Momentos que valem uma Eternidade
Já tive alguns. Só que o de hoje foi de uma ternura muito especial.
Na volta do dentista, vinha de carro pela estrada (pelo córrego é que não poderia ser), quando em certo trajeto o trânsito se fez muito lento.
Véspera de feriado, e sábado... Juntando tudo ao movimento, já, de final de ano... Puft! Haja saco...
Quando já ia subir os vidros para ouvir uma musiquinha relaxante, que sempre ponho nesses momentos caóticos, chamaram-me a atenção duas jabuticabinhas brilhantes... Acompanhei o brilho e vi que eram os olhinhos de uma bela menina, que pela mão da mãe estava ali, na calçada, a olhar para o aglomerado de carros, sem entender o porquê de tanta lentidão.
Fixei-me nela que, talvez atraída pelo meu olhar, virou o rostinho para mim.
Vendo-se admirada, começou faceiramente a dar uns requebros, no ritmo que a sua imaginação lhe ditara. Creio que o de "Marcha soldado, cabeça de papel!"... Ou coisa parecida...
Sorri (ainda com a boca anestesiada) e ela fez carinha de chamego como se não quisesse dar-me a mínima confiança.
Continuei sorrindo e fazendo trejeitos com a boca torta, ainda dormente, em mímicas suaves.
Ela? Nada.
Olhei, então, para a frente e fingi que não mais a percebia. Pelo canto dos olhos, vi que estava inquieta por me ver desviar a atenção de sua graciosa coreografia.
Repentinamente, olhei com um sorriso rasgado, desses que os idiotas costumam fazer, quando querem ser engraçados, boca aberta, queixo desengonçado, nariz torcido... Foi um sucesso!
De lá, veio-me um sorriso tão compensador e significativo, que me deu ímpeto de ir abraçar aquele pequenino ser, tão alheio às maldades do mundo. Devia ter uns quatro anos, não mais...
Quando íamos engrenar em mais um sorriso e algumas caretas, o trânsito fluiu e tive de sair daquele ângulo de visão manífico que me proporcionara momento tão terno!
Já distante, pude vislumbrar aquelas mãoznhas acenando para mim.
Interessante... Minutos que prometiam ser enfadonhos pelo desgaste da paciência, transformaram-se num verdadeiro momento de êxtase mágico. E aqueles olhinhos de jabuticaba ficaram gravados em minha retina. Por isso, acabo de descrevê-los... Para eternizá-los nas palavras.
|