Sabes
Quando
olho para ti,
ou penso fazê-lo,
recordo-te nas palavras,
deixadas na memória e amarelecidas
pelo tempo e pela ausência,
que me sussurravas ao ouvido,
numa voz impressa de afectos
Quando
olho para ti,
ou penso fazê-lo,
revejo-te num velho retrato
que nunca tirei e que, possivelmente,
nunca existiu para nós
a não ser no desejo
de um improvável ensejo
a sós
Quando
olho para ti,
ou penso fazê-lo,
fico num enorme [vazio]
em redor das palavras
que não chego a pronunciar
por terem sido escritas a branco
nas páginas amarrotadas do silêncio
que guardo em segredo
Sinto-me reflexo perdido
no folheio
do livro abandonado
dos velhos tempos de menino
Num gesto de carinho, abraço-te com o olhar
Martinho Branco
[do livro "Nas Terras do Sempre",
Menção Honrosa no PRÉMIO LITERÁRIO AFONSO LOPES VIEIRA 2004
da Câmara Municipal de Leiria - Portugal]
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