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Erotico-->56. A VIDA CONTINUA — fim de A GAIOLA DE OURO -- 27/05/2003 - 07:53 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Terê não perdoaria jamais o filho, como não perdoou o marido, tanto que o abandonou, levando as crianças consigo, indo morar na casa que Renato lhe destinara. Três anos depois se mudaria para a casa grande, devidamente outorgada pelo juiz no processo de espólio.

Por essa época, Juvenal trabalhava no escritório de Dirceu, na qualidade de estagiário, demonstrando conhecimento e habilidade na interpretação das leis.

Glorinha ainda não se decidira por casar-se com ele, mas não demoraria para se ver obrigada a isso, por força da gravidez que não soubera ou não quisera evitar.

Elvira aposentou-se, finalmente, da televisão e das aulas particulares, dedicando todo o seu tempo para a benemerência no centro espírita. Foi chamada a servir junto à Federação de seu Estado, mas se recusou, humilde, desejando usufruir uma velhice cheia de realizações pessoais, o que incluía algumas horas diárias de exercícios físicos. Acabaria fundando com Margarida e Valéria um centro espírita mais na periferia da cidade, dedicando-se aos favelados da região.

Margarida foi levada por Valéria a visitar o casal, com uma ponta de saudade dos tempos em que reinara no apartamento como governante. Sentiu certo sentimento de inveja pela sobrinha, terminando com o temor de vê-la às voltas com a difícil personalidade do amante. Desde essa primeira vez, sempre que convidada, não faltava às reuniões familiares que eram patrocinadas por Glorinha.

Quanto a Ricardo, cansou-se de convidar Juvenal e esposa para voltarem a freqüentar sua casa espírita. Impressionara-se com a mediunidade da moça, achando que a perda dessa faculdade era de lastimar. Não teria tempo em vida de vê-la retornar às lides junto às mesas mediúnicas, tendo falecido pouco depois do nascimento do filho do jovem casal.

Macedo, sim, não perdia oportunidade de assistir às conferências dos melhores oradores espíritas, indo onde houvesse uma boa palestra. Arrastava José consigo, sempre que podia, este mais arredio, preferindo estudar em casa mesmo, quando muito indo discutir com um grupo de profissionais liberais que se reuniam semanalmente na sede da União das Sociedades Espíritas da cidade.

Ângela desapareceu de vez da vida de nossas personagens, efetivando-se no serviço público, indo lecionar numa cidade do litoral. Dos alunos que ensinava na casa de Juvenal, dois foram capazes de ingressar em faculdades públicas. Os demais foram engolfados pela sociedade tentacular da grande cidade.

Pela época da formatura, deu-se o julgamento do rapaz, adiado muitas vezes por artimanhas jurídicas de Dirceu, que pretendia demonstrar a recuperação integral do réu, que não se constituiria mais num perigo para a sociedade. Assim mesmo, nem com o extenso laudo médico formulado pelo Doutor Moacir conseguiu evitar uma condenação. Mas os crimes da menoridade constituíram para a promotoria apenas base de argumentação, centrando-se o processo no assassinato das três vítimas quando o rapaz já havia completado dezoito anos. Era o período mais agudo da esquizofrenia, conforme ficou largamente demonstrado perante o júri. Sendo assim, os quinze anos da pena foram amenizados, transformando-se em prisão domiciliar, com obrigatório acompanhamento clínico e prestação de serviços comunitários dentro de sua profissão, o que o levou a atender juridicamente o povo pobre junto a um tribunal de pequenas causas, um dia na semana. Quanto aos dólares e ao ouro, foram integrados ao patrimônio público, dado que a origem das células e das barras se comprovou ser da época em que Renato estava vivo, anterior, portanto, à jornada de Juvenal no tráfico.

Casados, os jovens já não habitavam o luxuoso condomínio. Isto ajudou a demonstrar junto ao tribunal que não havia saldo positivo relativo à sua vida de crimes. O dinheiro com que viviam provinha de duas fontes: do salário de Glorinha, que herdara o programa de televisão, e de seu restaurante, onde Juvenal aplicara sorrateiramente todos os valores guardados, sendo insignificantes os seus ganhos até então na qualidade de estagiário. O moço cumpriria, nos próximos anos, a promessa que espontaneamente fez à esposa de que passaria aos pobres duplicada ou triplicada aquela quantia.

