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Erotico-->14. CATARINA E NICANOR -- 11/06/2003 - 07:14 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

— Nicanor, meu pai, socorro! — foi o que lhe veio à lembrança gritar.

Diante da figura horrenda da “madrasta”, não saberia como se compor. De repente, todas as impressões de dor que ela lhe causara se concentraram na ansiedade da revelação dos íntimos pensamentos de revolta.

Tiveram transbordamentos emotivos e as queixas de ambos nunca se explicitaram, deveras. A luta fora surda e o crescimento da repugnância aparentemente recíproco.

Ou teria mão única, na falsa impressão de que fosse malquisto? Catarina era quem lhe dizia todos os nãos e quem lhe dava corretivos, na forma de pequenas agressões físicas. Não se recordava de nenhuma grande surra, de nenhum despropósito de palavras ou expressões.

Era a atitude de represália pelas brincadeiras e malfeitos que ele detestava. E tudo lhe adviera desde a primeira infância...

Quem fora Catarina nas encarnações pregressas?

A pergunta cairia no abismo das interrogações inúteis, não lhe aparecesse Nicanor para os afagos de pai substituto. Este, sim, jamais tivera um só ralho para com ele, tornando-se companheiro para todas as horas. Não fora o pai quem o conduzira moralmente e o introduzira junto aos companheiros da mocidade espírita?

— Meu filho — era a primeira voz que lhe parecia dita diretamente pela pessoa ali constituída —, Catarina e eu somos antigos adversários, entidades que lhe desejaram mal durante muito tempo e que você aceitou como responsáveis por sua educação, em maravilhosa reunião em que seu espírito compareceu, quando, órfão, se hospedava no internato da caridade oficial.

Lourival não desejou saber mais nada. Quis apertar o casal de encontro ao peito, mas Catarina não estava caracterizada como a criatura maravilhosa que lhe dera agasalho, alimento e educação. Estava fortemente impregnada de vibrações hostis.

— Muito obrigado, querida amiga! — disse num suspiro, ajoelhando-se-lhe aos pés, fartas lágrimas a escorrerem pelo rosto. — Faça de mim o que melhor lhe aprouver, caso se sinta credora dos resgates da dor. Saiba que não pretendo reviver as misérias da minha conduta. Se méritos tiver adquirido pelos serviços aos irmãos carentes de esclarecimentos, de carinhos, de bens materiais ou morais, aceite todas as regalias a que eu tiver direito, para cômputo junto às suas inegáveis qualidades...

Lourival lembrava-se dos discursos que lera alhures, mas os dizia de verdade, na ânsia de cumprir o ensinamento da reconciliação.

Catarina repousou das virulências estampadas na fisionomia e, amparada por Nicanor, que lhe aplicava “passes” por toda a constituição perispirítica, teve vários estremecimentos, como a recordar os felizes acontecimentos da época da relação corpórea, quando os pequeninos ganhos do adotado (Nicanor lhe sussurrava: — Filho!, filho!...) lhe proporcionavam imensas alegrias. Súbito, despertou para os sofrimentos da perda dos netos, do desespero do jovem casal, das ternuras de arrebatamento que sentira para consolar o pai (queria chamá-lo “amado”, “estimado”, mas estava bloqueada por antigos preconceitos), que se espojava nas ânsias do arrependimento e do remorso.

Copioso pranto começou a rolar-lhe pelas encarquilhadas peles do velho e rugoso rosto. Cedia, finalmente, à evidência do crescimento espiritual do ser que merecera dela tantas perseguições. Acostumara-se a rogar aos protetores que auxiliassem o sofredor ali rojado a seus pés, mas isto fora enquanto não se recordava de quem era ele, verdadeiramente.

No etéreo, atarantara-se quando o reconhecera, precisando ser contida pelo marido, para não fomentar o ódio dos inimigos que lhe rondavam os passos para obsidiarem-no. Estava, porém, fortemente protegido por entidades de bom poder vibratório, que lhe davam assistência pelas responsabilidades que assumira junto à diretoria da instituição de auxílio espiritual. Por outro lado, seu procedimento era irrepreensível e não facultava oportunidades para as influenciações deletérias dos maldosos.

Lembrou-se de vários adversários que foram conduzidos à doutrinação junto à mesa evangélica da mediunidade de desobsessão e que receberam todos os esclarecimentos de que careciam, aprendendo a esquecer, quando não a perdoar, para o justo encaminhamento aos tratamentos devidos, cada qual segundo seu nível de periculosidade espiritual.

Enfim, ela mesma, na carne, fora admitida junto aos trabalhos mediúnicos e desempenhara a contento tarefas no campo da prestação de serviços evangélicos. Contudo, sofrera muito pela incompreensão das leis de causa e efeito e do progresso. Não fora por Nicanor...

O quadro do abraço entre os pais e filhos, que presenciara há pouco, forçada não sabia por que forças impositivas da espiritualidade, estimulou-a a acarinhar os cabelos do protegido.

— Meu querido filho! Meu querido filho!... Eu o perdôo e rogo que tenha compaixão...

Lourival e Nicanor se abraçaram a ela, mas, diferentemente do amplexo anterior, não conseguiram obter o mesmo índice de tranqüilidade e de paz. Certa formalidade apontava para a frieza do relacionamento, como se estremecimentos impedissem absoluta franqueza e isenção dos ressentimentos. Haveriam de se reencontrar muitas vezes para as recomposições necessárias. Em cada coração, em cada mente, em cada consciência perpassava a idéia de que Deus e só ele era perfeito... Trabalhariam, estudariam, sacrificar-se-iam, pois estavam decididos a resolver todas as pendências. Tais íntimas deliberações eram o pensamento uniforme daqueles seres reunidos fraternalmente.

— Enfim, falou Lourival em voz alta, haveremos de sentir um dia a presença de Jesus a nos abençoar!

Mas estava só, diante de um mudo e espantado monstrengo de algumas faces.

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