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Contos-->Uma banana para Dalto -- 17/07/2003 - 12:28 (Clóvis Luz da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

De repente, alguém bate à porta dos irmãos Dani e Júnior.
- Vê quem é Júnior.
- Deve ser o companheiro de estudo.
- Sim...vai lá abrir.
- E aí, Júnior, vamos estudar, ou não?
- Não sei, não...Maurício, vai ter jogo do Brasil hoje. E logo contra a Argentina!
- Opa! Legal! Vamos ver o jogo?
- Pode ser...Tô cheio de estudos. Vocês acham que eu vou deixar de ver o jogo da seleção pra estudar literatura? Nem morto!
- Negativo! Temos que estudar. Júnior...muito me admira. Esse é o teu quinto vestibular...Te manca rapaz. Estuda direito, pra dar alegria pros nossos pais.
- Que isso, mana! Futebol é futebol...Principalmente se for a amarelinha. Se o Brasil ganhar hoje, vamos pra final.
- É Júnior, acho que a Dani tem razão. Futebol é a paixão nacional; mas o vestibular é amanhã, e literatura é muito importante.
- Espera aí Maurício...Nós estudamos o ano inteiro. Minha cabeça tá fervilhando de fórmulas, conceitos, isso e aquilo. Não dá pra gente esquecer um pouco os estudos e relaxar um pouco vendo o jogo?
- É mesmo...Por que devemos saber sobre escolas literárias, data de publicação, nome de autores, etc...Esse negócio de quinhentismo, arcadismo, é um saco!
- Alto lá! Vocês estão discriminando a literatura. Matemática, Física, até mesmo Português, você estudam sem reclamar. Passam horas quebrando a cabeça, fazem até viradas e mais viradas. Por que isso? E pra estudar um conto, é a maior dificuldade...
- Esse é o problema, Dani, a tal da leitura obrigatória. Obrigatória...Ora, se você é obrigado a fazer alguma coisa, não tem o mesmo prazer de quando você gosta de fazer. Vocês não se lembram do que disse o saudoso Ulisses...o Guimarães: “O segredo do sucesso é fazer do seu dever o seu prazer”?
- É verdade...É a mesma coisa com o voto obrigatório. Como posso ser obrigado a fazer algo que tem que ser um direito, uma conquista? Isso é coisa de país atrasado.
- O serviço militar... O cara é obrigado a se inscrever, ir pro mato comer galinha crua, ficar com os pés cheios de buraco de bicho, dormir na chuva...
- Espera aí, gente. Nós não estamos falando de voto, de serviço militar. Estamos falando de estudar literatura para a prova de amanhã. Pensem bem, amanhã é a prova mais importante, tem redação e literatura. Quem fizer uma prova ruim vai se dar mal....
- Num tô nem vendo...Sei que vou me dar bem em física e química. Se acertar uma só de literatura, tô dentro!
- Acho difícil, Maurício. Tu nem sabes dizer o que é um discurso direto, indireto ou livre.
- Ah! É? Diz então, sabichona, o que é um discurso direto?
- Discurso direto, abestado, é quando o personagem fala diretamente. Quando, por exemplo, o narrador de o Carteiro e o Poeta reproduz ou comenta o que Mário falou para Beatriz, esse é um discurso indireto. Mas quando é o próprio personagem Mário que fala, num diálogo qualquer, trata-se do discurso direto, entendeu?
- E qual é a importância de sabermos detalhes técnicos como esses? Do que vai me adiantar saber se o autor é onisciente, onipotente, onipresente? Quero ser engenheiro e não poeta...
- Quanta ignorância! Gostar de literatura não é só pra quem quer ser poeta ou escritor.
- Tudo bem. Até concordo com a Dani. O problema é que nós temos que saber um monte de detalhes que no futuro não vão nos servir para nada.
- O quê, por exemplo?
- Saber o que é uma estrofe, um verso branco, preto, escuro, um soneto, uma redondilha maior, menor, uma rima rara, pobre ou rica...essas coisas.
- Tá....Tá...Mas têm coisas que também são enfadonhas em qualquer área de conhecimento: as equações, os teoremas, as matrizes, as cadeias de DNA, e nem por isso, Maurício, tu achas um saco estudar física ou biologia.
- Eu só não gosto mesmo é de ser obrigado a estudar literatura. Ler tem que ser algo espontâneo e não uma obrigação. Eu leio jornal, revista, e mesmo livros, e não me sinto obrigado...
- Sim...querido. Ler jornal e revista quase todo mundo gosta de ler. E tu sabes que a maioria das pessoas gosta de ler o esporte, o crime, sobre a novela. As revistas então, quase todos querem só ler aquelas com fofocas da tv, etc...besteira.
- Nisso a Dani tem razão...O papai, por exemplo, vai direto na página policial. Depois, pro esporte; só quando já leu tudo sobre o seu time e sobre quantos morreram no final de semana e que ele lê alguma coisa sobre política, as guerra no mundo, etc.
- Vocês estão esquecendo de um detalhe. Nós moramos em um país em que a leitura nunca foi prioridade nas escolas, muito menos nos lares. Quantos de nós aqui, quando estudávamos no primeiro grau, fomos incentivados por nossas professoras ou mesmo por nossos pais a ler?
- Realmente, Dani, creio que nossa falta de vontade de ler vem muito desse fato. Tenho quase absoluta certeza que todos nós aqui aprendemos a ler meio que na marra, lendo gibis, fotonovelas...
