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Artigos-->A paixão desmedida no calvário da dor -- 05/06/2002 - 13:21 (Rodolfo Araújo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A exclamação do amor, em todas as instâncias de sua manifestação, levou o jovem Werther a níveis extremos de delírio. Seu retrato foi traçado em 1774, pelo alemão Johann Wolfgang Goethe quando este tinha apenas 24 anos de idade. A obra, Os Sofrimentos do Jovem Werther (Martins Fontes, 1998, 166 páginas), emergiu na Europa como uma bandeira fincada secamente sobre os pilares racionalistas e estritamente metódicos que vigiam no final do século XVIII.

Considerado como livro-entrada do Romantismo, Werther relata a intensa e prolongada sofreguidão de um jovem que busca o amor de Charlotte, mulher já comprometida com Alberto, homem ascendente dentro do meio público. O trio marca-se progressivamente pela tensão do amor, cujo foco encontra-se em Werther, o apaixonado cujo tesouro não passou de lembranças, toques fugazes e contatos pouco inebriantes.

Toda a agonia do jovem é impressa em cartas endereçadas a um amigo, artifício que exime da narrativa o peso de ser contada a um número impessoal de olhos. Cada frase parece ser endereçada a um único leitor, como se os fatos fossem descritos a um íntimo amigo. Ao mesmo tempo, o efeito empregado nas construções transparece a idéia de que Werther brada do alto das montanhas que predominam a sua volta em busca de alguém que ouvisse suas desventuras.

Werther é tomado de exclamações, recurso que enfatiza sobremaneira o destempero, a falta de controle, a entrega total do protagonista às nefastas conseqüências de uma paixão que não poderia nunca aflorar: “Que homem é esse, a quem Charlotte apenas agrada, sem que todos os seus sentidos e sentimentos sejam dominados por sua presença? Agradar! Outro dia perguntaram se Ossian me agradava!”

O livro foi escrito por Goethe em apenas três meses, fato que desperta a suspeita de que todos os sentimentos expressos na obra, com tanta fidelidade e doação, fizeram parte de seu arcabouço de sentimentos represados. Os cenários descritos, algumas amizades e aventuras amorosas foram fundamentais para a confecção da trama. Goethe pôde alçar, na narrativa, um vôo arriscado e soberano, talvez até mais do que os próprios leitores de Werther.

Detalhes também marcam o paralelismo entre as vidas do autor e de seu personagem principal: a paixão por Homero, por Ossian (escritor medieval) e a religiosidade. A presença de Ossian chega a fundir-se com a história. Em um dado momento, Werther declama para Charlotte textos do escritor de forma a estabelecer uma unicidade entre narração e citação. Trechos de Ossian funcionam como atores de ligação entre os dois enamorados.

Outras inquietações de Goethe, porém mais amplas, reluzem no cenário de Werther. Além da perda do conceito de medida mascarada na descrição emocionada de uma paixão sem contornos e freios, é flagrante a contestação ao modo de vida burguês. Werther, além de nutrir o amor por Charlotte, refugiava-se na contemplação profunda das paisagens campestres e montanhosas européias: “Ah, incapaz de sentir tudo isso será somente aquele que nunca restaurou suas forças ao frescor de uma fonte, após uma caminhada exaustiva num dia de verão”.

A renúncia ao contexto das cidades, às mazelas governamentais, às manobras hierárquicas, aos mandos da nobreza e aos demais elementos-chave da vida burguesa eram parte do leque de desligamentos do jovem Werther, que, afastado de sua família e terra natal, pensava somente em encontrar seu verdadeiro refúgio nos inalcançáveis braços de Charlotte.

Goethe seguiu os passos designados pelo pai, formando-se em Direito, mas agonizante por querer desvencilhar-se da padronizada vida na qual estava mergulhado. Assim era o desejo de Werther: “Há muito conheces meu feitio de procurar um cantinho num lugar que me agrade, para aí me estabelecer e passar a viver com toda a modéstia. Em outro trecho, a repulsa evidencia-se torrencialmente: “O que mais me irrita são essas nefastas convenções burguesas!”

O livro, que remete constantemente ao tema da loucura passional máxima – o suicídio – motivou, em sua contemporaneidade, uma série de atos do gênero por parte de jovens que se identificavam com a obra. Goethe ficou conhecido, também, como o “autor de Werther”, vendo, assim, parte de seu drama suplantar inclusive sua existência.

Goethe escreveu outras obras-primas como Fausto e Boas-vindas e Adeus, que também marcaram-no dentro do panorama da literatura universal. O tema do amor, constantemente evocado ao longo da história da arte, teve interessante abordagem em Fragmentos de um Discurso Amoroso, de Roland Barthes. Nele, o teórico francês afirma que amamos o sentimento e não o objeto amado. Talvez, Werther nutria tamanha paixão pela história e pelos desafios que nela moravam, como Charlotte chegou a cogitar. O sucesso junto ao público fez de Werther uma clássica lança rompedora, abrindo as portas para as lágrimas, as manifestações fervorosas e as paixões em estado bruto na literatura.

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