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Erotico-->39. A SESSÃO MEDIÚNICA -- 07/05/2003 - 06:47 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Juvenal e o tio chegaram ao centro uma hora antes do início das atividades da noite. Lá se encontrava, dentre os conhecidos, apenas Ricardo, cuja presença foi de imenso agrado de José.

— Que bom achá-lo aqui, disse-lhe o advogado. Precisamos de sua ajuda para esclarecer-nos sobre um ponto importante, qual seja, o de que está havendo uma coincidência muito grande quanto a se abaterem várias desgraças sobre a nossa família.

Depois de contar-lhe os acontecimentos da tarde, rematou, asseverando:

— Não se trata de mera superstição. Os fatos estão aí. A menos que se trate de uma perseguição de alguém, não conseguimos explicação razoável para essa fórmula de atentado que já se repetiu três vezes. Eu, para falar a verdade, estou com medo.

Ricardo convidou-os a entrar na sala em que atendia o público reservadamente, dando-se um pouco de tempo para que as idéias se formulassem de acordo com a doutrina dos espíritos legada por Kardec. Se lhe pedissem uma resposta teórica, saberia fornecê-la facilmente, porque o tema de uma de suas palestras habituais era o infortúnio humano. No entanto, atropelado por uma questão específica, evidente, irrefutável, deveria colocar os pingos nos “ii”, especialmente porque a pessoa que a propunha era formado, esclarecido e capaz de imaginar várias hipóteses plausíveis.

Acomodados os três, iniciou sua peroração:

— O senhor, doutor, fez muito bem em aludir à possibilidade de um ato de vingança. Os espíritos, argüidos por Kardec, disseram-lhe que, primeiro, devem ser examinadas todas as possíveis causas materiais. Sendo assim, só as pessoas da família ou muito próximas dela poderiam conhecer os fatos históricos que teriam envolvido humanos de má índole, a ponto de desejarem a morte do pai e dos filhos. Lembrem-se de que, na Bíblia, está escrito que a mão de Deus atingia até a terceira e a quarta gerações. O criminoso ou criminosos poderiam estar sob influência desse tipo de fantasia, considerando-se eles próprios instrumentos do Senhor.

Juvenal acompanhava o desenvolvimento das idéias com interesse, arriscando um palpite:

— Mesmo que houvesse três motivações sem qualquer relação entre si, ainda a gente poderia pensar em que o instinto sanguinário desses indivíduos se devesse ao substrato ideológico da sociedade, o chamado inconsciente coletivo, formado a partir das raízes bíblicas da civilização ocidental influenciada pelo judaísmo.

Os dois senhores olharam muito espantados para o rapaz, acreditando ambos que se tratava de uma reflexão absolutamente improvável para sua mente juvenil. José logo atribuiu aquela lucidez às leituras das obras deixadas pelo irmão, as quais ele vira com que cuidado foram transferidas e organizadas no escritório do apartamento. Ricardo, por seu turno, pensou que talvez Juvenal estivesse falando sob inspiração de algum mentor espiritual, muito embora reconhecesse que a observação era totalmente espontânea, no sentido de demonstrar sua origem no próprio pensamento de quem a enunciava.

Foi tão evidente para ele a admiração dos dois que esclareceu:

— Não fiquem com esses olhos arregalados, por favor, como se tivessem ouvido uma verdade muito profunda e original. Na verdade, estou repetindo alguns dados que me ensinaram nas aulas de História do cursinho. Se houver algo para se admirar, é o fato de que eu consigo repetir de memória frases inteiras.

Ricardo deu-se por satisfeito e considerou:

— Não posso afirmar que você esteja certo ou errado, ou o seu professor.; a hipótese só poderá ser elucidada definitivamente com a descoberta dos assassinos e de suas motivações. Mas eu acho que a dúvida levantada seguia por outro caminho. Vou reformular a questão com as minhas palavras. O que o amigo me perguntou foi o seguinte: Será que existe um destino predeterminado para toda uma congregação familiar? Kardec também se interessou por esse problema, ampliando o campo para abranger as nações ou a humanidade como um todo. Que vocês acham que ele ouviu dos espíritos superiores que o ajudavam a montar a codificação espírita?

José estendeu a mão como a dar ao sobrinho a prioridade da resposta. Este não se fez de rogado:

— Do que eu tenho lido nas obras e apostilas que vocês me passaram e nas que achei e “baixei” nos sites espíritas da Internet, posso inferir que os espíritos se reúnem segundo seu nível de adiantamento, principalmente no etéreo. Entre os humanos, podem ser inseridos elementos de diversas categorias numa família para favorecer o progresso dos menos evoluídos. É como se fosse uma verdadeira escola: uns ensinam e outros aprendem. Sendo assim, trata-se de uma lei universal de interesse de cada um individualmente ou da sociedade como organização voltada para o bem-estar de seus componentes. Não sei se era isso que o senhor queria ouvir.

