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Erotico-->15. MARIA -- 07/07/2003 - 07:00 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Não tivemos oportunidade de conversar com minha cunhada à saída, porque, tendo ido com condução própria, logo se retirou.

Na manhã seguinte, bem cedo, ei-la que adentra o escritório, antes mesmo do bom-dia regulamentar do Raimundo, personagem meio esquecida mas que haverá de retornar para importante participação na história de meu crescimento doutrinário.

— Com que, então, a viuvinha está a nos pregar peças?

— Bom-dia, Cláudio! Você me perdoe, mas tive de agir meio às escondidas, sem pegar no telefone, pois desconfio estar sendo vigiada dentro de casa e no escritório.

— Não acredito. Quem faria isso?

— Os “pelegos” ligados aos padres.

— Por quê?

— Porque assinei aquela papelada reclamando direitos. Se me pegam indo ao centro, com certeza irão buscar razões pra me prejudicarem.

— Não penso assim. Mesmo depois de saberem que estamos nos tornando espíritas, por duas vezes atendi a pedidos comerciais feitos por duas paróquias. E os próprios padres vieram especificar os materiais, sem nenhum alusão ao meu procedimento espírita. Acho que, se de alguma coisa quisessem me acusar, teriam falado. Por outra, poderiam ter mandado algum mestre-de-obras...

— Pois eu vou com Raul à Cúria Metropolitana...

— Ele não me disse nada.

— Eu pedi que se calasse. Queria vir contar as novidades diretamente a você. Saindo daqui, vou conversar com Ana e com Odete, que já deixei avisadas.

— Quanto mistério!

— Você deve estar espantado por me haver encontrado ontem.

— Ana e eu.

— Pois eu devo explicações.

— Vamos a elas...

— Vamos a elas. Não vai ser difícil de entender o que ocorreu no fundo de minha consciência. É que achei que deveria conversar com as crianças e elas foram mais sábias do que eu. Disseram que eu devia agir como teria agido o pai. Fiquei desmontada. Perguntei se eu podia afastar-me da igreja e elas me disseram que a vida era minha e que devia seguir os ditames da consciência. Na verdade, falaram “o que mandasse o coração”. Luís, como você sabe melhor do que eu, era arredio a essas histórias de religião. Mas o fato de estar grávida me autoriza a suspeitar que venho alimentando uma criatura abençoada. Jesus me deu mais esta missão. Vou cumprir tudo direitinho.

— Não querendo discutir, preciso saber por que tudo o que você está me dizendo não pode ser na Igreja Católica.

— Retomando a visita ao clero com Raul, lá estaremos pra trocar o contrato de assistência escolar às crianças pela intenção de retirar incondicionalmente a queixa, quando o Promotor Público me chamar pra depor. Antes que você fale que sou orgulhosa, devo dizer que pensei muito e cheguei à conclusão de que o melhor é não ficar na dependência de nenhum cheque mensal, como se a minha família, na qual incluo os meus dois cunhados, não tivesse recursos pra me ajudar em caso de necessidade.

— Pode contar comigo e com Ana, em todos os sentidos.

— E eu acrescento: ainda mais agora quando o lema que vocês estão seguindo é o de que fora da caridade não existe salvação.

— Exatamente.

— Imaginei, quando pus minha assinatura naquele papel, que todo dinheiro que recebesse daria pras instituições de benemerência. Depois pensei em que esse não seria, no sentido literal, o melhor óbolo desta viúva, com perdão da lembrança evangélica.

Não tive muito tempo para considerações graciosas, mas, assim mesmo, arrisquei:

— E qual será o melhor óbolo da viúva?

— Claudinho, juízo! Ainda se fosse o Luís, que era desbocado...

— Desculpe! Eu não tive a intenção...

— Você ficou uma pitanga. Mas quero ver quando eu contar pra Ana...

Perdi completamente o “rebolado” e apenas pude forçar um riso mais largo, gesticulando para que ela seguisse adiante. Maria tentou pôr-me tranqüilo:

— Brincadeirinha! Mas que foi gozado, foi. Conte você a ela, que ela vai achar engraçado.

