EPÍSTOLA 4
Enquanto os demais chefes da Igreja se estapeavam atrás de um altar, nos fundos da construção, para ver quem seria O Sagrado Coletor de Dízimos, eu, peregrino eleito, me dispunha a iniciar imediatamente os preparativos para a jornada.
Importante frisar que, diferente de outros caminho sagrados, caminhos já domesticados com plaquetas, pousadas, bilhetinhos e observadores e fiscais, O Caminho Sagrado para Milagres estava para ser desvendado.
Aí estava o inusitado do feito, pois inúmeros pensadores, mestres e místicos teorizavam na existência desse caminho e coube a mim, Outro Coelho, a missão de encontrá-lo e desenhá-lo em mapa.
Um trabalho cheio de perigos e efetivas ações dos poderes psíquicos terrestres e invisíveis, ou seja, eu precisaria de muita concentração, sacrifício e fleuma para buscar nas raízes atmosféricas, terrenas e aquáticas, por que não nas fogaríficas, também, a decifração daquele enigma.
Fui para um spa, onde recuperaria forças e receberia cursos de sobrevivência aplicados pelos mais iminentes sábios andarilhos já conhecidos ¿ e, alguns desconhecidos também.
A data para a partida estava marcada para o dia de Santos Reis.
Houve muita festa, quermesse, vendilhões de todos os templos estavam presentes e a Igreja do Sagrado Triângulo de Quatro Pontas aproveitou para levar o seu. Chefes, pastores, padres, bispos, irmãos, fratres, estavam presentes com seus seguidores e bandas de música. A Igreja Católica S/A, a Evangélicos Unidos, a Trade Espíritas Alinhados Protoplasmic, a recentemente formada Liga Árabe Judaica para assuntos de religião também enviou seu representante e, é claro, a Ateus Incorporation. Irmandades variadas, instituições de assistência dos mais diversos naipes liderados pela major 90%MEU, e uma quantidade grande de pequenas empresas do ramo da fazedura, benzedura e pilhagem religiosa.
Sentimos apenas a presença espiritual do patrono do templo, Paulo, O Magro, pois estava em santa missão de contar recursos advindos da venda de seu último livro traduzido para o cartaginês. O nosso patrono não só vendia bastante livro para o planeta todo como também já começava a exportar para tempos antigos também. A primeira investida foi em Cartago, no tempo de Aníbal Barca. Demais(!) o nosso patrono.
Mas, após um vento ensurdecedor, apareceu no átrio do templo uma pessoa que não havia sido convidada para nossa festa. Um fogo gelado irrompeu e uma mulher com chifre e báculo, de rosto esverdeado, pálido e maquiagem impecável, apareceu subitamente, lançando chispas para todo lado.
Medo geral. Um frio na espinha. Barbas de molho.
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