Ricardo não se deixou embasbacar pela verborrágica manifestação do moço. Simplesmente desconsiderou a forma e se ateve ao conteúdo:

— Vejo que você está assimilando perfeitamente o ensino reproduzido por Kardec, segundo as instruções que foram passadas a ele, à proporção que elaborava as perguntas. Então, podemos deduzir de suas palavras que existe um controle espiritual superior para a composição dos grupos humanos, já que se dá uma espécie de equilíbrio entre os indivíduos que os formam. Volto a interrogá-los a respeito de um ponto essencial. Que papel desempenha a natureza das almas envolvidas nesse processo evolutivo? Explico-me. Se existe quem tenha o dom do conhecimento dos seres inferiores para distribuí-los segundo suas necessidades, não se daria que a lei de aproximação dos semelhantes deixaria de preponderar?

Desta feita, nem José nem Juvenal se atreveram a responder.

Ia Ricardo prosseguir quando Elvira foi entrando, espantada por topar com o aluno faltoso:

— Com que então o meu amigo fujão veio encontrar-se comigo aqui!

Premido pelas circunstâncias, Juvenal viu-se dando dois beijos nas faces da professora, enquanto Ricardo explicava o que havia acontecido a ele naquela tarde.

Elvira ficou lívida. Não tinha expressões de conforto, parecendo-lhe que fora por precaução providencial que ele se livrara da morte. De qualquer forma, observou:

— Graças a Deus, você teve seu protetor a seu lado. Quem sabe na reunião de hoje ele possa vir dar notícias das medidas tomadas no plano espiritual.

José acrescentou:

— Foi justamente essa idéia que convenceu Juvenal a vir à sessão desta noite. Na verdade, viemos solicitar permissão para estar presentes, pois as nossas preces não são só de agradecimento, mas também de solicitação para que nos esclareçam sobre a desgraça que paira sobre a família.

Ricardo explicou:

— Eu estava justamente refletindo a respeito das intervenções dos espíritos na vida dos encarnados. Para concluir, uma vez que está na hora de preparar a sala (os médiuns estão chegando), devo dizer que, definitivamente, as influências maldosas, prejudiciais, só se permitem quando os homens não contam com a assistência dos anjos guardiães, porquanto seus atos podem tê-los afastado. É quando se dá a obsessão. Mas, se as pessoas cuidam de praticar o bem, as tragédias que lhes ocorrem vão servir apenas para dar-lhes a perspectiva da superação das dores pela compreensão superior de que Deus não tem nenhum interesse em testar a nenhuma de suas criaturas. Para isso, é preciso entender que todos os encarnados têm necessidades variadas de estar em peregrinação pela crosta terrestre. Daqui a minha alegria por vê-los interessados nas explicações que a doutrina espírita pode oferecer, o que claramente demonstra que respeitam a codificação de Kardec.

José acompanhou Ricardo até a sala em que se daria a reunião, enquanto Juvenal despedia Elvira, prometendo que cumpriria a programação de exercícios físicos e de alimentação balanceada que ela lhe ensinara. Afiançou-lhe, ainda, que estava dentro de seus planos freqüentar mais assiduamente os trabalhos do centro espírita.

Lamentou ela mas asseverou ao rapaz que compreendia a atitude dele. Era preciso que ele desse um novo rumo ao seu destino, agora que se via só no mundo. Por isso, recomendou-lhe, primeiro, que perdoasse a mãe, buscando reconciliar-se com ela o quanto antes, conforme a prescrição evangélica.; depois, que arrumasse uma namorada com quem se entendesse, de preferência uma jovem culta, para que se dessem bem, tendo em vista sua inteligência e descortino. Finalmente, aconselhou-o a aceitar o convite do tio para ir morar com ele, o que o tiraria da condição de refém dos empregados.

Juvenal, preenchendo o cheque do acerto das contas, prometeu pensar a respeito.

Às oito horas em ponto, a porta da sala de reuniões foi fechada, realizando Ricardo a prece de abertura, solicitando a cooperação das entidades protetoras de cada um, no sentido de que os trabalhos se desenvolvessem em harmonia, em prol do adiantamento de todos os presentes, encarnados ou não.

José e Juvenal foram convidados a se sentarem na fileira de cadeiras rente à parede.; junto à mesa, sentaram-se os médiuns e os doutrinadores.

Após a leitura de duas mensagens colhidas ao acaso nos livros que estavam sobre a mesa, Ricardo apagou as luzes, deixando o ambiente na penumbra, iluminado por uma lâmpada mais fraca de cor azul.

Notou o rapaz que quatro ou cinco pessoas das quinze que cercavam a mesa estavam guarnecidas de diversos lápis e folhas em branco. Imaginou que fossem para a psicografia e passou a observar se, de fato, alguém começaria a escrever.

