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Erotico-->SEXO E LOUCURA NA «NET» -- 23/08/2001 - 14:30 (Gabriel de Sousa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Chamo-me Carlos e, como quase todos os homens da minha geração, participo em vários chats. Há tempos, cansado da rotina das perguntas e respostas ( quase sempre as mesmas), travesti-me de «lésbica» e parti à aventura ... Meu nick passou a ser «Clara», lésbica de 19 anos. Provoquei várias parceiras ... Umas ignoravam ... Outras (?) tentavam aproveitar a ocasião mas, a maior parte das vezes, sentia que eram homens... Até que uma moça de 36 anos, a quem chamarei «Filipa», aceitou falar comigo ... Conversámos sobre tudo, noite fora, e quando eu lhe sugeri fazer «sexo virtual», disse-me para eu ter juízo, que ainda era muito nova para ter tomado uma opção contrária ao meu sexo natural, para me ir deitar e para ir descansar a cabeça! Esperando tudo, menos isto, contente até, contei-lhe que era homem, me chamava Carlos e tinha 51 anos de idade ... Achou normal a diferença de idade. Sempre gostara de homens mais velhos, trocámos endereços e-mail, deu-me mesmo o número de seu telemóvel e despedimo-nos. Antes, dissera-me que nascera em França, filha de pai espanhol e mãe portuguesa, morando actualmente na terra de sua mãe no Algarve
No dia seguinte, já estávamos a conversar através do «mensageiro» MSN ... Que tinha medo, pois entregava-se profundamente às coisas e às pessoas e que as pessoas fugiam dela ... Só se abeiravam dela por causa do sexo. Durante as conversas demonstrava uma vasta cultura , citando amiúde escritores e poetas portugueses e sobretudo espanhóis, falando da música clássica que estava escutando, dos grupos de música moderna de que gostava...
Foi-me contando a sua vida ... Um primeiro casamento, bastante nova, de que lhe sobrou uma filha adoptiva mulata. Divórcio e novo casamento. Nascimento de uma menina e novo divórcio. Vivia agora só, com as filhas. Os pais ajudavam-na bastante e davam-se bem. Levava-as à escola, tinha um emprego de gestora e queria tirar um mestrado. Português e espanhol correctíssimos. Conversas um pouco loucas, com citações de poetas e escritores, com apartes, por vezes a despropósito... Pelo caminho, contou-me que, das suas reminiscências de menina, lhe tinha ficado a lembrança traumatizante de uma violação aos 15 anos. Repetia muitas vezes que precisava de protecção, que sentia medos, receios ... que tinha andado a tratar-se com um médico... Eu acrescentei que, para além dum bom psicólogo, ela deveria saber escolher também os seus verdadeiros amigos.
E os dias sucederam-se, com troca de e-mails e conversas no MSN até altas horas da madrugada. Estava a escrever um livro. Pedi que me copiasse uma página para eu ter uma ideia do que ela andava a escrever. Que era ainda muito cedo.
Um dia falou-me de um professor ... Depois de uma troca de e-mails, para transmissão de apontamentos, ele ensinou-lhe a «carregar» o programa MSN e a partir dali ele, que parecia nunca ter reparado nela, começou a cortejá-la pelo «Mensageiro» chegando a convidá-la para fazer «sexo virtual» o que ela aceitou ... Um dia, convidou-a para jantar, e depois, no carro, foi ela que lhe quis fazer tudo, profundamente como fazia tudo na vida. Depois zangara-se com ele, porque fugia dela, «como toda a gente» ... Talvez porque ela era possessiva e insaciável ...
Escusado será dizer que, passado pouco tempo, se não foi logo naquela noite, fizemos sexo virtual. Paradoxalmente, ela entregava-se (e exigia a entrega), mas falava normalmente, sem aqueles apartes «lunáticos» que tinha quando de conversas ditas normais. Algumas passagens do que ela me disse, nesse primeiro contacto amoroso :
- beija-me ... preferia ao vivo mas ... o quê ? parece-te assim tão impossível ?
- depende de nós ... beija-me ... aqui e ao vivo .
- podes beijar-me sempre, sempre .
- exijo !
- enquanto temos tempo ...
- no pescoço, pára !
- pára no meu pescoço ...
- no pescoço ... no fim do pescoço ... antes de chegar ao ombro ... morde-me qual gazela presa pelo leão !
- estás ansioso ?
- deixa-me que hoje seja eu a receber-te !
- deixa-me ficar ansiosa, esperando por mais !
- estou nua ... tens 1,70 de corpo para explorar ... porquê tanta pressa ?
- é verdade. nem sabes como sou ... queres conhecer este paraíso ?
- acaricio-te a nuca ... sim... devagar !
- por enquanto ...
- mas não por muito tempo.
- quero que tragas o meu sabor até mim !
- deixa-me sentir o meu sabor ... confundido com a tua saliva ... trá-lo à minha boca !
- sou uma fêmea com gosto ... adoro o meu gosto e a tua saliva !
- quero que te dispas !
- agora acaricia-te ... devagar .
- muito devagar... por enquanto. como se fosse a minha língua ... mas deixa-me ver-te !
- agora, beijo os teus mamilos !
- gostas ?
- mordo-os ... quase te dói !
- a minha língua sabe onde quer ir !
- queria brincar com o teu umbigo !
- deixa-me que o saboreie primeiro ...
- deixa-me que o reconheça ... que nos façamos amigos ...
- com a minha boca ... sente os meus dentes e a minha língua húmida ... as tuas mãos onde estão ?
- dá-me tudo devagar ... para que saboreie .
- dá-me então ... dá-me ! depressa ...
- digo o que tu quiseres ... estou com o teu gosto na minha boca ¡
- Adeus .