— Sei, não.; agora que está levando o Espiritismo tão a sério, não tem dado “chance” pra brejeirice.

Percebi que tinha usado um termo inusitado em meu pobre vocabulário, mas não tive tempo de emendar, porquanto foi Maria adiantando-se:

— Resta explicar por que me decidi por abandonar de vez o Catolicismo. É que Rosa Maria foi me procurar com Joana, levando-me uma mensagem que ela disse ter sido ditada pelo Luís.

Eu, que estava absolutamente atento à conversa, redupliquei o interesse, deixando escapar uma interjeição:

— Santo Deus!

— Não se espante, porque a maior surpresa quem tive fui eu. Leia.

Tirou da bolsa uma folha de papel meio amarrotada e me passou. A letra era firme, mas não reconheci a caligrafia do meu irmão e fui logo inquirindo:

— É uma cópia ou é o original?

— O original.

— A letra não é a do Luís.

— Mas o estilo é. Leia em voz alta, dando a entonação certa pra você perceber que foi ele mesmo quem ditou o texto ou à médium ou a um protetor que retransmitiu.

Tomei emocionado a folha na mão e li, como se estivesse com um documento extraído dos arquivos do plano espiritual:

— “Maria, minha filhinha, não me peça pra concordar com tudo o que você está fazendo. O pessoal que me dá amparo está contando que você está pensando em abandonar o Espiritismo. Se eu estivesse aí do seu lado, dava liberdade pra você seguir o que melhor entendesse. Aqui onde estou, não existem anjos nem demônios. São entidades muito bondosas, algumas bem próximas da família, embora não tenha permissão pra me estender sobre meus pais e avós. Sendo assim, não há como dizer que os espíritos não são as almas das pessoas que morreram. A lição é bem pequena mas eu acho suficiente pra converter você à doutrina espírita. Mando um saudoso abraço aos meus irmãos e cunhadas, um respeitoso aperto de mão e um tapinha nas costas do sogrão e outro tanto na sogrona, uma palavra de sentimento às suas irmãs e maridos, um beijo carinhoso nos pequenos, Marcelo, Jonas e Matilde, e a você a confirmação de meu imorredouro amor. Fique com Deus!”

Antes de formular qualquer pensamento a respeito da autenticidade da missiva, precisei vencer as emoções quanto às notícias de meus pais e avós, razão primeira que me conduziu à doutrina. Senti as mãos trêmulas, tanto que Maria providenciou logo um copo d’água.

Foi ela quem comentou:

— Joana não sabia os nomes das crianças. Sendo assim, é uma prova de que alguém que sabia ditou.

— Pode ter recebido por via telepática.

— É como os parapsicólogos explicariam. Como também diriam que as expressões que Luís empregava foram extraídas de meu inconsciente. Mas eu acho que é mais fácil entender o sistema das comunicações espirituais, porque Joana não tem em seu passado mensagens com grandes demonstrações de acertos como o dessa carta. Depois, foi espontâneo e oportuno.

— Não querendo fazer papel de advogado do diabo, posso afirmar que Joana estava inteirada de suas deliberações.

— Mas eu não vejo qualquer interesse da parte dela de fustigar a ira do clero, porque, na verdade, eu poderia levar ao conhecimento dos padres que, no centro espírita, uma pessoa está mistificando comunicações pra retirar da Igreja alguns fiéis.

— Não muito fiéis, diga-se de passagem.

— É verdade.

— Você já mostrou pras crianças?

— Ainda não. Quero, primeiro, sentir a reação dos adultos.

— Quer dizer que Raul já viu a correspondência do etéreo?

— Viu.

— Qual foi a reação dele?

— Foi de extrema alegria, tanto que se aborreceu muito quando pedi segredo.

— Mas ontem foi recompensado com o quadro do Padre Zabeu.

— Deve não estar cabendo em si de contente.

Eu também comecei a medir a minha satisfação com tudo o que estava acontecendo em termos de assistência espiritual, mas Maria se despediu, porque estava na hora de trabalharmos.

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