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Erotico-->23. NAQUELES OITO MESES -- 15/07/2003 - 07:16 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Foram muito fecundos aqueles tempos de felicidade do grupo familiar, no qual, particularmente, eu incluía Iná e família.

No centro, impedido Rodolfo de se apresentar para uma das palestras das terças, estando eu disponível, Raspace me chamou à tarde e me comunicou que confiava a mim a aula da noite. Talvez esperasse intimamente pela oportunidade, tanto que não me fiz de rogado e lá fui falar a respeito de meu ingresso no Espiritismo, reforçando a tese de que os estudos é que foram a alavanca espiritual que me facultou o aprimoramento do dom da mediunidade que todos os seres humanos possuem. Penso que não me saí muito mal, tanto que Rodolfo se estimulou a alternar comigo a responsabilidade das palestras, o que vem ocorrendo desde aquela ocasião. Como conseqüência, pude redigir muitos entrechos mais ou menos biográficos que se estão constituindo na base desta narrativa.

Pouco tempo depois da primeira apresentação, atrevi-me a sugerir que os diretores se reunissem por meia hora, a cada quinze dias, para prestação de contas dos trabalhos de cada setor. Seja porque estivessem vendo que me esforçava no cumprimento das tarefas, seja porque quisessem crescer na instituição com o objetivo de assimilar melhor os ensinos kardecistas, não só se propuseram à reunião de trabalho como logo alguém propôs e foi acatado o estudo das obras espíritas, depois da reunião oficial, por mais meia hora. Foi assim que as minhas segundas-feiras foram absorvidas pela doutrina.

Nas sessões mediúnicas das sextas, as mensagens que vinha eu transcrevendo começaram a ganhar contornos de mesmice, dando a desconfiar, comigo na frente, que o amigo Zabeu só comparecia para demonstrar que não se esquecia de nós. Jamais recebi recado algum dirigido a determinado consulente, sendo todas as minhas participações no sentido de estimular o povo ao cumprimento dos deveres cristãos. Certo dia, tendo faltado Raspace, a quem cabia coordenar os trabalhos, fui lembrado para a função, o que aceitei prazerosamente, tanto que desconfio até agora de que a mediunidade naqueles termos me pesava. A partir de então, regularmente, sempre que Raspace se ausenta, o que vem ocorrendo com freqüência cada vez mais acentuada, sou eu quem providencio os afazeres concernentes ao desenvolvimento da sessão.

Conto o que se passou comigo sem o intuito de engrandecer-me, porque sou bastante tacanho em tudo que faço. Conto porque desejo demonstrar que, em pouco mais de dois anos de idas ao centro, pude, mediante sério estudo e honesta participação, integrar-me naquele ambiente, usufruindo todas as vantagens morais, intelectuais e emocionais que nos propiciam os espíritos benignos e esclarecidos.

Comecei por mim mas poderia ter-me referido primeiro a Ana Paula, que se distinguiu no curso de médiuns, tendo sido convidada para participar das reuniões de desobsessão das sextas-feiras, em sala contígua àquela em que venho servindo. Tem a minha querida consorte sido requisitada por três outros centros para cursos diversos relativos à doutrina, o que vem desempenhando com brilhantismo e profunda alegria.

Por seu turno, Odete, que ficara comigo na sala dos principiantes, logo percebeu que sua área era completamente outra e foi ministrar aulas às mulheres necessitadas de conhecimentos de puericultura, de alimentação e de corte e costura. As gestantes hoje recebem valiosas explicações, verdadeiros ensinamentos de caráter científico, porque Odete não quis assumir nenhuma responsabilidade antes de freqüentar, ela mesma, as aulas correspondentes em escola de enfermagem, a título de ouvinte.

Quanto a Maria, deu-se bem com Rodolfo, com quem se casou e a quem acompanha todas as vezes que vem ao Centro.

Para evitar mórbidas curiosidades, preciso dizer que Iná foi convidada para o casório, agradeceu, mandou presente mas não compareceu.

Quanto ao famoso projeto de ajuda à pleiteante de direitos de herança, avancei sozinho, porque julguei que não seria apoiado por ninguém. Não no fiz à revelia da família mas não disse exatamente quais providências ia tomando, à medida que as necessidades avultavam. Ao término daqueles oito meses, a casa reformara-se, os móveis trocaram-se, a oficina de lavanderia instalou-se, a microempresa formou-se, Orlando deixou o emprego e passou a freqüentar de novo os bares, em péssima companhia, e Iná chorou copiosas lágrimas, que eu julgava de agradecimento e arrependimento e que se evidenciaram, depois, como de remorso e pedido de perdão.

Quanto aos aspectos jurídicos, ao final do período, o juiz chamou as testemunhas de defesa e de acusação, porque os exames não foram conclusivos, podendo, pelo tipo do sangue da criança e de Orlando e Luís, ser qualquer dos dois o pai.

Compareceu Raimundo pelo lado da requerente, tendo afirmado, ao ser interpelado pelo juiz, que conhecia os fatos e que Luís entregava regularmente a quantia de três salários mínimos a Dona Setembrina. O advogado da nossa família fez uma única pergunta:

— Pode o senhor afirmar quem é o pai de Orlanda?

Respondeu o inquirido, sob os olhos atentos de todos os presentes:

— Posso dizer que não ouvi nenhum dos dois arrolados afirmar que era o pai da criança.

Meditei sobre o termo “arrolados” e achei que Raimundo sabia de cor a resposta à pergunta que estaria combinada. Até o presente, contudo, não posso asseverar que a desconfiança esteja correta.

Da parte da defesa, comparecemos os irmãos e as cunhadas do falecido, para, sob juramento, afirmar que nada sabíamos a respeito do que Luís havia feito. Maria foi poupada pelos dois causídicos, tendo prestado depoimento apenas durante as fases preliminares do processo.

Os reais interessados na partilha dos bens de meu irmão não se manifestaram, porque não faziam questão de dividir por quatro ou por cinco os bens que o pai havia deixado. Sem dúvida, se interrogados, diriam que precisavam do pai e não da herança.

Entretanto, assim que se consorciaram em matrimônio Rodolfo e Maria, o processo tornou-se financeiramente inexpressivo, porque a fortuna do novo marido era milhares de vezes superior ao quinhão que receberia Orlanda. Tal perspectiva amainou de muito o interesse que tínhamos pelo resultado do processo, com exceção de Raul, que instigava o nosso advogado a recorrer, caso o juiz desse ganho de causa à impetrante.

Aliás, por falar em Raul, deixei de propósito para o final a descrição do seu progresso no Espiritismo, porque foi quem ficou mais para trás. Talvez por haver estudado mais que os outros, talvez por se ter envolvido pessoalmente nas questões concernentes ao passamento de Luís e de Aristides, talvez porque acusasse os benfeitores de não terem providenciado a sobrevivência do irmão, uma vez que permitiram o processo do edema cerebral que o levou, talvez porque não lograsse mais nenhuma visão que evidenciasse estar sob a égide de benfeitor de luz, a verdade é que desistiu das reuniões de desenvolvimento mediúnico e passou a trabalhar somente nas atividades de campo, ou seja, aquelas que não necessitam de nenhum aparato intelectual, como na distribuição da sopa, na montagem dos cenários para as representações teatrais, na armação da barraca para a feira de livros e assim por diante. Eclipsou-se durante as discussões teóricas, reservando-se o direito ao silêncio dos que não desejam contaminar os pares com pessimismo ou má vontade. Mas essa atitude não duraria muito depois daqueles oito meses.

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