No dia seguinte, pelo mensageiro MSN, disse-me que estava triste. Perguntei-lhe se era eu o culpado ... Disse-me que não. Contou-me, então, que quando tinha andado a ser tratada pelo psicanalista, este teve-a fechada num quarto durante 24 horas só para fazer amor ... Mas ela não se importou. O pior era agora, um primo do psicanalista, de 35 anos, que andava a persegui-la, a telefonar-lhe, fazendo-lhe proposições obscenas... E ela tinha medo! O que achava eu de tudo isto ? Respondi-lhe que, quanto ao psicanalista, tratava-se quase dum caso de polícia, pois tinha abusado da relação médico/doente ... Quanto ao amigo, e agora que ela já se sentia recuperada psicologicamente, deveria ser ela a decidir pois, como Mulher determinada e sabendo o que queria, deveria saber escolher os seus amigos e, eventualmente, aceitar ou não determinadas aventuras. Disse-me que, como sempre que se sentia triste, estava ouvindo João Gilberto ... Passou parte da noite, falando de música clássica e de ópera, de literatura, principalmente espanhola, mas também de escritores portugueses ... E tudo isto fluentemente, demonstrando uma cultura fora do comum ... Um pouco «lunática» talvez ... sonhadora... mas sabia o que estava a dizer. As palavras são como as cerejas, palavra puxa palavra e, não sei bem como (quem provocou quem ?) em breve nos encontrávamos de novo numa animada sessão de «sexo virtual». Nestas ocasiões, ela descia à terra e era como o comum dos mortais ... A exemplo do que fiz, quando relatei o nosso primeiro «encontro», transcrevo algumas passagens do seu diálogo. Os leitores adivinharão o que eu também disse, mas que não repito por pudor (?) e (ou) timidez :
- vou pegar em ti ... meter-te num quarto ... e só sairás de lá quando eu deixar.
- Vou saciar todos os meus desejos ...
- e os teus, claro .
- não acreditas que sou interessante ?
- apenas tenho algo que penso que não gostes muito ...
- estou quase nua ... muito calor !
- estou no meu quarto, só .
- não deves gostar do meu cabelo ... é curto e tu gostas de acariciar cabelos !
- tenho uma camisinha branca toda transparente ...
- sem roupa interior, porque não gosto.
- durmo sempre nua !
- a camisa é muito curtinha ...
- então faz ... meu amor !
- quero que me sentes no teu colo.
- não, é óptimo.
- senta-me no teu colo ... de costas viradas para ti ...
- e levanta-me um pouco a camisa .
- agora sou quem te toca !
- quero despir-te !
- estás nu ? não deixaste que fosse eu a despir-te ?
- tens algum sofá na sala ?
- então levanta-te comigo em cima de ti e leva-me até lá ... sempre na mesma posição .
- sim. assim mesmo... agora deita-me nas costas do sofá ... sempre com o meu rabinho virado para ti.
- eu estou completamente abandonada ... presa por ti ... lambe-me !
- faz-me gritar mais !
- quero ... quero que o faças já !
- aguenta assim... agora vais entrar em mim...
- entra ... em todo o lado ... estou aqui para ti.
- espera amor ... espera por mim !
- não queres passear um pouco pelo meu rabinho ?
- agora ?
- e eu vou lambê-las !
- chupo sim, amor ...
- chupo tudo ! para ti e para mim .
- mas voltas !
- voltas para me abraçar...
- ... e dizer-me boa noite !
- lembra-te que o mais importante é o amor !