- Ah! Ah! Ah! Fotonovelas? Não acredito, Maurício...Logo tu que dás uma de machão, lendo fotonovela?
- Qual o problema, Dani? Conheço muitos que leram fotonovelas e não há nenhuma dúvida de que são machos! Aliás, isso é puro preconceito de tua parte. Quer dizer que ver novela hoje, assim como ler fotonovelas, é coisa pra mulher ou afeminados?
- Desculpas, Maurício, não quis ser politicamente incorreta. É que achei engraçado tu falares que lias fotonovelas...só isso.
- Até porque, queridinha, ler não é sinônimo, apenas, de pegar um texto escrito e passar os olhos em cima. Posso até não gostar de literatura, mas isso não me impede de saber que a leitura é a interpretação que fazemos dos fatos, das coisas da vida. Eu posso ler o mundo vendo televisão, vendo novelas, lendo gibi, ouvindo música, analisando uma tela de Picasso, conversando com os amigos, e, também, nos livros, nos jornais e nas revistas.
- Ok. Tu estás coberto de razão. Contudo, quero fazer uma defesa do livro. O livro, como vocês sabem, é uma das maiores invenções da humanidade. Por quê? Ora, porque nos livros nós temos os registros das experiências humanas em todos os tempos. Como sabemos das descobertas que mudaram a História? Pelos livros. Como sabemos da origem dos homens? Pelo Livro Sagrado. Como sabemos dos grandes feitos heróicos? Pelos livros. Como sabemos dos grandes romances? Pelos livros. É nos livros, nos textos escritos, que nós registramos nossas experiência humanas. Quem aqui tem um diário? Eu tenho o meu. Nele, a cada dia, eu deixo registrado tudo o que de importante aconteceu comigo. Minhas alegrias, tristezas, das menores às maiores...tudo.
- E os computadores? Tudo isso que tu estás afirmando sobre os livros pode ser estendido ao computador. Na internet eu sei de todas essas coisas. Não preciso ler em um livro.
- É diferente, Júnior. Em primeiro lugar, as informações que temos na internet são extraídas de onde? De textos escritos, não é verdade? Há livros inteiros disponíveis na net.
E mesmo que haja quem digite seus textos, jamais aquele modo de escrever deixará de existir, porque nem todos têm, nem nunca terão, acesso a um computador. E o prazer de ler um livro é muito maior, não depende de energia elétrica, de softwares, disco rígido, impressora...Aliás, quando queremos uma informação e a retiramos da internet, nós a imprimimos, não é mesmo? Ou seja, o texto escrito continua sendo a fonte principal de conhecimento e informação.
- De fato, Dani, eu não tinha pensado nesse detalhe.
- Bem, de tudo o que a Dani falou o que eu posso concluir é que a literatura se manifesta de varias maneiras, em variados veículos. Do alto da minha leiguice, creio que a literatura é a expressão daquilo que incomoda o homem, certo, Dani? Digamos que a novela da rede globo seja uma espécie de literatura. Mas é da mesma qualidade, tem os mesmos objetivos e alcança as mesmas pessoas que um poema de Pablo Neruda, de Olavo Bilac, um conto de Dalton Trevisan?
- Minha resposta a essa tua pergunta, Maurício, é não. Nós vivemos em uma sociedade complexa. As pessoas têm interesses distintos, às vezes conflitantes. E os autores são pessoas também. Quando escreveu o texto de “Mulheres Apaixonadas” Manoel Carlos tinha exatamente os mesmos objetivos de Dalton Trevisan quando escreveu “Uma vela para Dario”? Aliás, é esse o conto que devemos estudar.
- Sabe, minha cara colega, o que eu posso te responder, é que dentre outros interesses, o escritor tem o de sobreviver. Ele precisa comer, beber, vestir, comprar remédio, etc. Então, seja ele autor de uma manual médico, de um código penal e de um grande romance, certamente ele será influenciado por fatores que determinam uma boa aceitação de seu livro. Se não, como ele vai vender?
- Tudo bem, Maurício...Sei que há esse interesse. Mas há uma enorme diferença entre um manual de medicina, um código penal e um romance. Nenhum médico ou advogado, ao escrever um livro, expressa opiniões, conceitos e até mesmo ideologias naquilo escreve. Eles têm uma certa margem de lirismo, contudo não podem fugir de alguns limites que sua própria Ciência lhes impõe. O médico jamais dirá, no seu manual, que o serviço público de saúde no Brasil está falido; assim como o jurista não dirá que o sistema judiciário em nosso país favorece os ricos e prejudica os pobres. Já um escritor tem total liberdade de expressar sua indignação com o estado das coisas no mundo. E essa é toda a importância da literatura. Pela leitura nós podemos mudar nossa opinião sobre muitas coisas. Claro, pra melhor ou pra pior. Creio, porém, que quem lê muito tem amplas condições de ser mais consciente nas suas ações e responsáveis por elas. Vocês não conhecem o slogan: “Quem sabe mais pode mais?” Pois, é...e é pela leitura que nós podemos saber mais.
- Mana, tem também aquele comercial da tv: “Quem lê viaja”, não é?
- Exatamente Júnior.
- Pessoal, já vai começar o jogo. E aí, vamos ler o conto ou vamos dar o conto na leitura?
- Vamos ver...
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