Falar de Cuba, Brasil, Fidel, FHC, é algo apaixonante. Ainda pouco pensei que aquela bobagem de que o dinheiro move o mundo tem enganado muita gente. O capitalismo conseguiu ludibriar nossa inocência.
Quando leio pessoas do porte de Milene, Domingos, falando sobre as semelhanças e diferenças entre Cuba e Brasil, obrigo-me a levar para o nível da consciência esse caráter heterogêneo do entendimento do mundo, da vida.
Posso afirmar sem medo algum de estar equivocado que os socialistas levam vantagem sobre os que defendem com unhas e dentes o capitalismo, o neo-liberalismo, a globalização, etc. Eles têm algo de paixão, um sentimento de utopia que os empurra a sonhar com uma sociedade igualitária e justa. Malgrado as experiências infelizes do socialismo na ex-URSS, em Cuba, resta-me a convicção de que não é o amor ao dinheiro que move o mundo, mas a paixão. O grande problema é que, como diz o apóstolo Paulo, o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males.
São duas posições que se chocam, face a verdade apostólica: a dos que amam o dinheiro acima de todas as coisas e a dos que querem, inutilmente, anular no coração dos homens esse amor.
O que me move também é a paixão. Porém, não é o dinheiro o seu objeto. Meu mundo ideal não é aquele simbolizado pela balbúrdia de Wall Street, que materializa a ênfase da sociedade moderna aos aspetcos materiais da vida: as ações, os títulos, os juros, os índices de Dow Jones, Nasdaq, etc.
Esse é o mundo dos bem-sucedidos, dos que são competentes, dos que sabem como extrair lucros e dividendos do senhor Mercado, essa mão invisível que controla nossas vidas.
Que paixão me move? A mesma que move Domingos, que moveu Guevara, que move Lula. Há entre nós, contudo, algumas diferenças. De minha parte abri mão da revolução como meio único e eficaz para a chegada dessa sociedade perfeita. Há algum tempo as asas de meus sonhos socialistas foram quebradas. Permanece o desejo de voar (a paixão), porém sei que, à semellhança de Ícaro, não fui criado para viver com os pés fora do chão.
É duro reconhecer isso. Todavia, dói menos do que alimentar um sonho cuja realização é tão impossível quanto era impossível Ícaro, com suas asas de cêra, chegar a algum lugar.
A única certeza que tenho é que muitos de nós continuam construindo suas asas de cêra. Somente o tempo e a frustração mostrarão que estão enganados.
Isso quer dizer que havemos de abrir mãos da indignação diante das injustiças, explorações e as humilhações do ser humano por um sistema que o que menos tem é humanismo? Claro que não. A válvula de escape é sim, Domingos, acreditar que a frágil democracia desse continente Brasil, a construção de uma consciência crítica que reivindique mudanças estruturais na economia, a luta pelos valores da cidadania, o respeito pela dignidade humana, são os elos de ligação entre nossa frustração socialista e a sociedade justa que ansiamos.
É possível? Um novo Brasil é possível? Paguemos pra ver...
