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Erotico-->21. RECLUSO -- 18/06/2003 - 07:32 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Não lhe permitimos grandes expansões de arrependimento, pois o conflito íntimo não se justificaria pelo desenvolvimento das revelações. Mais tarde, conforme o andamento das peripécias conscienciais e dos influxos vibratórios relativamente aos demais e de acordo com a possibilidade de recepção ou de rejeição das vibrações antagônicas ou de amizade, iria ter de enfrentar sozinho as reações do caráter.

Todas as informações que pretendíamos assimiladas da memória estavam frescas na mente, de modo que haveria de ficar um tempo em suspensão vital, para formular ou reformular planos de atuação cármica, se nos forem permitidas tais expressões à falta de terminologia técnica adequada. De qualquer forma, haveria de digerir os elementos extraídos das outras encarnações, juntando-os aos fatos recordados dos períodos de trevas ou de penumbras no etéreo, para o que não poderia sofrer a interferência de outro ser interessado neste ou naquele aspecto, em detrimento dos que consideraria Lourival os mais importantes.

Isolá-lo era de lei, de modo que fizemos que se interessasse pelo cordão luminoso a seus pés.

Queria fazer muitas perguntas, mas coagimo-lo hipnoticamente a que seguisse atrás da luminosidade que se estendia terra adentro.

Lourival foi acompanhando o mistério, percebendo que o cordão, à medida que avançava, ia incorporando-se ao seu vestido astral, em absorção perfeita.

Súbito, a maior surpresa: o leito hospitalar e o seu corpo arremessado sobre ele, arfante, os batimentos cardíacos acelerados, estranho instrumental mecânico e eletrônico a marcar-lhe os sinais de vida.

Observou bem a face e estremeceu. Como é que não se apresentavam as rugas, a brancura e as falhas do cabelo? Estava-lhe nítida na retina a fisionomia de velho. Não fora assim que se vira no espelho d água do vaso?

Que fenômeno era aquele?

Aos pés da cama, junto à parede, jazia Ernestina, largada em desconfortável poltrona, em comovente vigília de dor. Lourival não viu as lágrimas, o abatimento, as olheiras fundas, o descuido da aparência nem as roupas amarfanhadas. Viu, sim, que Ernestina estava bastante jovem, em plena madureza dos quarenta.

De repente, sem que pudesse interpor resistência, foi coagido a reassumir o corpo físico, como quem volta de longa viagem. Os olhos estavam permanentemente abertos, de modo que podia ver, sem, contudo, oferecer comprovação de que estava ali.

Ernestina, não tendo passado muito tempo, aproximou-se e depositou uma gotícula em cada vista. Era o colírio que impedia de secarem-se.

Lourival desejou movimentar os braços ou as pernas. Estavam paralisados. Mas a mente fervilhava. Esquecera-se de que estivera em sono durante tanto tempo e só pensava em resolver os mistérios.

O ritual do atendimento da enfermagem e dos médicos se sucedia, esperançosamente, desde que abrira os olhos, o que trouxera mais vida à esposa.

Ansiava por volver ao relacionamento, mas as lembranças das vidas anteriores estavam muito vivazes, prontas para o estudo sério das leis de causas e conseqüências. Precisava lembrar-se, todavia, das normas espíritas, para pô-las em prática. De que vale a filosofia, se estiver em plano absurdamente diferente daquele em que se regem os procedimentos?

Principiou Lourival por perceber que Ernestina lhe dava todas as atenções. Quis verificar se havia alguém do plano espiritual presente, mas não conseguiu visão fluídica para o efeito. Será que alguém lhe assopraria algo aos ouvidos? Nada. Estava limitado pelas sensações possíveis de corpo despojado de movimentos.

Começou a tentar perceber se os sentidos estavam realizando algum trabalho, tal como enxergava o que estava ali à volta, sem poder de fixação.

Vozes longínquas chegavam-lhe, sem que pudesse caracterizá-las. A pele não lhe transmitia a sensação térmica dos cobertores que distinguia sobre si, mas também não podia dizer sentir frio. A língua estava grosseiramente postada, inerte. Nenhum odor.

Como estaria sendo alimentado? Por via intravenosa. Há quanto tempo estaria ali? A memória o traía. Não se lembrava de muitos acontecimentos recentes. Sofrera distúrbio cardíaco? Mental? Sofrera abalo nervoso em virtude de tumor? E se fora atropelado?

Vozes se aproximavam mais claras. Uma era masculina. Reconheceu José Leocádio. Iria topar de novo com o espírito que ameaçara conduzi-lo ao abismo?

O amigo entrou acabrunhado, em companhia de Isabel, oferecendo-se para substituir Ernestina, que diziam acabada. Recomendavam-lhe que buscasse ar fora. Que fosse alimentar-se. Descansar.

Lourival estava totalmente alheado dos acontecimentos.

Naquele estado de choque, o trauma não era simplesmente físico. Milhares de perguntas cruzavam-lhe a mente, sem respostas. Que acontecera, afinal de contas?

Nesse passo de raciocinar, Lourival passaria dez longos dias e noites. E nós não poderíamos interferir. Caberia a ele descobrir razões para prosseguir vivendo. Se as achasse e se desejasse sobreviver ao acidente, dar-lhe-íamos, com a anuência dos espíritos superiores, condições de volver ao plano dos relacionamentos. Poderia ocorrer de ficar em coma, até completo definhamento. Poderia estourar algum órgão vital, antecipando o desenlace.

Aguardaríamos.

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