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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 05 -- 11/08/2005 - 20:28 (Edmar Guedes Corrêa****) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 05


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5


-- Precisamos definir algumas regras -- disse Marcela, com aquele seu jeitinho meio tímido, embora não fosse tão tímida quanto eu.
O dia estava se aproximando do fim, pois o sol já não estava mais tão quente e este movia-se em direção ao outro lada da ilha. Embora não tenha pensando nesse detalhe, o movimento do sol indicava que estávamos ao leste da ilha, o que poderia esclarecer a nossa posição em relação à costa brasileira. Por outro lado, conclui que a noite ainda poderia demorar a chegar, mas não deixaria de vir. E até então não tínhamos feitos nada para atravessá-la ao relento e provavelmente na mais completa escuridão.
-- Boa ideia – falei. – Vamos sentar os quatro e decidir o que a gente vai fazer – continuei, procurando assumir o papel de líder do grupo. Era natural que isso coubesse a mim por ser o único homem ali. – Todo bem?
Estávamos deitados na areia, como se não tivéssemos nada para fazer ou com o que se preocupar. Dir-se-ia estarmos em férias ao invés de perdidos. As meninas tinham inclusive tomado banho de mar.
-- Tudo – concordaram as três.
-- Precisamos acender uma fogueira para a gente se esquentar – sugeriu Ana Paula
-- Não só para nos esquentarmos, mas também para fazer fumaça – acrescentou Marcela, a que menos falava. Era uma menina reservada que parecia sentir mais prazer em ouvir do que ser ouvida. Filha de um professor universitário e mestre em literatura inglesa, seu pai, pelo que sei, frequentava com certa regularidade a casa de meu tio. -- Senão como é que vão saber que estamos aqui?
-- Você tem toda a razão. Ainda num tinha pensado nisso – falei.
Ela dou um sorriso de satisfação e calou-se em seguida.
-- Também acho que a gente precisa marcar o tempo – propus. – Meu relógio parou de funcionar. Tá marcando sete horas. Parou antes da gente chegar aqui.
-- Acho que isso não é tão importante no momento – disse Luciana num tom um tanto desafiador. – Acho que temos coisas mais importante para fazer. Como construir uma cabana por exemplo. Vocês não querem passar a noite ao relento, querem?
-- Não – responderam as duas. Eu fiquei em silêncio, pensando em algo mais para propor.
-- Isso lá é verdade.
-- Claro, Sílvio! Mas primeiro acho que temos que acender a fogueira.
-- É isso aí, Luciana! Então vamos por mão à obra – falei, adiantando-me e ficando de pé. – Temos que arrumar madeira seca para construir uma fogueira bem grande.
-- Mas onde vamos arrumar madeira seca? – quis saber Ana Paula.
-- Vamos ter que procurar – disse Marcela. – Aí no meio dessa mata deve haver – acrescentou apontando para a densa floresta a cobrir toda a ilha.
De início não foi fácil encontrar madeira suficiente para acender uma fogueira. Como não tínhamos como cortá-la, dependíamos dos galhos de árvore caídos no chão. De mais a mais, tanto da minha parte quanto das meninas havia receio em penetrar naquela mata fechada. Não sabíamos o que poderia encontrar e nossa imaginação só tornava a coisa mais assustadora. Todavia, não demorou tanto assim para que a madeira encontrada jazesse empilhada na areia, formando uma pilha quase da nossa altura.
-- Agora eu quero ver. Como vamos acender o fogo? – inquiriu Luciana, em pé diante dos pedaços de madeira empilhados.
-- Podemos fazer como fazia o homem pré-histórico. Esfregando um pedaço de madeira no outro até pegar fogo – explicou Marcela, sentando-se de frente para o mar. – Vai demorar um pouco, mas não temos outro jeito.
-- Vamos tentar – falei.
Peguei dois galhos finos e os quebrei até formarem duas varetas. Em seguida passei a esfregar um no outro, contudo não deu certo. Quebraram-se. Então, Marcela me explicou que precisava de algo mais grosso, capaz de suportar uma pressão maior, sem se quebrar. Assim, procurei fazer como ela me explicara. De um lado teria de ser um pedaço de madeira, o qual seria a base; no outro, um graveto, o qual eu teria de esfregar na outra madeira até pegar fogo.
Não foi fácil. Cheguei a ficar com bolhas nas mãos. Mas o trabalho foi recompensado. Primeiro, o graveto e o pedaço de madeira ficaram quente, depois começou a surgir uma pequena fumaça.
-- Encosta o maço de capim aqui, Luciana – pedi. Ela estava com um punhado de capim seco nas mãos. Eu sabia que o capim pegaria fogo com mais facilidade, então sugeri que alguém o colocasse sobre a madeira quando esta começasse a soltar fumaça.
-- Isso. Assim...
Foi só eu movimentar mais algumas vezes o graveto que o fogo pegou. Naquele instante fui tomado por uma sensação de prazer indescritível. Dir-se-ia ter realizado uma magia ou feito uma descoberta genial.
-- Corre! Põe embaixo das folhas – exclamou Ana Paula, dando saltinhos de alegria.
