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Cartas-->O MUNDO MÁGICO DA TROVA - No. 02 -- 10/06/2001 - 14:07 (J. B. Xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O MUNDO MÁGICO DA TROVA

A Trova, Essa Jovem Senhora!
Por J.B.Xavier

A trova é, em última análise o fruto da união da música com a poesia. Para saber mais sobre essa união, consulte, em “ENSAIO QUANDO E COMO A POESIA SE MISTUROU COM A MÚSICA? O NASCIMENTO DA MÉTRICA E DA RIMA “
A união da Música com a Poesia e os princípios que norteavam essa união, ou seja, a métrica da poesia e sua rima sujeitando-se ao ritmo da música, acabou por chegar à Europa medieval, e influenciaram diferentes expressões poéticas representadas pelos trovadores.
“Trovador” era o nome que se dava aos poetas do sul da França, norte da Espanha e norte da Itália, que escreveram em Lange d oc, uma forma de francês arcaico, do século XI ao final do século XIII. A palavra trovador, na verdade, deriva do francês antigo trobador. Por trobador designava-se aqueles que inventavam novos poemas, encontrando novos versos para suas líricas. Podia ser tanto um nobre, como Ricardo Coração de Leão, quanto um aventureiro que cantava por profissão, percorrendo palácios e cidades.
Um dos mais famosos trovadores da classe nobre foi D. Diniz (1261-1325), rei de Portugal (1279-1325), filho de Afonso III. Seu reinado se destacou pelo fim das guerras entre Portugal e os reinos de León e Castela, graças à realização de vários casamentos entre membros de sua família e a de Fernando IV, rei de León e Castela, e pelo impulso que deu à agricultura e ao comércio. Além disso, foi um mecenas de artistas e músicos e desenvolveu a educação, fundando a Universidade de Coimbra. Foi sucedido por seu filho Afonso. D. Dinis foi exímio trovador, cujas cantigas - consideradas obras-primas do gênero - estão registradas nos Cancioneiros da Vaticana e da Biblioteca Nacional.
Os trovadores, quase sempre acompanhados de um joglar (jogral). Jogral era um cantor profissional que declamava ou cantava os versos compostos pelo trovador. Este geralmente fazia o acompanhamento musical desses versos. Os jograis pertenciam a uma camada social inferior aos trovadores, porque eram simples executantes dos versos, não possuindo a força criadora dos trovadores.
A maior parte da obra dos trovadores de que se tem registro foi preservada em manuscritos chamados chansoniers, (cancioneiros), ou Livros de canções. As regras de sua arte foram codificadas em Leys d amors (1340). O verso mais usado era o canzo, formado por cinco ou seis coblas (coplas). Quando o canzo era de natureza satírica ou política, chamava-se sirventès.
O trovador também usava a balada ou dansa que podia ser dançada com um refrão, a pastorela, que ilustrava as solicitações amorosas de um cavaleiro à uma pastora, e a alba, canção matinal que avisava aos amantes que o dia estava nascendo e o ciumento el gilos (marido) poderia estar acordando. À alba correspondia a serena ou canto noturno, de invenção posterior.
Embora escrevessem poemas de vários tipos, os trovadores eram, essencialmente, líricos. O que não impediu que tenham exercido forte influência na história e poesia medieval. Os trovadores tinham grande liberdade de expressão, entravam em questões políticas e exerceram destacado papel social. Há registros de cerca de 400 trovadores em 200 anos, número significativo para a população da época. Sua ruína ficaria ligada à disputa entre Roma e os heréticos albigenses, pois a maioria dos trovadores há época era ou herética, ou simpatizante dos heréticos.
Os primórdios da literatura galaico-portuguesa foram igualmente marcados pelas composições líricas breves, destinadas ao canto. Eram as cantigas que, formalmente, dividem-se em dois tipos: as de refrão, caracterizadas por um estribilho repetido no final de cada estrofe, e as de mestria. Marcadas pelo paralelismo, muitas vezes foram denominadas cantigas paralelísticas, puras ou bailadas. Quanto ao tema, dividia-se em cantigas d amor,cantigas d amigo,cantigas d escarnho ou mal-dizer. Nas cantigas d amor revive a canzo dos trovadores, tal como nas cantigas d amigo que, embora escritas por homens tentavam imaginar e expressar sentimentos femininos. Reis, cortesãos, menestréis ou trovadores cantavam seus sentimentos pela mulher amada, no duplo sentido do termo cantar que significa não só entoar, mas, também, encanto e feitiço. Como esta bela Cantiga de João Roriz de Castelo-Branco:

