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Contos-->Um livro, uma história, livros, mil e uma histórias -- 06/11/2000 - 00:05 (Erika Bernardo Viana) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Um livro, uma história, livros, mil e uma histórias

Meu livro inesquecível é quase impossível de dizer. São histórias contidas na esfera do tempo, histórias criadas por mestres em lardear a imaginação dos leitores. São histórias com personagens quase reais, construídos e interpretados por nós, são histórias talvez vividas.
È a constante vida, é o emaranhado de laços que nos une em um universo de contos, sonhos, poesias, histórias e nossos livros.
Acordei ao florescer do sol no acrópole, pensei: _ Qual o sentido de nossas vidas, se a poesia em vão está? O que será do amor sem a poesia?
Camões me respondeu como se Deus ouvisse meus suplícios. Ora, ler e decifrar suas poesias era como se eu conseguisse entender o amor, um trabalho vagaroso, que desperta as flâmulas d alma, cinge os lábios, palpita as retinas. Pois é, Camões, sem pensar, ou já pensando inconscientemente, despertou-me algo que não imaginava sentir, amor.
De causar tanta dor vos não doestes. Não sentes o que me roubara, e como vivo seguindo sem rumo certo, somente espero. È assim que hoje estou, sim, nesse exato momento que discorro em mares palavras.
Era simples nosso ambiente: _ tínhamos platéia, todos observavam nossas conversas em cochichos. E o que liamos com tanto fervor? Que palavras eram aquelas que brotavam de nossas bocas tão próximas umas das outras?
Ah, passageiros, são palavras pruridas, é o regalo nos vagões efêmeros do comboio ferroviário, que inspirava-nos a dizer poemas, como se, ao decifra-los descobríssemos; ou suponhamos em segredo; que cada estrofe desnuda em declarações de amor, fosse descaradamente nossa.
E como todos os casais, fantasias surgem para compor a trama amorosa, como amantes declinados na janela literária de nossas vidas e das belíssimas obras, fomos buscar longe, personagens para completar nossos delírios.
Como amante da poesia desde menina; por influência de minha querida mãe; um dos meus escritores favoritos é Castro Alves.
Contei-lhe um certo dia meu sonho absurdo e platônico, após ter ganhado um livro de minha adorável amiga Rita Fernandes, sobre a vida e obra do poeta, pois, naquela mesma semana eu completava vinte e um anos.
E assim, ressurge das aulas sobre literatura, contadas nos bancos escolares, e da biografia sobre a vida do autor, o casal que representaria a epopéia de nosso amor : Eugênia Câmara e Castro Alves.
Como eu não sou atriz, nem ao menos ele poeta, salvo escreva muito bem, contentava-mos em sermos apenas personagens que afloravam a libidinosidade em formas de versos. E foi lendo poesias no conforto de sua presença que percebi: _ È que eu olhei demais para dentro de mim..., talvez fosse assim a frase que me fez refletir sobre o mundo, sobre todos nós. È possível viver sem pensar..., outra frase estancada em meu consciente. Foram contos de Clarice Lispector e Julio Cortázar, que borbulhavam em meus sórdidos pensamentos, escuros como o breu da noite, surgiram conflitos, medos, náuseas me causaram, somos constantes como baratas que surgem dos esgotos, odeio baratas! Somos acomodados, nem ao menos lutamos, ou queremos saber quem nos oprime, quem nos toma a casa? Será que o grande invasor do conto de Cortázar, " A casa tomada", não foi desde o início eu, leitora?
O que nos faz fincar nesse mundo abstrato e infame?
Afinal, somos personagens sociais, humanos. Como podemos sentar à mesa, olhar o prato de comida igualmente todos os dias? Mesmo que o cardápio não varie, tudo muda. Não adianta limpar os móveis da casa, amanhã quando levantar, preste atenção, o pó estará nos móveis ludros. O que basta para nossos olhos, o que nos agride?
Será que enxergamos do ônibus o lado de fora das embaçadas janelas de vidro?
E o cego a mascar chicletes? Alguém notou que ele está apático, estático?
As crianças nas ruas, e o seu destino biltre, disputam a pérfida fuga nas pedras de crack, nas latas de cola, nos sonhos perdidos.
Não quero sentar a mesa da mesma maneira todos os dias, não quero repetir discursos de orelha para surdos, não quero ser quadrada, nem redonda, quero ter formas diversas, geométricas. Não desejo pensar igual todos os dias, nem ler os mesmos livros.
Quero o constante paradigma da essência da vida, quero os ideais que busco nos livros, as histórias que levam uma a outra como um novelo, uma tapeçaria, uma fábula de mil e uma noites, que cabem em mil e uma histórias.
Quero a metamorfose, o infinito, quero ler livros, devorara-los, decifra-los, escreve-los. Ler um poema de Castro Alves, Vinícius de Moraes, Baudelaire, declamar à alguém. Ler os contos de Rachel de Queiróz, Clarice Lispector, Guimarães Rosa. Sentir e viver a sedução de Bocage, o romantismo de Casimiro de Abreu, os conflitos de Lispector, a morbidez de Augusto dos Anjos e o discurso realista e essencial de Brecht.
Comprar nos sebos, raridades, achados, obras de arte, recomenda-lo, presentear um amigo.
Não tenho um livro inesquecível, tenho histórias inesquecíveis, de livros inesquecíveis.

Erika Viana.







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