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Contos-->EU E O PRATO AZUL -- 23/10/2003 - 11:22 (Caixa do Pregão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Andava eu pelas ruas de Ceilândia, quando me deparei com uma fila enorme. Por curiosidade entrei no final. Brasileiro que se preze adora filas. De preferência que seja grande e tediosa. Não esperava por saber o que aquelas pessoas faziam ali, pois ela dava voltas e mais voltas no quarteirão. Andava a passos curtos e com o passar das horas, foi que percebi que aquela fila era para doação de sopa a pessoas carentes.


A mulher que servia aos famintos não usava concha e sim uma espécie de pá, daquelas que usam para cavar buracos. Quando a minha vez se aproximava fiquei observando a maneira como os miseráveis eram servidos. A mulher jogava um líquido meio esverdeado no prato dos indigentes como se estivesse jogando terra numa cova. Quando estava bem próximo, recebi um prato de plástico raso e azul e disse:


- Senhora, não precisa caprichar tá bem!


A mulher nem me olhou, simplesmente jogou o líquido verde no prato azul e solicitou o próximo. A sopa transbordava, caindo em meus pés. Andei cautelosamente até me acomodar no chão, com as outras pessoas. Olhei aquela coisa verde e tive a impressão que ela estava sorrindo pra mim. Gente! Aquilo parecia lavagem pra porcos. Sinceramente senti nojo, mas para não demonstrar indiferença, botei uma colher na boca. De imediato meu estômago deu um ronco. Olhei pro lado e vi algumas crianças que a tomavam sem colher, botando a beira do prato na boca e em seguida entornavam. Insisti com uma outra colherada, mas meu estômago não resistiu, roncou de novo e mais alto. De repente me deu uma suadeira e um nó no intestino tão grande, que tive de sair correndo pra achar uma privada, foi terrível.


Entre os minutos que permaneci no banheiro, veio-me a cabeça o nome de um figura, o imperador romano Caio Otávio Augusto, que governou Roma com a política do pão e circo, no entanto era admirado por toda a plebe. Como num estalo, me veio à cabeça uma reflexão e deixou aquele que na forma vital realizava suas necessidades básicas à força. “Meu deus, não seria justamente assim que as coisas acontecem neste país tão abençoado?”


Essa talvez seria uma prova de que nossos políticos se baseiam na história para governar e que nossos cidadãos são contempladores dessa política; e também de filas.





Novembro de 2001 (revisado e modificado em 22.5.2006)
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