Andou espalhado por aí um outdoor eruditíssimo, descoladíssimo em seu cinismo. É clara, apesar de difusa, a referência ao cinema novo, a Glauber Rocha: "Um bacalhau na mão e uma receita na cabeça".
Concluo: só come bacalhau o pessoal do andar de cima, como diria o Elio Gaspari, capaz de (ainda?) decodificar humor tão (pouco) refinado.
Mas o texto, subliminarmente também, e até por contigüidade, acena para o andar de baixo (falo dos que, antigamente, não eram tão de baixo, e que ainda guardam a memória dessas iguarias midiáticas), sem citar, citando Abelardo Barbosa, o Chacrinha, com um dos seus gritos de guerra:
"vocês querem bacalhau?".
Nessa época, inclusive, muitos de nós nos dedicávamos a um hobby interessantíssimo: decodificar mensagens publicitárias. E isso era assunto até para livros de comunicação & expressão.
Hoje, tenho a impressão de que já nos resignamos a passar batido por quase tudo. Como a jornalista de "O Dia", em seu breve, duvidoso, prepotente, desinformado, talvez maldoso, mas também esclarecedor comentário sobre o usina (ela capta muito bem, por exemplo, a questão dos patrocínios; confiram), teremos de reaprender a atenção para com o mundo, mas, principalmente, para com o idioma que escrevemos.
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