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Contos-->Vincent Vicente, Lindinha, a Velha peidorreira e o Corujão -- 14/10/2003 - 18:47 (Caixa do Pregão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Vincent Vicente, Lindinha, a Velha peidorreira e o Corujão

Meu nome é Vincent Vicente. Estou internado aqui há 60 meses. O porquê disto eu não sei. Toda vez que falo com um médico ele diz que eu estou bom. Quase bom. “Semana que vem o senhor pode ir pra casa”. Eu não sei exatamente o que tenho. Aliás, eu já nem me lembro do meu nome.Vincent Vicente é um nome tirado de uma destas ficções baratas de banca de jornal. Eu só tenho que agradecer ao “Seu Sebastião”, o enfermeiro de plantão. Ele adora estas bobagens. Ele me deu dignidade: um nome.

O que mais me incomoda é ter que conviver com pessoas que eu nunca vi na vida. Perdi a memória. Meus miolos já não servem pra porra nenhuma. Não sei se tenho familiares. Não tenho documentos. Não tenho moradia. SOU UM FANTASMA QUE NÃO BOTA MEDO EM NINGUÉM. Oh não! De novo não! Aquela velha peidorreira soltou um Hiroshima-Nagasaki outra vez! Somos quatro no mesmo quarto. Tem eu que sou o desmemoriado, ou desmiolado como eu prefiro, a velha terrorista, a “Lindinha” e o “Corujão”. Não há música aqui. Não há televisão (ainda bem). Não há rádio (que pena). Temos que olhar um para a cara do outro o tempo todo. Mas, nem sempre se pode olhar pra todo mundo. Não posso olhar para a velha, não por causa da pele de maracujá chupado dela, é por causa do cheiro mesmo. Eu não ousaria olhar para a Lindinha. Sabe como é, ela é de menor e meus cabelos “branca de neve” denunciam o arquétipo perfeito de tarado babão: velho, gagá, exibido e burro. Só me resta olhar para o Corujão. Bem, você pode passar horas olhando para o Corujão. O probrema (não freqüentei a escola) é que ele não olha para você! O olhar dele é distante. Parece observar um ponto no infinito. No fundo, acho que ele olha para si mesmo na tentativa desesperada de achar alguma resposta. O cara poderia se passar por uma estátua não fosse uma idiossincrasia: ele coloca e tira sua língua preta pra fora o tempo todo! Um dias desses eu estava puto, entediado. Comida e esterco são a mesma coisa aqui. Perguntei ao Coruja: “Coruja, o que estamos fazendo aqui? Vamos, responda-me! Que diabos estamos fazendo aqui? Dá pra parar de colocar e tirar esta porra de língua preta pra fora?”. Subitamente agarrei sua língua de cobra e comecei a puxá-la pra fora. Eu realmente queria arrancá-la. Só não fiz porque o Sebastião me impediu.

Sebastião: meu único irmão, meu único amigo, minha única família. Enquanto eu observava os outros serem cortejados por seus parentes com docinhos e lembranças, ele era a única pessoa que me dava força (cachaça mesmo). Pobre Sebastião. Como pode um cara tão legal ser tão sozinho, não ter uma mulherzinha sequer? Eu quero retribuí-lo por tudo que ele fez por mim. As intermináveis horas de conversa suja na madrugada. Os cigarros, o uísque escocês (colombiano). Eu quero ser sua mulher. Eu quero me casar com ele.

Na sala ao lado, o enfermeiro Sebastião conversava com o psiquiatra Siguimundo Froide.

“E então, como ele está? Perguntou Froide. “Tive que atender em outro hospital ontem”.

“Bem, esta noite ele tentou se matar novamente. Pegou a própria língua na intenção de arrancá-la. Dá pra acreditar? Além do mais, disse que me amava e que adoraria ter filhos loiros e saudáveis comigo”.
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