Em breve, sairia a primeira obra da moça, livro de receitas testadas no seu programa, totalmente ilustrado, composto com o auxílio de um escritor famoso e impresso por conceituada editora, sob patrocínio da emissora de televisão.

Dois acontecimentos iriam bulir com as emoções de Juvenal.

O primeiro se deu ao atender à convocação do juiz para defender uma vítima de abalroamento na via pública, com prejuízos apenas materiais. Os litigantes deveriam chegar a acordo quanto ao valor a ser pago para se obter pleno ressarcimento dos danos. Ao ler o nome do queixoso a quem deveria aconselhar, deparou-se com Tadeu, ficando extremamente ansioso quanto à reação do irmão e cunhado de suas vítimas. Pensou em solicitar outro caso, mas resolveu que seria melhor enfrentar a conjuntura para, quem sabe, justificar-se perante o tribunal do coração.

No pequeno salão em que se davam as audiências, Tadeu e Juvenal viram-se lado a lado, sentados junto à mesa do juiz. Precisavam conversar, mas nenhum dos dois quis tomar a iniciativa. Finalmente, o advogado criou coragem:

— Você me perdoou?

Tadeu não estava preocupado mais com o problema que fora resolver. Diante da pergunta direta, gaguejou uma resposta contida:

— Acho que sim.

E o assunto resumiu-se a isso, passando ambos a tratar do caso em questão, como dois desconhecidos.

Resolvida a pendência de modo favorável ao querelante, Tadeu se retirou sem agradecer e sem se despedir, deixando Juvenal na dúvida quanto a ter sido mesmo perdoado. Com seus botões, questionou as razões do ex-empregado, chegando à conclusão de que era natural que lutasse ele intimamente contra o desejo de desforra.

Se lhe tivesse lido na alma, ficaria sabendo que o sentimento que levou da reunião foi o de haver vencido antigos temores de que poderia querer o pior para o assassino. Sentiu Tadeu o quanto de remorso deveria ter sofrido o patrãozinho, elevando uma prece aos guias espirituais em que solicitava que a dor e a vergonha se atenuassem através da compreensão do mal que praticara.

Ambos ficariam com as impressões daquele encontro para o resto de suas vidas.

O segundo episódio significativo trouxe considerável mudança para a vida profissional do rapaz.

Estando no escritório de Dirceu a entrevistar um cliente que lhe fora encaminhado, ouviu do senhor trajado com apuro e elegância a seguinte observação:

— Pelo seu nome, vejo que estou diante do moço que assassinou o pai. Isto é uma bênção para mim, porque sei que você irá tratar do meu problema com o máximo de carinho. Fui, por muito tempo, um dos clientes dele, cujos serviços mereceram o máximo do meu reconhecimento. Se você puder fazer como ele, eu ficaria extremamente agradecido, se é que você está entendendo-me.

Enquanto o outro falava, Juvenal percebeu toda a gravidade da proposta, ligando-a de imediato a um dos processos da adega. Por isso, respondeu incisivo:

— O senhor está querendo que o nosso escritório suborne algum servidor do judiciário para fazer desaparecer o processo. Pois, se for isso, esqueça.

Ato contínuo, abandonou o homem no escritório, saindo em busca do Doutor Dirceu, a quem relatou o sucedido. Enquanto o patrão foi providenciar outro advogado para dar assistência ao cliente, o rapaz deliberou sobre seu futuro, no temor de que tivesse de repetir todas as más ações do pai. Imaginou-se preso às malhas de uma rede de criminosos, os mesmos traficantes de poucos anos atrás, que o transformariam, a seu malgrado, em um membro atuante da organização.

Quando Dirceu retornou, estava com o pedido de demissão na ponta da língua:

— Meu bom amigo e protetor, não posso mais servi-lo com a isenção de ânimo que a minha função exige. Agradeço-lhe a oportunidade que me foi dada e lhe peço que me dispense das formalidades legais, liberando-me para seguir outra carreira em que não fique tanto à mercê dos pleitos dos marginais, ainda que bem vestidos e bem falantes.

