Usina de Letras
Usina de Letras
172 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62191 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22534)

Discursos (3238)

Ensaios - (10352)

Erótico (13567)

Frases (50597)

Humor (20028)

Infantil (5426)

Infanto Juvenil (4759)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140793)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cartas-->ULTRAPÁSSARO: para Milene Arder -- 12/06/2001 - 02:11 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Minha cara Milene Arder,

os versos de Mário Quintana dão voz à tua indignação, mas não te ajudam muito na localização dos alvos que pensa serem inimigos. Se é que isso verdadeiramente existe. Se é que você e tantos outros já não gastaram munição em excesso contra inexistências, fógos-fátuos, abantesmas. Não ter um nome já é castigo suficiente, demasiado talvez para qualquer ser humano: vale por um banimento, por um exílio de uma vida inteira.

Esses mesmos versos de Mário Quintana me levaram (priscas eras!) a escrever um poema que se acha publicado no site ("Ave"), poema que vim a musicar, depois, e a cantar tantas vezes:

ave, senhor dos galhos
ave, senhor das gaiolas
me desarvoro, vôo, vôo
vôo, vôo, vou

ouço cantar o pássaro desta manhã
dia adentro, pinto, pia
hoje ainda não cantei
sou pássaro de um outro dia

A primeira parte foi escrita em Nice, julho de 1988, no momento em que tentava inventar música para a segunda, escrita quase um ano antes, num Hotel do Rocio em Lisboa.

Em "senhor das gaiolas", com todos os riscos de vir a ser analisado por vertentes psicanalisantes da Teoria Literária, e que normalmente descambam para a baixaria mais inominável, maldade pura, é uma homenagem a meu pai, que foi um hábil e prestimoso contrutor de gaiolas.

Sempre você terá ainda a chance de percorrer, agora com outros olhos, os meus escritos publicados no usina . E tantos outros ainda virão. Assim espero.

Em tempo publicarei um roteiro, o caminho das pedras. Como aquele menino da fábula, fui espalhando migalhas de pão, para que depois soubessem quem fui, como reagi às agressões de que fui vítima, como me livrei de toda essa mixórdia em que te vejo enleada, em que me vejo inevitavelmente envolvido, em que nos vejo inexoravelmente naufragados, alguns talvez sem saber direito como nem porquê. Migalhas de poesia, para que depois soubessem como e quando fui e vim parar onde chegarei. Pergunta-se.

Há um roteiro possível para esse resgate das nossas relações de humanidade dentro do site. Já basta desse jogo mesquinho de alusões pseudo-esclarecidas, frases de pretensiosa arrogância, o jactar-se de coisa nenhuma, a bazófia mal-informada, mal-enformada. Já basta de viver em estado de equívoco permanente. Ainda poderíamos nos refazer disso tudo? Pergunto. E voltaríamos a falar de poesia, de literatura, de invenções, de achados poéticos, como esse do título da carta que te endereço e que agora termino. Suponho. Sonho. Divago. Deliro.

ULTRAPÁSSARO foi uma das boas coisas que pude encontrar nos jornais de antes de ontem, domingo, a melhor de todas com certeza. É o nome de um disco gravado por DANTE OZZETTI, irmão e arranjador da fantástica NÁ OZZETTI (procurem ouvir, não percam por nada neste mundo: é o melhor que temos em termos de pássaros canoros de linda plumagem, ambos).

Em tempo: NÁ OZZETTI também está lançando um disco com sambas-canção dos anos 30 e 40. Como tudo que fez, só pode ser ouro puro. É "SHOW". Assim se chama a música de Luiz Tatit e Mário Tagliaferro que lhe deu, no ano passado, o prêmio de melhor intérprete do famigerado Festival de Música Popular promovido pela Rede Globo de Televisão. Assim se chama o disco que ela acaba de gravar. Foi o prêmio que lhe deram.

Mas do que é que estávamos falando mesmo?

Ah! sim: letras sobre o papel. É o que nos une. É o que nos comove. É o que nos interessa. Em casos de extrema carência, até garranchos podem nos quebrar um galho. Sou dos que não desperdiça nem bula de remédio. Ninguém imagina que eu possa ser o autor que mais leu textos nesse site? Deveriam computar também feitos dessa natureza.

E, por falar em galhos, gaiolas, ultrapássaros e passarinhos, garranchos, ninhos, diz o ditado que se pode cantar por precisão ou por boniteza. Para mim, essas duas coisas andam juntas. Bonito é o de que necessito, e isso me basta. E, se me basta, por que não distribui-lo à vontade. Penso no usinadeletras como sendo o milagre da multiplicação dos pios, pipios e arrepios estéticos. Êta, êta, passarinhada! Quando?

Em vez de "xô", eu quero show, eu quero a revoada. "O mundo é grande", dizia minha avó, dizia minha mãe, digo eu.

Do poema de Quintana, que te deu algum alento, como espero, chego agora ao porto seguro de uma canção popular, de uma canção peregrina, de um desses poetas anônimos que não conheceram nenhuma das oportunidades que tivemos, e que estamos tendo, como, para citar um exemplo bem próximo, poder escrever e conviver neste usinadeletras :

"mas você vive numa gaiola invisível,
e não aprendeu a voar."

Compreenda. É de coração. Para você, Milene Arder. Talvez te seja benéfico um sobrevôo de reconhecimento. Depois poderá reler também os teus próprios poemas, os teus próprios textos, mas com outros olhos com certeza, olhos de quem já contemplou a distância, olhos que se soltaram, que alçaram vôo:

"Os vôos eram para fora do tempo", deixou firmado um dos nossos maiores poetas, o grande, o insuperável Jorge de Lima.

Um grande abraço carinhoso

zé pedro antunes
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui