperou que a conclusão se estendesse muito no aspecto negativo ou pessimista e interferiu:

— Há alguns momentos atrás, sentíamo-nos apaniguados pelas bênçãos de Deus, porque o momento nos facultava a união das mentes e das emoções, no sentido de nos congregarmos ao Universo como criaturas de Deus. Sendo assim, não vamos deixar-nos embalar por pensamentos de baixo teor. Conservemos o ideal do amor e da justiça, com muita fé e perseverança, para sermos caridosos com nós mesmos. Eis aí a resposta que tenho para a observação de Hermógenes, quando sugeriu que havíamos tramado contra a nossa própria alma e que precisamos analisar que tipo de auto-ajuda nos aliviará dos pecados que carregamos.

— A teoria do pecado que subsiste, interveio Roberto, talvez seja o tópico mais adequado para eu iniciar a minha participação. Na qualidade de mais jovem e por haver morrido em crise de consciência, por não admitir a terrível moléstia de que fui acometido, peço permissão para ser bastante atrevido nas observações que pretendo fazer. Louvo-me, desde logo, das informações contidas em “O Livro dos Espíritos”, feito publicar em 1857, em sua primeira edição, por Allan Kardec, o sábio nascido na cidade de Lyon, na França, o qual teve de enfrentar inúmeras vergastadas dos nossos bons antecessores sacerdotes da Igreja Católica.

— Conte-nos só uma dessas verrumadas célebres, pediu Deodoro, que lutava por afastar da memória vivaz os dizeres da obra que um dia lera para refutar.

Roberto não hesitou:

— Aconteceu na Espanha, quando vários volumes de suas obras foram enviadas para venda. O bispo, cuja memória respeito e cuja atitude hoje deve ter superado, não aceitou a heresia, estabeleceu um tribunal do Santo Ofício, em pleno século XIX, e fez queimar os livros em praça pública, na falta, evidentemente, de poder aplicar a penalidade ao autor ou autores, caso admitamos que foram espíritos os que forneceram as respostas aos questionários de Kardec.

— Como é que você ficou sabendo disso tudo? — quis saber Deodoro.

— Com perdão do atrevimento, respondeu-lhe Roberto, aconteceu que dei vazão aos sentimentos de revolta contra o Criador, ofendendo-o em nome da Igreja, porque não me curava, como recomendou Jesus.

Deodoro fez questão de recitar:

— “Curem enfermos, ressuscitem mortos, purifiquem leprosos, expulsem demônios.; de graça vocês receberam, de graça devem dar.” (São Mateus, capítulo X, versículo 8.)

— Pois não foi exatamente assim que agiu o Salvador?

Novamente Deodoro foi em busca do texto bíblico, encontrando-o em São Mateus, capítulo VIII, versículos 1 a 4:

— “Tendo Jesus descido da montanha, uma grande quantidade de povo o seguiu.; — e, naquela hora, veio um leproso até ele e o adorou, dizendo-lhe: Mestre, se o senhor quiser, o senhor é capaz de me curar. — Jesus, estendendo a mão, tocou-o e lhe disse: Eu o quero.; esteja curado.; e na hora a lepra foi curada. — Então Jesus lhe disse: Tome muito cuidado para não falar disto a ninguém.; mas vá mostrar-se aos sacerdotes, e oferte a dádiva prescrita por Moisés, a fim de que isto lhes sirva de testemunho.”

— Claro está, prosseguiu Roberto, que muitos trechos poderia citar para dar-me conforto. Contudo, não me fizeram nenhum bem, porque me lembrava das promessas e das obrigações dos sacerdotes e ficava sumamente irado com todos os companheiros, tendo em vista...

— Posso interromper para uma questão de ordem? — Era Deodoro.

— Perfeitamente, Professor. Fique à vontade.

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