No dia seguinte, telefonei-lhe pela primeira e única vez. O tom de voz era bastante jovem... agradável. Conversámos um pouco... E a nossa relação continuou, sobretudo através dos e-mails e do MSN ... Os seus assuntos diários pareciam compartimentos estanques... Aparentemente sem relação uns com os outros, sem seguimento... Julgo que não me voltou a falar nem de suas filhas nem do seu livro em gestação... Um dia disse-me que, na semana seguinte, iria sair, para ficar longe do computador, do emprego, de tudo ... Quando mais tarde lhe perguntei se lhe poderia telefonar na sua ausência... respondeu-me que afinal estava a chegar um amigo de Nova Iorque, ex-professor da irmã, nos Estados Unidos, e que - para já - ia ficar. Depois talvez percorresse o País com ele. O seu sonho era ir um dia a Nova Iorque... Ver aquelas grandes ruas e arranha-céus com que sempre tinha sonhado ... Talvez em Outubro ou Novembro ... Continuou a falar-me bastante nas suas preferências literárias e musicais ... Confessou-me que, visto eu saber também espanhol, preferia falar comigo nessa língua... Influência do pai ... E falou-me de Lorca, de Neruda, da Tosca, de Chopin, citou-me poemas e canções de autores brasileiros... Sabia que era instável. Vinha dum processo de desmontagem e (re)estruturação da sua personalidade... Uma certa vez que, por brincadeira, lhe chamei louca, pediu-me para o não fazer pois era muito sensível a tal palavra. Agora sentia-se bem. Noutra noite, voltámos a fazer sexo... Quem sugeriu ? Quem provocou? Como foi que a ideia surgiu? Com ela, dá-me a ideia de que nunca sei onde principio nem acabo... Aqui fica o «diálogo», seguindo o critério anterior :

- quando estás cansado não ficas ?
- ainda melhor ... já brinco... adoro-te !
- assim ficas à minha mercê ! dava-te uma boa massagem para descontrair !
- apeteces-me tu, meu amor ... sempre .
- adoro-te !
- nu e meu .
- sim, vou fazer-te uma massagem.
- as massagens, querido, requerem cuidado ... tempo.
- como vais fazer quando estiveres comigo meu amor ? tens que me dar prazer !
- já estou toda húmida para ti ... só para ti ...
- esfrego-me .... como um cavalo louco ... com o meu sangue espanhol !
- quero a tua saliva toda ...
- toda a percorrer o meu corpo.
- quero tudo o que tens dentro de ti.
- quero molhar-te todo.
- com a minha boca que te deseja, meu amor.
- tem calma...
- já te estou a lamber e a percorrer com os meus dedos.
- quero-te dentro de mim ... já !
- então vem-te ... vem-te para mim !
- para o meu corpo.
- dá-me prazer !
- mais ... mais ...
- sinto tudo o que fazes !
- tudo o que fazes, eu sinto, meu amor. tudo !
- e vejo.
- e adoro ver !
- sou uma cobra para ti !
- quero-te pessoalmente !
- quero-te nu para mim !
- e ... fazer tudo o que me apetece.
- saciar todas as minhas fantasias ... tenho muitas ... muitas ...
- e vais enlouquecer comigo .
- ao telefone? e não me queres em pessoa ?
- agarra-me !
- eu quero essa loucura !
- toda ... toda ... toda ...
- sim... dou-te a minha língua !
- chupo os teus pés ...
- « manda entrar quem bateu à porta ! »
- sim ... uma noite inesquecível !
- num lugar perdido no monte .
- « amanhã abriremos a porta, para ver quem era ! »

