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Contos-->O IMAGINÁRIO DE RUI -- 09/12/2003 - 20:28 (Caixa do Pregão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O ano é 2002. O segundo do novo século. Rui trabalha numa cooperativa muito rica e é estagiário. Ele é tido na empresa como pessoa estranha por falar pouco e não ri das piadinhas sem graça de seu superior, que se esbalda em risadas com outros funcionáros bajuladores da seção. Esse Rui é muito chato dizem eles. Todos os funcionários são devidamente uniformizados, sendo que lhes são cobrados o uso de seus trajes. Isso é imprenscindível. Rui odeia gravatas. Também a obrigação de usa-las. Ele diz que ela é o símbolo do capitalismo, diz ainda que é coisa de pessoas burocráticas e intolerantes. Ela é a demência da humanidade! Quando vejo pessoas usando a volúpia do caos e sorrindo aquele riso demasiadamente cretino, é como se pudesse sentir o cheiro da desgraça no ar e depois toda ela estivesse estampada não mais em suas caras, mas sim nas ruas, nos carros, nos prédios e em seguida, impregnada em todas as coisas . Pode até parecer loucura, mas se você pegar uma gravata devidamente pronta e colocá-la de ponta cabeça, vai ver que um pouco do que ele diz faz sentido. A função de Rui é analisar contas médicas de usuários conveniados. A empresa, bastante conceituada, se mantém quase que inteiramente da agiotagem de taxas administrativas cobradas quinzenalmente a outras cooperativas espalhadas pelo país. O mundo vem atravessando uma crise financeira terrível, mas a empresa onde Rui trabalha aumenta o patrimônio mensalmente. O gerente vive insistindo na lenga, lenga o dinheiro tá curto gente, tá faltando verba. A solução é trabalhar mais, trabalhar mais... aumento de salário nem pensar, só a mesmo conversa de sempre, produzir, produzir... A gravidade do problema é tão grande que Rui e a massa trabalhadora estão sem aumento salarial a quase uma década, no entanto, o estado se mantém numa postura falsa de ter criado uma moeda forte e estabilizado a economia, contendo o aumento de preços. O gerente reclama da produção durante todo o expediente, mas no final do dia ri que nem uma hiena doida. O pior é ver ele dizendo que dinheiro não é tudo, é de dar nojo! O cara tem tanta grana que esqueceu o valor que ela tem. Rui fica pensando consigo, vai tomar no cu bosta! Vai tomar no cu! Rui pouco se importa com os comentários a seu respeito, prefere ficar ouvindo Jimi Hendrix no fone e pensar no futuro. Ele quer se especializar, mas o dinheiro é curto, mal dá pra pagar as contas. Rui pretende ganhar uma bolsa de estudo do novo governo que está preste a mudar. Pela primeira vez na história do país os partidos conservadores de direita podem perder as eleições para a esquerda. Rui fica indignado com o gerente que humilha os funcionários mais ingênuos e que ainda, depois de tudo, se desculpam para com o suserano como se estivessem errados. Rui permanece numa revolta impotente e muda, que vai lhe consumindo a cada rotação da terra e transformando sua vida num inferno. As vezes, faz como os outros, desconta a raiva no mais próximo. Rui realmente acredita no que pensa, acha que um dia o sistema vai mudar. Mas o sistema não seria o sujeito ativo dessa mudança e sim passivo, sob a prática de quem o faz. Rui acha que um dia, os humilhados entenderão que são importantes apenas para manter os degraus da pirâmide social onde se encontram no cume seus patres infames. Mesmo sem saber por que, Rui acredita nessa revolução. Acredita num mundo melhor, num mundo pelo social e não pela sociedade burguesa. Ele acha mesmo que um dia o sistema vai mudar. E será quando os humilhados perceberem por si sós e começarem a ver aquilo que não enxergam. E quando isso acontecer, ele acha que procederá a maior de todas as revoluções humanas, a derrubada dos grandes bostas humanos que difundem o poder. Rui espera ansiosamente por esse dia, mergulhado num sonho profundo e intranquilo.
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