— Duvido que em nosso campo de trabalho você vá ficar livre deles.

— Na qualidade de juiz, talvez eu venha a ter autonomia quanto às decisões que tiver de tomar, ainda mais quando sabemos que sempre existirá o recurso da apelação aos magistrados superiores.

— Você vai ter de esperar que sua pena esteja cumprida, dado que os concursos exigem folha corrida sem mácula.

— Vou estudar bastante e quando tiver a certeza de que irei poder assumir um posto na magistratura, realizarei as provas oficiais.

Dirceu estendeu-lhe a mão, desejando boa sorte, ao mesmo tempo que lhe deixava em aberto a vaga no escritório.

Ao encerrar-se a nossa narrativa, Juvenal administrava o restaurante da esposa, auxiliando-a na contabilidade. Ele mesmo não tinha a certeza de que vestiria a toga dos magistrados.



Enquanto isso, no etéreo, Renato despertava finalmente do longo e tumultuado sono em que caíra. Sofrera pesadelos terríveis, em que se via perverso a perseguir pobres criaturas inferiores, como se dispusesse de poderosos recursos e de força descomunal, mas incapaz de controlar as reações, acabando por criar asco pelos despojos de que se via cercado. Passara, então, de perseguidor a perseguido, desejoso de se ver livre daqueles seres imundos que estavam por toda a parte. Depois de muito praguejar pelo insucesso das tentativas desesperadas de escapar ao vil assédio, resolveu que poderia dedicar a atenção a, pelo menos, um daqueles minúsculos insetos, acabando por perceber que lhe sugavam o sangue porque era assim que se mantinham vivos. Em sua perturbação, concebeu que, se se deixasse exaurir, acabariam por abandoná-lo por falta absoluta de terem com que se alimentar. Surgiu-lhe na mente a pergunta impostergável: se tais abjetos organismos nutriam a maldade, como poderiam alcançar a prática do bem? E não era o seu sangue a representação de todos os vícios e defeitos?

Ao formular a questão, acordou inundado de suor. Imediatamente, viu que estivera dormindo e que tudo quanto sofrera proviera tão-só de sua consciência culpada. Todos os agressores não existiam na realidade e, se existiam, estariam emitindo vibrações inutilmente, porque havia um aparato que interceptava as ondas e as reduzia a meros pensamentos passíveis de redução.

Repetiu na mente o quadro em que se via assassinado pelo filho e o posterior, em que fizera o mesmo com ele, em encarnação anterior. Caracterizou aquela criatura como antigo contendor a quem havia dado permissão de integrar-se à família, com vistas a superarem as dificuldades de relacionamento. Deu no que sabemos.

Mas avolumavam-se as questões para as quais não tinha resposta. Assim, pensou em Benedito como o ser mais à mão para auxiliá-lo.

De imediato, compareceu o bom amigo, preparado para as exposições que poderiam ser entendidas pelo sofredor.

— Meu querido, sei que a sua mente se acha coalhada de dúvidas e problemas. Formule a primeira pergunta, por favor.

— Por que fui incapaz, em vida, de perceber a loucura de meu filho?

— Porque era reflexo da sua. Entre os genes que você lhe legou, incluía-se o da esquizofrenia. Combinado com os da mãe, que estavam sobrecarregados de defeitos, resultou numa personalidade doentia.

— Você está falando em relação aos vínculos materiais ou se incluem os problemas afetos ao espírito?

— Todos os aspectos devem ser considerados. Se o problema se circunscrevesse ao âmbito da matéria, não teria a doutrina espírita condições de auxiliar na recuperação do rapaz.

— Você está dizendo-me que ele se curou?

— Está sob tratamento médico e sob orientação espiritual.

— Por que vocês se dedicam tanto aos encarnados, quando o natural seria que eles enfrentassem sozinhos as dificuldades?

— Nós nos aplicamos a compreender os processos psíquicos envolvidos nos dramas humanos, pelejando por minorar os efeitos deletérios dos males, como qualquer profissional da área da saúde na Terra. Eles ganham a vida. Nós ganhamos o progresso.

