De Paris a São Saruê: cronicas e outros textos: Autor: Getúlio Araújo:Kelps/ Edições consorciadas/UBE/GO: 2001
Por: maria do socorro Cardoso Xavier*
Getúlio Araújo: escritor, artista plástico, médico, potiguar de nascimento e goiano por adoção. Da terra de Cascudo, herdou o gosto pela cultura popular, folclore. Faz com entusiasmo o intercàmbio nordeste/cerrado. Autor de: Caminhos Culturais do Rio Vermelho ao Potengi (1994); A presença de Càmara Cascudo em Goiás (1998) e Algumas pernas curtas da mentira [de parceria com Mário Souto Maior, Manoel Correia de Andrade e Renato Phaelante] (2001).
O livro consta de cronicas, documentos epistolares, entrevistas inéditas com folcloristas e acadêmicos famosos: o pernambucano Mário Souto Maior, com a "Intriga do Bem;" e o membro da Academia Brasileira de Letras, Antonio Olinto; narrativas de viagens ao berço da cultura ocidental. Enfim uma memória indelével, no qual transcreve textos valiosos de intelectuais e estudiosos da cultura, do folclore goiano e norte rio grandense e nordestinos: O Veríssimo de Melo, o Càmara Cascudo, o Enélio Petrovich: presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte [o qual tive a honra de conhecê-lo, aqui no IHGP de João Pessoa-Pb].Uma iconografia viva e presente.
Uma seleção valiosa de documentos culturais, de figuras inesquecíveis, que se não preservados num livro singular como este, se perderia no tempo, arquivados em alguma gaveta, que as traças consomem. Fundem-se, integram-se valores culturais do nordeste com os do planalto central, numa simbiose cultural muito rica e significativa. O próprio escritor Getúlio Araújo é instrumento de divulgação, trazendo ao Cerrado, homens tão sensíveis, deram uma significativa contribuição aos estudos culturais nordestinos.
Getúlio Araújo relembra fatos tão memoráveis daquela ambiência telúrica do autor, os sertões e sua gente, não esquece as tardes com Cascudo, os cantadores de viola do Rio Grande do Norte e a goiana florida! Registra episódios de suas viagens européias: França, Península Ibérica - constatando nossas origens salgadas, lacrimosas e brancas - que ao aculturar-se com o Nordeste, com o negro, o índio, resultou nesta coisa esplêndida que é o Brasil!
Seu livro é um registro de tanta coisa importante, se constitui história e passagens afetivas ao mesmo tempo. Do particular ao geral: "se queres ser universal, pinta a tua aldeia". Imprime as suas narrativas aquela auréola de romantismo e humana sensibilidade para as coisas desta imensa terra, de matizes tão variados e surpreendentes. Como o próprio autor diz, do fundo do coração: "pertenci ao período dos anos dourados, como dizem os saudosistas hoje. Naquela época de pós-guerra havia esperança, alegria e respeito ao próximo. Tomei banho de chuva, molhei os pés nas poças da felicidade, senti o aroma dos cajueiros floridos, apreciei os bem-te-vis nas sinfonias das auroras. Foram-se os inesquecíveis anos dourados".
O autor é um médico, cuja ciência exata, não o tornou cético; é um erudito, apaixonado pelo popular. O livro é um canto à cultura brasileira!
(*) autora de Tesouro Redescoberto: A riqueza do folheto em verso; e mais seis livros [de poesia, pensamento e memória].
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