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Cronicas-->Das tripas o Alcorão - Affonso Romano de Sant Anna -- 05/04/2003 - 13:04 (Linda Cidade) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DAS TRIPAS, O ALCORÃO
Affonso Romano de Sant´Anna
E-mail: santanna@novanet.com.br

Na minha caderneta de ginásio, onde os professores registravam notas e observações, ao pé de cada página havia um provérbio. Um deles ficou na minha memória: "é fraqueza entre ovelhas ser leão". Dizia-se ser um provérbio russo.

Digo isto e vou confabulando.

Era uma vez dois lutadores que resolveram se desafiar. Impropérios daqui, impropérios dali, a situação foi ficando cada vez conflituosa. Chegou o momento em que tinham que pisar no ringue e decidir o conflito.

Um dos lutadores apesar de menor, era uma velha raposa. Artimanhoso, afirmava e negaceava ao mesmo tempo. Meio arruaceiro, já tinha aprontado várias brigas com seus vizinhos. Era, enfim, alguém em quem não se podia confiar mesmo. Era um fraco abusado.

Já o outro -o grandalhão, por sua vez, era um forte estouvado. Achava-se o rei do pedaço. Verdadeiro pitboy ,vivia na malhação e julgava que na pancadaria resolveria tudo. Com ele não tinha conversa. Quem discordava levava pau no lombo.

Mesmo assim, com a vantagem que sua forma fisica lhe dava, tratou de se acautelar diante do pequeno. Não era bobo de se meter num duelo com armas iguais de lado a lado. Primeiro arranjou um meio de enfraquecer o outro, proibindo que as padarias, leiterias e açougues da redondeza lhe fornecessem comida suficiente. Conseguiu até que lhe suspendessem a assistência médica. Depois, mandou dizer à liga dos juízes que alterassem as regras da luta. A tal liga, mesmo apavorada, disse que não podia fazer isto. Então, o grandalhão mandou dizer que não ligava mais para a liga. Partiu para a luta avisando que agora quem fazia as regras era ele.

Ficou resolvido, então, que o grandalhão, poderia tudo.Ele é que ia decidir quando seria a briga e como conduzir a luta. Ele podia dar qualquer golpe abaixo da cintura, o outro não. Comprou a preço de outro as primeiras cadeiras em torno do ringue para que ali se assentassem seus torcedores, e anunciou que caso fosse supreendido por algum golpe imprevisível do outro, alguém da sua torcida poderia subir na lona e socorrê-lo. Mas só ele poderia pedir e ter ajuda de outros. O adversário teria que se virar com o que tinha. Fazer das tripas o alcorão. Para garantir-se ainda mais, decidiu que não ia entrar no ringue sozinho. Chamou até seu irmão mais velho para lhe ajudar nas primeiras pancadas e uns primos para alguns outros cascudos.

A luta era realmente desigual. Mas isto não era suficiente para tranquilzar o brutamontes. Como tinha que se garantir de todo modo que sairia vitorioso, conseguiu que amarrassem um dos braços do adversário. E mais, que o outro tinha que lutar sem sair do lugar. Não podia ficar se mexendo muito. E anunciou no estádio que quem torcesse pelo pequeno não só era mulher do padre, mas ia levar também porrada.

Mas isto também não era suficiente. O grandalhão, para garantir sua vitória, conseguiu não só que o adversário lutasse com um dos olhos vendados, mas que parte da luta transcorresse no escuro. Quer dizer, ele ficaria no escuro, para que o pequeno atrevido não o visse. Enquanto isso, o pequeno abusado tinha que ficar na luz, à vista do grandalhão para que este não errasse nenhum golpe.

Mesmo assim, surpreendentemente, o grandalhão volta e meia esmurrava o ar ou então acertava na cara do juiz ou de alguém da platéia. Em alguns momentos acertava socos na cara de seu próprio treinador.

E assim ia a luta chegando ao seu fim. O menor já todo esfranguelhado, roto e ensanguentado, caído num canto, estava, como se dizia antigamente, nas vascas da agonia. E, no centro do ringue, o grandalhão erguendo os braços bradava: -Eu sou o maior! Eu sou o melhor!

E diante da perplexidade geral, desafiou o estádio: - Quem é o próximo?
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