— Sendo eu inteligente, por que não fui capaz de chegar a respostas tão simples?

— Você, meu caro, desconfia ainda de que existam intenções malévolas por trás de toda ação em favor de outrem. Enquanto não suplantar esse vezo, terá de ouvir as explicações mais singelas, porque quem fica a complicar os assuntos é você mesmo.

— Qual o melhor caminho para isso?

— Você terá, como todos nós, de seguir um roteiro teórico e realizar um trabalho de campo. O aspecto teórico já se iniciou há tempos, quando Lutécia e outros amigos lhe passavam certos conhecimentos. Agora está faltando-lhe sistematizar a aprendizagem, o que você efetuará ao se matricular num dos cursos da “Escolinha de Evangelização”. Quanto à prática, deverá oferecer-se para trabalhar em alguma turma de socorristas na qualidade de aprendiz e ajudante subalterno inferior, apesar de sua inteligência e forte poder de reflexão, além dos extensos conhecimentos de jurisprudência humana que lecionava na faculdade.

— Posso fazer uma solicitação neste sentido?

— Desde que justifique a pretensão.

— Gostaria de auxiliar na recuperação de meu filho.

— Nada mais lógico, porque aí você poderá entender o mecanismo do ódio mútuo que sentiam. E também a repercussão na vida dele das suas ações e sentimentos, o que o obrigará a repensar a maneira de ser.

Havia outras questões, porém, Renato se excitou com a idéia de participar de alguma forma da vida do filho. Mas uma pergunta havia imperiosa:

— A reação de Lutécia ao saber que ele me assassinou foi bem diferente da minha. Lembro-me de que ela quedou silenciosa, concentrada, como se orasse pela alma do irmão.

— Ela, naquele instante, teve a notícia de que fora assassinada por Juvenal...

Ao ouvir a declaração, Renato só não desfaleceu porque Benedito previra o baque moral e recrudescera o apoio fluídico que vinha ministrando ao protegido. Entretanto, caiu em prostração moral, demorando para se recuperar. Quando voltou a si, quis saber do paradeiro da filha.

— Encarnada, respondeu-lhe o guia.

— Mas já?

— Seis anos, de fato, é bem pouco tempo para retornar ao mundo denso da matéria, contudo, como era desejo dela pertencer à família de Juvenal, foi-lhe dada tal oportunidade.

— Quer dizer que eu posso, ajudando meu filho, cuidar também de minha filha?

— Em tese, sim, se considerarmos que o bem para um significará um bem também para o outro. Mas é preciso que saiba que existem outras entidades dedicadas à criança que, na Terra, teria sido neto seu.

— Ela voltou como homem?

— Perfeitamente.

Outra série de interrogações se formou na mente do discípulo, todavia, conteve a curiosidade, interessado em iniciar as tarefas práticas.

— Pai Benedito, resta-me agradecer-lhe emocionado toda a sua atenção e assistência para com este pobre pecador.

— Não desgaste as palavras, meu filho. Você não tem que me agradecer nada, porque pouco venho fazendo pela sua evolução. Agradeça antes a uma pessoa de quem está esquecido, porque você se preocupa muito mais com os inimigos do que com os amigos.

Naquele instante, pôde o atarantado causídico reconhecer a seu lado a figura de Marilu.

Benedito prosseguiu:

— Eis quem tem tido por você o mais incondicional desvelo. Todo este tempo, não saiu jamais de seu lado, providenciando-lhe o conforto de proveitosa introspecção. Você deverá ouvir-lhe os conselhos, antes de deliberar. Fiquem em paz.

Enquanto Benedito se retirava, Renato revolvia os pensamentos em torno das palavras que lhe pareciam da mais severa repreensão, palavras que lhe desnudavam a consciência pejada de sentimentos inferiores.

Mal teve força para rogar:

— Marilu, minha esposa, pela recordação dos nossos tempos felizes, perdoe-me. Você bem sabe que a sua perda significou para mim um desastre muito grande. Mas você não teve culpa de nada. No meu coração, eu havia plantado as sementes ruins que produziram apenas joio...

