O TEMPO
J.B.Xaver
Aos poucos
O Tempo vai marcando
Com linhas incisivas em meu rosto
Os caminhos que percorre...
Ele já não anda, corre,
Ávido por levar o que me resta...
Vincos na testa...
Aos poucos
Vou perdendo essa batalha...
A afiada navalha
Corta fundo minha pele,
E me atrai
Enquanto me repele.
No louco remoinho da vida...
Há instantes,
Há eternidades,
Feridas
Ainda não cicatrizadas,
Lágrimas ainda não roladas,
Alegrias por acontecer...
Há um viver nas flores do caminho,
Um morrer a cada momento...
Há um lamento
Pelo que não fiz,
Uma esperança no ar,
Um troar
De assustadoras tempestades...
Há verdades rarefeitas,
Há mentiras, há suspeitas,
Há coisas por construir,
Coisas desfeitas,
E há o inexorável caminhar do Tempo
Passando com seu infernal cortejo
Que decidi não enxergar
Mas sempre o vejo
Dia a dia mais próximo de mim,
Rindo sim,
Do desespero que me assalta,
Do amor que me faz falta,
Dos meus gostos e desgostos...
Rio-me também dele, por que não?
Mas para que eu nunca o esqueça,
Vai deixando marcas em meu rosto...
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