E a nossa troca de e-mails continuou, assim como as nossas conversas no MSN . Num dos seus e-mails, pude ler : «continuo cansada... sei muito bem o que não quero ... o que quero, vou descobrindo à medida que caminho... deixo sempre um espaço à vida, para que ela me possa surpreender... com os anos, tenho aprendido a saborear ... gosto de adiar encontros... não quero ser uma mulher formatada... quem gosta, ou gosta assim ou não gosta... porque será que esta minha loucura que tanto atrai as pessoas, acaba por afastá-las? que longa vai a conversa e não sei se disse algo... sinto-me muito mais solta a falar contigo, nota-se? sufoco-te com as minhas palavras? mistério ... e nos nossos encontros nocturnos, naqueles em que me beijas, em que nunca sabemos onde está o limite entre a fantasia e a realidade, muitas vezes sinto-te... sinto-me... gosto dos teus beijos... gosto muito! Dá-me muitos, muitos, faz-me senti-los sempre... não imaginas o bem que me tens feito... queres tomar um chá? sem sexo, sem nada ... apenas tu e eu numa conversa... ou simplesmente num olhar... » .

No dia seguinte, mandou-me novo e-mail, com um anexo : uma canção da cantora islandesa Bjork, acompanhada de um «vídeo-clip», em que se via a cara de uma mulher ( julgo que da própria cantora ) a chorar mas, em breve, as lágrimas se transformavam em bichos, tipo lagartas, de várias cores, que lhe deslizavam pelas faces, entravam pelo nariz, saíam pelos ouvidos, tornavam a entrar nos olhos, saíam pela boca, ao ritmo da música e da voz ... Desliguei o computador e fui dormir, não sem antes, Filipa me ter chamado no «Mensageiro» perguntando se tinha gostado. Disse-lhe que sim, mas que o vídeo era um pouco estranho ...
No dia seguinte, porém , uma atracção que não sei explicar fez-me saltar da cama para ouvir de novo a canção. Cliquei no «file» «Hidden Place» e recomecei a ouvir a canção ... Estupefacção minha, o vídeo-clip não era reproduzido! Mandei-lhe um e-mail, pedindo o reenvio da canção. Veio a resposta de que o e-mail não tinha podido ser entregue. Olhei para a janela do MSN, o nome da Filipa tinha desaparecido. Precipitei-me para o telefone e disquei o número. Respondeu-me a operadora: «o número que marcou não está atribuído». Retorno ao computador, volto a cliquar no «Hidden Place» para ouvir ao menos a canção, para confirmar que estava acordado e consciente. E ela lá estava, a Bjork, cantando com sua voz arripiante, mas atraente e absorvente :

« One day
it will happen
one day, one day
it will all come true».
( um dia / acontecerá / um dia, um dia, / tudo se realizará ).

Nunca ouvira tais palavras naquela canção! Procuro um outro CD da cantora (Debut) e, aí sim, encontro aquela passagem...
Que me está acontecendo? Filipa existe? Existiu ? Transmitiu-me a sua loucura? - Ou sou eu que estou enlouquecendo? ( Filipa fazia já parte do meu quotidiano ... Será que a vou (re)encontrar ? Sinto que a minha cabeça vai rebentar ... )
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