Marilu, telepaticamente, fez que se calasse, pois não precisava justificar-se perante quem conhecia perfeitamente todos os escaninhos de sua personalidade, concluindo:

— Eu o amo, meu bem, porque você me estimou um dia. O nosso passado foi cheio de encontros e desencontros, até que nos comprometemos a auxiliar-nos mutuamente. Cumpri, na medida de minhas forças, esse compromisso e pretendo continuar esforçando-me no sentido de orientá-lo para a compreensão de como poderá elevar-se moralmente. Para isso, contudo, terá de me ouvir. Você está disposto a abrir mão de sua acentuada voluntariedade?

— Não sei se terei condições de julgar o que será melhor para mim mesmo. Pedi para ajudar meu filho. Será esse o caminho?

— Você poderá descobrir por si mesmo, inscrevendo-se entre os do grupo que dá assistência a ele. Posso adiantar-lhe, mediante a análise de seu espectro existencial, que, como disse Benedito, sua participação será de mero ajudante geral, espécie de “office-boy” de luxo, já que possui cabedal de inteligência que lhe possibilitará avançar rapidamente, caso venha a se dedicar antes aos estudos. Por outro lado, é bom realizar profundo exame de consciência, para verificar se o açodamento em partilhar dos serviços de ajuda ao encarnado não representa simplesmente manifestação de orgulho, no duplo sentido de desconfiar de que os socorristas não são competentes e de que você não está precisando receber lição nenhuma.

Concentrou-se Renato nas acerbas críticas implícitas na recomendação. Finalmente, concordou:

— O que me levou a considerar ser melhor partir para o lado prático foi a curiosidade a respeito de como Juvenal está havendo-se com as emoções que, por certo, está despertando-lhe a sensação de se ter transformado em assassino. Você tem razão. Embora não tenha compreendido perfeitamente toda a extensão de suas observações, acredito piamente em seus sentimentos para comigo. Como disse Benedito, agora reconheço que é a você que devo agradecer com o coração na mão...

De novo Marilu interrompeu-lhe o fluxo das manifestações melodramáticas:

— Você não está no tribunal nem na cátedra. Guarde sua peroração para explicar-se a si mesmo, porquanto muito há para ser examinado e elucidado.

Naquele momento, a protetora recebeu clara mensagem de que estava sendo requisitada junto a alguém em transe de desencarnação.

— Venha comigo. Existe um espírito que está clamando por nosso auxílio.

Marilu envolveu Renato com seus fluidos e transportou-o para o local em que Armando estava nas vascas da morte, ferido por vários balázios dos policiais com quem trocara tiros.

— Quem é esse indivíduo? — foi logo perguntando o recém-chegado.

— Este que pede clemência e perdão é o motoqueiro que transportou seu filho para a perpetração dos crimes.

Renato refluiu em sua boa vontade, em sua generosidade, tanto que precisou ser amparado por Marilu, que lhe sussurrou:

— Veja como você está reagindo mal. Não teria sido essa mesma a sua reação, ou talvez pior, encontrando-se com seu filho? Pense nisto.

— Como remediar?

— Acompanhe-me numa prece: Senhor, nós estamos diante da falência de uma reencarnação. O ser que está regressando à erraticidade traz a sobrecarga de inúmeros deslizes morais. No entanto, Pai, teve ele relacionamento de amizade e respeito por criatura de nosso círculo afetivo. Que nos seja possível transformar esse embrião de amor em auréola de proteção contra os inimigos que dardejam vibrações deletérias contra o infeliz. Transforme-nos, Pai, em guardiães caridosos, para o resguardo da integridade perispiritual do assistido. Eis que estamos apelando para sua misericórdia e infinita comiseração, prometendo-lhe dedicar-nos a tal mister quanto tempo for preciso, ainda que com o sacrifício de nossas realizações pessoais. Graças a Deus!

Sem saber direito o que estava prometendo, Renato repetiu:

— Graças a Deus!

Punha-se, assim, sob a responsabilidade de espírito mais capacitado para as tarefas de auxílio a sofredores. Iniciava-se seu aprendizado de humildade.

Ao lado deles, orava Francisca, apoiando Tiago e Natália, cujo perdão se traduzia em vibrações carinhosas e reconfortantes.


Indaiatuba, de 13.03 a 28.07.00.
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