-- Calma! Já vou pôr.
E assim o fogo pegou nas folhas e depois na madeira. Em pouco tempo a fogueira já soltava grandes labaredas e a fumaça subia aos céus. Via-se nos olhos e nos modos daquelas três jovens o quanto estavam contentes. Era como se dependêssemos tão somente da fogueira para retornar para casa.
-- Bem, agora a gente vai ter que manter essa fogueira sempre acessa – falei, de pé olhando para o fogo, cujo calor chegava até nós. – Para isso, vamos ter que arrumar mais lenha. Essa aqui num vai durar muito tempo.
-- O problema vai ser arrumar lenha – disse Luciana. – precisaríamos de alguma coisa para cortar galhos mais grossos.
-- Só que num temos nada. Nem mesmo uma faca – disse Ana Paula em tom meio provocativo.
-- Eu sei que não temos – volveu a outra. -- Só disse que sem algo para cortar vai ficar difícil. Ainda temos que fazer uma cabana e nem mesmo sabemos como vamos cortar um galho de árvore.
Mais uma vez percebi que a convivência entre Lucina e Ana Paula não seria muito fácil. Havia um clima de hostilidade permanente entre elas, embora até a chegada à ilha havia respeito mutuo. Embora fossem primas, não me recordava de vê-las em companhia uma da outra. Luciana raramente frequentava o meio social que minha família frequentava e, na realidade, só nos encontrávamos em festas. Mesmo assim não me lembro de ter falado com ela.
Se por algum motivo precisássemos permanecer naquela ilha por muito tempo, o relacionamento entre as duas não acabaria bem. Algo me dizia que mais adiante teria que tomar uma atitude extrema para evitar que se matassem mutualmente.
-- É mesmo – concordei. Eu não me sentia incomodado, mas Luciana parecia estar sempre um passo a minha frente. Era ela a levantar as questões mais importantes e, vez ou outra, quem escolhia a melhor solução.
-- E o que vamos fazer? – perguntou Ana Paula.
-- Sei lá! A gente tem que pensar em alguma coisa – falei.
-- E você Marcela, num diz nada? – perguntou Ana Paula. Não havia dúvida de que ela era a mais comunicativa do grupo; talvez por ser a mais jovem e ainda carregar mais traços infantis apesar dos seus doze anos. – Só fica aí muda. Parece que tem medo de dizer alguma coisa.
-- Eu estava pensando – disse Marcela. – Acho que deveríamos procurar alguma coisa que pudesse servir de instrumento de corte. Lembram dos homens das cavernas? Eles não faziam instrumentos de pedra?
-- Bem pensado – falei, pondo a mão no queixo. – Você tem toda a razão. Pelo jeito você era uma boa aluna de história – completei soltando uma risada.
-- É, eu era sim – respondeu ela, com as faces avermelhadas.
-- Pois eu nunca gostei. Nunca vi matéria tão chata! -- felei.
-- Mas onde vamos procurar? – quis saber Ana Paula.
-- Onde tiver água corrente. Lá é mais fácil de encontrar – respondeu Marcela. – Mas podemos procurar em outros lugares também.
-- Então, vamos fazer o seguinte: a gente dá uma olhada lá onde bebemos água. Talvez a gente ache alguma coisa. Depois a gente tenta construir uma cabana – falei. – Mas alguém tem que ficar de olho na fogueira. Num podemos deixar ela se apagar
-- Mas quem vai ficar? – perguntou Luciana.
-- Eu num vou ficar sozinha – disse Ana Paula.
-- Você fica, Luciana – falei.
-- Mas por que logo eu?
-- Alguém tem que ficar, num tem? Como sou o único homem aqui, eu tomo as decisões. Assim tá resolvido e pronto.
-- Você não passa de um pirralho! -- esbravejou ela. No auge da adolescência, ela parecia ter uma certa dificuldade em lidar com as negativas e em aceitar ordens de alguém mais novo.
-- Pirralho ou não, você vai ficar – respondi.
Luciana mostrou todo o seu descontentamento fechando a cara. E por um momento pensei que ela fosse bater o pé e se negar a ficar, entretanto não disse palavra. Não havia muito o que fazer.
-- Eu fico com ela – disse Ana Paula, talvez para não deixar a prima sozinha. -- Vão vocês dois procurar. Num estou mesmo com vontade de ficar andando por aí. Minhas pernas ainda estão doendo.
-- Tudo bem. Já que vocês duas tão aí. Vê se num vão deixar a fogueira apagar, hein!
E assim fomos eu e a Marcela procurar agulha no palheiro. Eu sabia que não seria fácil encontrar algo que pudesse servir como instrumento de corte, mas não nos restava outra alternativa.
Desde o momento em que fomos parar naquela ilha, sabíamos que as coisas seriam muito difíceis. A cada obstáculo, teríamos que usar nossa criatividade para suprir a falta de experiência e vencê-lo. E quando este estivesse superado, outro maior surgiria. Estávamos vivendo uma nova realidade, algo jamais imaginado por qualquer um de nós. E agora teríamos que provar para nós mesmos que seríamos capazes de sobreviver sem as mínimas condições de sobrevivência naquela ilha, até sermos resgatados. Mesmo que levasse um dia, uma semana ou um mês, era preciso sobreviver a qualquer custo. E esse era o maior desafio.




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