Senhora, partem tam tristes
meus olhos por vós, meu bem
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
Tam tristes, tam saudosos,
tam doentes da partida
tam cansados, tam chorosos,
da morte mais desejosos,
cem mil vezes que da vida

Partem tam tristes os tristes
tam fora de esperar bem
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

VARIAÇÕES DA POESIA TROVADORESCA
CANTILENA (CANTILÈNE) - Na poesia medieval francesa, a era uma composição lírica destinada ao canto e versava sobre histórias de heróis ou vidas de santos. Alguns pretendem que na cantilène estão as origens das canções de gesta, poemas em linguagem popular, surgidos por volta do século XI, nos quais eram celebrados feitos consagrados pela tradição e tornados lendários pelo imaginário popular, como a famosa Chanson de Roland.
MADRIGAL - Buscando unidade maior entre a poesia e a música, o madrigal tinha se iniciado, no final do século XV sob a forma estrófica dos frottola. Esse gênero teve início em torno de 1530, desenvolvendo-se a partir de compositores dos Países Baixos residentes na Itália que imitavam práticas da música sacra, motivo que levou o madrigal a se distinguir de outras formas musicais dos séculos anteriores. Da Itália, o madrigal espalhou-se a outros países, desenvolvendo uma estrutura polifônica, diferenciando mudanças de atitudes, sublinhando as palavras destinadas à ilustração musical, harmonizando e estruturando a composição. Em conseqüência, os madrigais evoluíram, cada vez mais, para solos com acompanhamento vocal facilmente modificável, como o faria Monteverdi.
CANTATA - Composição poética de cunho lírico ou dramático, de origem italiana e que esteve em voga, sobretudo no século XVIII - incluía trechos recitados (alexandrinos ou outros tipos solenes de verso) e árias para canto (versos populares, curtos). Em suas origens era composta de um único trecho recitado e uma única ária.
CANTADORES - No Brasil, os cantadores são figuras populares que - sobretudo no nordeste e no sertão - recitam ao som da viola versos de cor ou de improviso, contando histórias fantásticas do imaginário popular, fatos ocorridas na região ou celebrando pessoas notáveis. Cantar sozinhos, em repentes, ou Desafios, como são chamados e em duo, nos famosos duelos de improviso em que cada um provoca o adversário. Bom exemplo é o desafio registrado por José Costa Leite:

Vamos ouvir a peleja
de dois conquistas da raça
porque Geraldo Mousinho
com nada se embaraça
e Cachimbinho onde canta
o povo todo acha graça....

G- Então vamos começar
num trabalho improvisado
como quem faz uma troca
num trocadilho engraçado
cuidado, senão você
também vai ficar trocado.

C.- Troco o dedo pelo dado
e troco o dado pelo dedo
cuidado, que logo cedo,
a poeira vai voar.

G.- Para não fazer enredo
troco juá por jaú
troco cajá por cajú
troco cajú por cajá

C.- Troco Pará por Peru
e troco jaca por pinha
troco capão por galinha
troco jacú por jucá....


Assim prosseguem, inclusive com interferência da platéia:
Levantou-se um cidadão
e aos dois cantores pede
um trabalho e pagou logo
dizendo :ninguém se arrede
a prova não vai ser mole:
e fede o velho do fole
e o fole do velho fede.

Com os dois últimos versos, foi dado o "mote" que terá que ser glosado pelos cantadores que aceitaram a provocação:
G.- Talvez você se atole
seu cara de escaravelho
o velho Félix toca bem
juro pelo Evangelho
depois de tomar um gole
fede o velho e fede o fole
fede o fole e fede o velho.

C.Seguindo o mesmo Evangelho
antes que você se atole
eu falo no velho Félix
que prova que não é mole
fede o fole e fede o velho
fede o velho e fede o fole.

