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Contos-->Inventário de escritor -- 24/09/2000 - 22:12 (Erika Bernardo Viana) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Inventário de Escritor

Uma viagem torna-se inesquecível quando o imprevisível toca-lhe o memorável e juntos completam a história.
A concepção certa de turistas em regiões distantes são sempre as mesmas: pessoas apressadas em ver tudo, conhecer cada canto geográfico e não levar memórias, a não ser presentinhos, lembrancinhas, como legítimos consumistas. Não enxergam a poesia estancada nas ruas históricas, nos rostos simbólicos, nas expressões, nas culturas.
O museu, é menos importante que o colchão do hotel, e os restaurantes, só podem ser bons se a cozinha puder ser visitada.
Em uma viagem memorável não trouxe presentinhos, nem ao menos lembro-me se o colchão era macio. Trouxe algo muito mais etéreo, espiritual, onírico.
A Viagem:
Uma pensão afastada, ambiente medieval, como tavernas. O silêncio assombrava quando o vento espalmava os vitrais coloridos, a rua era bordada por um tapete de paralelepípedo. A proprietária, uma senhora de cabelos esvoaçados, risonha e muito simpática.
Tudo muito confortável, mas algo me instigava.
Uma porta de carvalho, enorme, pesada e trancada.
Dias inteiros sem ouvir seu rangido, o que esconderia por de trás daquele carvalho em forma estética de porta?
Como eu passava os dias e horas somente esperando um instante de oportunidade para penetrar além do universo escondido, percebo que, a senhora risonha esquecera em espaços pequenos no tempo, a passagem ao pavimento secreto semi-aberto.
Seria a chance de desvendar o que estava escondido. Como um rato atravesso o corredor, passo pelo vão da porta e encontro-me no coração da imensa entrada composta de carvalho. A porta se fecha, ouço a chave girar, estou trancada do lado de dentro de uma enorme biblioteca.
Encontro diversos livros, obras raras, autores consagrados, e uma estante um tanto longe, aproximo-me: - rascunhos, memórias, contos, escritos para teatro, poesias, centenas de histórias escondidas. Uma escritora nunca vista, nunca lida, talvez. Seu nome Eugênia Potlatch.
Sua literatura merecedora de conhecimento, seus versos libidinosos, descrevem os movimentos explicitamente narrados em prosa. Um bale de gestos, artérias, sussurros....
Seus contos e crônicas, envergaduras das dores humanas, sentimentos interpretados em palavras, frases, conflitos nas letras e traços que mapeavam em texto sua sublimidade.
Investigando e navegando em seus escritos descubro um caderno, contido nele declarações, confissões.
Eugênia Potlatch, considerava-se uma megalomaniaca, vivia dentro de seus conflitos, fortalezas erguidas em paredes de seu consciente, trancado e isolado do mundo exterior. Queria ser lida, mas não desvendava sua arte, sua obra.
Será que escrevia apenas para satisfazer suas necessidades? Ou queria um reconhecimento nunca oferecido por leitores legos que não sabem reconhecer a sensibilidade?
Cada folha do caderno percorrida por meus olhos, demonstrava uma mulher sensível, angustiada e perturbada. Presa no seu próprio universo literário.
Eugênia não existe mais no mundo concreto dos homens, seus textos estão apodrecendo como matéria humana em uma cova escura.
No regresso da viagem, paisagens avassalavam meus pensamentos, deixei para trás uma vida em obra. Mas Eugênia era uma escritora que interpretava a vida, seu refúgio eram as palavras, talvez permaneça trancada em sua cova escura sendo devorada por traças.

Erika Viana



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