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Cronicas-->AQUELES DOCES... -- 23/03/2003 - 09:12 () Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Estou recordando tempos tão antigos...
Aquela terra onde nasci e me criei.
Mamãe querida, os manos, nossa velha avó e o nosso autoritário pai.
Lembro-me tão bem daqueles tempos como se não tivesse passado tantos anos.
A chácara onde morávamos era um primor, a casa simples, o paiol de milho, o moinho de fubá.
Havia em tudo o encanto de minha infància rodeada de natureza, beleza e simplicidade.
Papai era um homem sério, raramente sorria e criou-nos com autoritarismo e poucas demonstrações de afeto.
Ele tinha tudo para ser um anti-herói, mas alguma coisa lá no fundo de meu ser insistia em considerá-lo herói.
Eu o temia menos que os manos talvez, e conseguia chegar um pouco mais perto do verdadeiro homem que se escondia embaixo daquela armadura de homem severo.
Lembro-me bem que depois de cada pór-do-sol ele vestia um terno e saía para ir ao cinema. Deixava minha mãe com os filhos pequenos fizesse tempo bom ou ruim.
Era um hábito que nunca abandonara e mamãe o entendia.
Ela nos levava para um pequeno passeio até a casa de nossa avó materna quando fazia tempo bom, e quando voltávamos para casa ficávamos na pequena sala onde ela nos contava lindas estórias de fadas, princesas, etc.
Com sua meiguice ela nos embalava um a um até dormirmos e eu sempre era a última a adormecer. Adorava aquelas horas deliciosas que passávamos ouvindo estórias, radionovelas e aguardando a chegada de papai.
Quando ele chegava sempre nos trazia uns pacotinhos de doces; eram uns doces em formato de carrinhos e homenzinhos os meus preferidos.
Já pegava a parte que me cabia e ia para meu quarto.
Na minha adolescência nos mudamos daquela chácara e papai não melhorou de gênio, pelo contrário piorou muito com uma série de acontecimentos que mudou a nossa vida.
Eu sofria com toda aquela situação que mexia com a minha sensibilidade de menina sonhadora.
Cresci acreditando que o nosso pai não nos amava e dentro de mim acalentava um desejo louco de ver revertida aquela situação.
Meus primeiros anos de adolescência marcaram irremediavelmente minha vida e na juventude deixei meu lar para tentar a vida na capital. Depois de alguns anos me casei e vieram os filhos.
Aos poucos foi acontecendo uma transformação tão grande em papai. Ele foi se desnudando de toda aquela armadura que usara por tantos anos e fui descobrindo um homem tão sensível embaixo daquele rosto carrancudo. Os olhos foram ficando tristes e a depressão foi lentamente corroendo sua alma.
Descobri que ele sempre nos amara e aquela forma de nos criar era a única que acreditava ser a correta. Com os netos era outro homem e desde que nasceu meu primeiro filho, o neto mais velho, ele adorava pajeá-lo e tantas vezes eu via um brilho novo em seus olhos quando o olhava.
Ele derramava no olhar todo seu amor sobre cada neto como não fizera conosco em nossa infància; ou será que eu não notara?
Pai querido, por que as coisas tiveram que ser daquele modo? Por que você precisou se esconder tanto de nós?
Hoje você está em outro plano, graças a Deus conseguimos ser amigos, conseguimos ter tantos papos legais e eu consegui descobrir a tempo o quanto nós nos amávamos.
Acho que você saía porque isso fazia parte de uma rotina necessária ao seu ego, não era por desamor, desafeto como eu pensava naquele tempo. Quando me lembro do sabor daqueles docinhos eu penso que era a sua maneira de dizer que nos amava, era a confirmação de que não nos esquecia porque foram anos e anos e você nunca se esqueceu de trazê-los, nem por um dia.
Sua severidade se devia ao fato de você acreditar que precisava ser firme e durão para passar aos seus quatro filhos a sua convicção da vida.
Eu aprendi a compreendê-lo e só lamento que tudo tenha sido daquela forma, podíamos ter sido tão amigos por tantos e tantos anos, mas o que importa mesmo é que tivemos tempo de resgatar um pouco o tempo perdido.
Eu pude lhe entregar meu amor e se não falei com todas as letras você conseguiu captar o quanto foi bom ter nascido sua filha.




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