Exigindo igual presteza poética na arte de "tirar versos", multiplicam-se na literatura poética popular as formas e gêneros de difícil composição. Eis algumas delas:
ABC – Nesta, as estrofes começam pela ordem da letras do alfabeto.
ADIVINHA e CARRETILHA - versos de cinco sílabas, também usados nos desafios.
DÉCIMA, DESPEDIDA, e EMBOLADA - em geral, sextilhas com estribilho.
GABINETE - dez versos, em décimas ou em número variável de sílabas, com rimas alternadas.
GALOPE - Martelo de seis pés, que é a sextilha composta de decassílabos dos quais só rimam os de ordem par.
Ligeira, e Loa = composição laudatória, de acento doce e melancólico, executada em solo ou em duo.
MOIRÃO - diálogos em que cada cantador faz cinco versos ou moirão de sete, cabendo um ou dois ao adversário com revezamento na estrofe seguinte.
MARTELO - Cantado de um só fôlego, uma torrente de rimas sem pausa.
BEIRA-MAR e PARCELA - De oito ou dez versos em cada estrofe e rimas alternadas, muito usada nos desafios.
PELEJA - Outro nome do desafio.
TESTAMENTO - Em geral de intenção crítica, em nome de um suposto finado.
TOADA - Canção breve em quadras, com estrofe e refrão.
SEXTILLHA e QUADRÃO – Versos em oitava de redondilhas em rimas alternadas.
É muito difícil que o compositor seja exímio na união da música com a poesia, e faça bem as duas coisas. No Brasil, um dos exemplos contemporâneos dessa maestria é Chico Buarque.

* * * *
Hoje o Mundo Mágico da Trova recebe a visita de um dos mais famosos e premiados poetas e trovadores do idioma português: Izo Goldman.
Além de um grande amigo, Izo é também meu mestre na trova. A ele devo o fato de ser introduzido no mundo mágico da trova, a paciência com que ouviu as dúvidas de um pupilo irrequieto e curioso, e a condescendência de continuar me motivando, na esperança (baldada) de que eu venha a me transformar algum dia, de um humilde fazedor de trovas em um possível trovador.
Devido à modéstia que lhe é peculiar, ele não nos enviou tantas trovas quanto lhe pedimos, argumentando que deveríamos publicar em cada edição desta coluna, não apenas um trovador, mas vários. Assim, abrangeríamos um número maior de talentos. Sugestão anotada e adotada a partir já desta edição.
Srs, IZO GOLDMAN.

Delírios de amor…espelho
dos enganos que eu cometo;
jogo tudo no vermelho,
e, o destino grita: “preto!!!”

És um arbusto florido...
eu sou o vento que passa,
e, num delírio atrevido
te despe e depois...te abraça...

Depois que tu foste embora,
no meu peito o desencanto,
não desabafa nem chora
não tem voz e não tem pranto...

O pai da moça, que é mau,
chega em casa e acaba o “baile”...
É que o Zé, “cara de pau”
tava namorando...em braile!!!”

Esta já causou muitas discussões, porque, segundo alguns especialistas em lingüística, há um erro de português. Há outros que sustentam que não existe o tal erro. Bem, mesmo que houvesse, lanço mão da “licença poética” para publicá-la, porque seria injusto privá-los da beleza dessas rimas:

Eu não fecho a minha porta
Ao filho que é culpado.
A flecha não voa torta,
É o arco que atira errado!


* * * *
Por ter Izo Goldman aberto mão de seu espaço, e em respeito a sua sugestão, deleitem-se com algumas trovas dos maiores trovadores da atualidade:


Trovadores meus irmãos,
Vamos viver de mãos dadas:
Onde há corrente de mãos
Não há mãos acorrentadas !...
José Maria Machado Araújo

No teu sucesso, milhares
Vêm implorar-te favores.
Uns poucos, se fracassares,
partilham das tuas dores
Valdir Neves – Rio de Janeiro-RJ

Incomparável grandeza
No mundo egoísta e louco,
É o da partilha na mesa
Do pão, quando o pão é pouco.
Alcy Ribeiro Souto Maior – Rio de Janeiro-RJ

Partilha a luz que te aquece
e que a bom termo conduz...
que a lei da vida agracede
e em tua luz...põe mais luz!
João Freire Filho – Rio de Janeiro – RJ

Meu delírio, ouvindo passos,
chega às raias da demência;
abre a porta, estende os braços,
para abraçar tua ausência!
Pedro Ornellas – São Paulo – SP

Tenho na vida o que anseio,
Só não tenho a liberdade,
De ter a saudade ao meio
Para entregar-te a metade.
Adelir Machado


Saudade perfume triste
De uma flor que não se vê.
Culto que ainda persiste
Nun crente que já não crê.
Menotti Del Picchia

Após verter meu suor,
sei, na calma do ataúde,
que, se não fiz o melhor,
eu fiz o melhor... que pude!
Sérgio Ferreira da Silva –São Paulo – SP


Não acho coisas no chão
porque não consigo vê-las.
Sou poeta, eis a razão:
Ando à procura de estrelas !
Therezinha Diegues Brisolla – São Paulo –SP



* * * *
Na próxima edição falaremos da didática da Trova. Suas regras, definições, e alguns conselhos dos mestres, de como vir a ser um grande trovador.
Até a próxima, então!

* * *
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