Velhice
maria da graça almeida
Ser dono é impossível,
mesmo até da existência.
Jamais se fez permissível
escolher a descendência!
Não se escolhe onde nascer,
nem o dia de morrer,
pelo menos aqui na terra,
este dito ainda impera!
Pudesse ter escolhido,
sei que teria querido
nascer com maturidade
e jovem ficar na idade.
A velhice é uma cilada,
rija máscara, pesada,
afunda, com fé e gosto,
as frágeis linhas do rosto!
Velhice não tem idade,
eterna é, na verdade,
começa desde o momento.
do choro do nascimento.
Suga-nos todos os dias,
sem nunca pedir licença,
chega e sem reticências
desbota-nos a aparência.
Delimita nossos passos,
diminui-nos os abraços,
impõe um véu à memória,
apaga tantas histórias...
Para a tal não há remédio,
não há preguiça, nem tédio
e ainda que a ela entregue,
há quem por certo a negue.
Dela apenas não têm medo
os que se foram bem cedo.
Vivendo, fica-se velho,
este é o privilégio.
E com esta reflexão,
concluo a minha versão,
não somos donos de nada,
só quem manda é a danada!
maria da graça almeida
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