Após uns dois minutos de profundo silêncio, um médium emitiu um longo suspiro, atraindo a atenção de Ricardo, que, na qualidade de dirigente da sessão, se aproximou da pessoa, postando-se logo atrás dela. Aguardou uns instantes e, vendo que o médium não se dispunha a falar, estimulou-o:

— O irmão deve dar passividade ao espírito que deseja manifestar-se. Concentre-se nos pensamentos que lhe ocorrem e repita-os para que possamos saber qual é a mensagem que a entidade deseja enviar-nos.

A resposta não foi imediata, mas, com paciência, Ricardo aguardou que o médium aceitasse a presença do espírito a seu lado. Finalmente, reproduziu as frases que se formavam em sua mente:

— Meus irmãos e irmãs, estejam na paz do Senhor! Venho conversar com os presentes pela primeira vez neste centro, embora já o tenha feito muitas vezes em outras casas espíritas. Gostaria de chamar-lhes a atenção para a bondade infinita do Pai, que nos criou e a tudo quanto existe com todo o amor de seu coração. Sei que minhas palavras são simples e assim devem ser entendidas, porque não possuo as luzes dos guias maravilhosos que ditaram as que foram lidas há pouco. No entanto, quem cumpre seus deveres de solidariedade e de fraternidade consegue adquirir a liberdade de procedimento, segundo um alto nível de aplicação do livre-arbítrio, para ombrear em perfeita igualdade e harmonia com os espíritos mais adiantados de sua esfera. Estou respondendo a diversas questões levantadas no íntimo da consciência de alguns dos presentes, irmãos ainda não convencidos da realidade espírita, muito embora estejam tendendo a aceitar a existência de um plano diferente do material. Neste instante, pedem-me para esclarecer que nós do etéreo temos condições de penetrar no âmago dos pensamentos e dos sentimentos dos encarnados, desde que, porém, estes se manifestem favoráveis à sua revelação, o que se dá, particularmente, quando estão desejosos de verem suas questões resolvidas ou encaminhadas. Pedem-me também para avisar que somente os espíritos mais adiantados conseguem essa leitura na alma dos indivíduos, não se interessando, contudo, em conhecer os intuitos menos dignos das pessoas maldosas, uma vez que não teriam nada a ganhar com tal conhecimento. Cada pessoa nesta sala, como, de resto, em todo o mundo, possui seus segredos, seus mistérios, suas idiossincrasias. Alguns apresentam problemas na mente que eles mesmos não sabem, como no caso das pessoas que carregam consigo um passado infeliz mas que, na encarnação atual, se acham perfeitamente contentes consigo mesmas e com sua sorte material e espiritual. Há também certas doenças em estado de gestação, às vezes em vias de manifestar-se, as quais podem, conscientemente ou não da parte dos indivíduos que as estão portando, ser evitadas, através de atividades preventivas. O diagnóstico precoce é um ponto da ciência que está ainda restrito aos laboratórios de pesquisa, diferentemente do que temos nós aqui na erraticidade, porque podemos acompanhar o desenvolvimento ou o crescimento das dificuldades a que estou aludindo. Era o que eu tinha para dizer, agradecendo muito a sua atenção e as suas vibrações saudáveis e reconfortantes. Graças a Deus!

Juvenal entendeu que muitos daqueles conceitos foram emitidos como quem joga o verde para colher maduro. Todavia, algumas palavras lhe calaram profundamente, como se ditas com endereço certo. Se algum dia teve medo de que revelassem sua vida criminosa, porque desconfiava de que, em havendo seres invisíveis pertencentes a outro plano na cena dos acontecimentos, não precisariam mais do que analisar os atos das pessoas para conhecerem suas intenções e seu caráter, naquele momento se tranqüilizou, ciente de que os protetores não iriam permitir que seus médiuns ficassem expostos a possíveis represálias pela incontinência dos espíritos malignos que denunciassem crimes e criminosos.

Tais pensamentos remeteram-no a um rebuliço de lembranças ruins, exatamente aquelas que ele não gostaria de ver postas nos lábios dos médiuns, de forma que travou uma forte luta interior, como se o estivessem acusando de todos os seus malfeitos. Tão profundamente se deixou envolver que perdeu a noção do local e da hora, deixando escapar alguns gemidos, como quem delira.

O tio tentou trazê-lo à realidade, mas já Ricardo estava diante do rapaz, ministrando-lhe passes magnéticos, ao mesmo tempo que rogava aos guias da casa que ajudassem o moço a vencer o transe. De fato, em dois minutos, mais ou menos, a crise passou e Juvenal entrou em um sono calmo e revigorante.

Só acordou, totalmente alheio ao ambiente, quando as luzes foram acesas, após uma dezena de manifestações gravadas ou manuscritas.

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